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Crítica - Fotografia

Mostra no MIS une glamour ao submundo

Exposição traz fotos de Larry Clark com jovens consumindo drogas, e imagens cheias de beleza de Ralph Gibson

O EXERCÍCIO QUE A CURADORIA ACABA PROPONDO É QUE AMBOS FAZEM PARTE DE UM SÓ SISTEMA. POR ISSO, TORNAM-SE COMPLEMENTARES

FABIO CYPRIANO CRÍTICO DA FOLHA

Em 1970, sem um mercado de fotografias consistente e mesmo livros dedicados a esse suporte, Ralph Gibson lançou a editora Lustrum Press. A primeira obra foi de sua própria autoria, "The Sonnambulist" (o sonâmbulo).

O sucesso editorial permitiu que ele lançasse outros livros de fotografia, entre eles o polêmico "Tulsa", de seu amigo Larry Clark, sobre adolescentes em meio a sexo, drogas e tédio. A publicação se tornou o retrato de uma geração conturbada.

Por conta dessa relação, a curadora Nessia Leonzine apresenta no Museu da Imagem e Som (MIS), a mostra "Ralph Gibson & Larry Clark, Amizade, Fotos e Livros", já que Gibson tem grande responsabilidade no lançamento da carreira de Clark.

São trabalhos muito distintos, praticamente opostos. De um lado, Gibson revela uma América com estilo, no registro de cabelos engomados de forma perfeita, poses glamorosas e eróticas. Assim é, afinal, sua mais conhecida foto: a da garota que passa uma pena em suas nádegas.

São fotos com grande preocupação formal, sem grande envolvimento, nas quais o fotógrafo parece captar as imagens ao acaso

TRISTE IMAGEM

Por outro lado, Clark é visto em sua série visceral "Tulsa", pela primeira vez no Brasil apresentada na íntegra --Inhotim (MG) tem parte da coleção, que já esteve antes em exibição.

O fotógrafo registrou com intimidade o cotidiano de adolescentes que fazem sexo e se drogam de maneira livre, como retratou em seus filmes "Kids", de 1995, e "Ken Park", de 2002, ambos parte de um ciclo da cinematografia completa de Clark ao longo da mostra no MIS.

Hoje, essas imagens, captadas nos anos 1960 e 1970, já não deveriam chocar mais. O consumo de drogas por adolescentes é visível nas ruas de São Paulo e a perda da inocência, um dos temas fundamentais de Larry Clark, já se tornou uma triste imagem de rotina nas grandes metrópoles.

Contudo, ao aproximar um universo de glamour a um submundo nem tão agradável, o exercício que a curadoria acaba propondo é que ambos fazem parte de um só sistema. Por isso, Gibson e Clark tornam-se complementares.

Sem juízo de valor, são retratos de uma sociedade que valoriza por demais a aparência e, ao mesmo tempo, tem espaço em seu subterrâneo --naquela época entre quatro paredes--, para os que não concordam com tanta perfeição.


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