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Construtoras financiaram mais da metade do Congresso
"Aqui tem o partido das empreiteiras, muita gente tem o rabo preso", diz deputado
Vínculo das empresas com parlamentares é o principal entrave para a criação de CPI que poderia investigar o lobby do setor em Brasília
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As empreiteiras investiram
alto nas últimas eleições, financiaram campanhas vitoriosas
de metade do Congresso Nacional e escolheram a dedo parlamentares de grandes partidos,
com influência nas bancadas e
assento nas comissões por onde fluem recursos para obras.
Agora, o Congresso está no
meio de um embate para decidir se haverá ou não a CPI da
Navalha para investigar a relação de empreiteiras com o poder público depois que a Polícia
Federal investigou um esquema em fraude de licitações que
seria comandado por uma empreiteira, a Gautama.
Levantamento feito pela Folha no TSE (Tribunal Superior
Eleitoral) aponta que 54,7% do
Congresso recebeu alguma
quantia de empresas do setor.
Oficialmente, as construtoras injetaram R$ 27 milhões diretamente nas campanhas. Outro montante foi transferido
para o caixa dos partidos. As
empresas bancaram 285 dos
513 deputados (55,5% da Casa)
e 40 dos 81 senadores (49,3%).
No caso do Senado, o levantamento também contabilizou os
eleitos em 2002, cujos mandatos estão em curso.
Segundo deputados que tentam recolher assinaturas para a
CPI, esse vínculo é o principal
entrave para investigar o lobby
do setor em Brasília. "Aqui tem
o partido das empreiteiras,
muita gente tem o rabo preso",
disse o deputado Chico Alencar
(PSOL-RJ), um dos que encabeçam a mobilização pela CPI.
Da lista de parlamentares
que ganharam recursos do setor, 40% têm cadeira na Comissão de Transportes da Câmara
e 37% na de Infra-Estrutura do
Senado. Os congressistas podem direcionar verbas federais
para obras por meio de emendas ao Orçamento da União.
Ex-governador do Distrito
Federal, o senador Joaquim
Roriz (PMDB-DF) foi o campeão em arrecadação de recursos de construtoras: R$ 1 milhão, valor doado pela JM Terraplanagem (R$ 700 mil) e pela
Torc Terraplanagem (R$ 300
mil), o que representa 62% da
receita total de sua campanha.
Durante a gestão de Roriz, a
JM Terraplanagem executou
obras na DF-190, que liga a cidade goiana de Santo Antonio
do Descoberto a Ceilândia, no
valor de R$ 7,1 milhões. Roriz
atua na Comissão de Infra-Estrutura do Senado. Ele afirmou,
por meio de sua assessoria, que
as doações se devem ao seu perfil de "tocador de obras" e, por
isso, considera natural receber
recursos desse setor.
O senador Eliseu Resende
(DEM-MG), ex-ministro da Fazenda, captou R$ 567 mil. Ele
também integra a Comissão de
Infra-Estrutura.
Na Câmara, quem mais teve
ajuda de empreiteiras foi a deputada Janete Pietá (PT-SP),
com R$ 547 mil. Ela é mulher
do prefeito de Guarulhos, Elói
Pietá (PT). Uma das doadoras
foi a Camargo Correa (R$ 200
mil), que, no ano passado, ganhou concorrência de R$ 31,8
milhões para executar obras de
um complexo viário em Guarulhos. A OAS, que doou R$ 100
mil para a deputada, também
realiza obras na mesma cidade.
"Todas as doações que recebi
tiveram como base meu programa de trabalho. Ninguém
jamais exigiu favores ou contrapartidas", afirmou a deputada. "Não tenho nada a ver com
os negócios que essas empresas
mantêm na esfera privada ou
pública", disse Janete.
A lista dos maiores beneficiados por recursos de empreiteiras na eleição é seleta. Figuram
o atual presidente da Câmara,
Arlindo Chinaglia (PT-SP), que
na época da eleição era líder do
governo na Câmara, e o então
presidente da Casa, Aldo Rebelo (PC do B-SP).
Chinaglia, que recebeu R$
395 mil do setor, afirmou por
meio de sua assessoria que "as
doações foram dentro da lei e a
prestação de contas é pública".
Aldo arrecadou R$ 315 mil.
Outros "escolhidos" pelas
construtoras foram o ex-ministro Antonio Palocci (PT-SP),
R$ 325 mil; Jader Barbalho
(PMDB-PA), R$ 322 mil; o primeiro-vice-presidente da Câmara, Nárcio Rodrigues
(PSDB-MG), R$ 285 mil; e o
presidente do PT, Ricardo Berzoini (PT-SP), R$ 248 mil.
Os parlamentares do PT foram os que mais receberam recursos: R$ 4,6 milhões. Na seqüência, os peemedebistas juntaram R$ R$ 4,5 milhões, enquanto os tucanos arrecadaram R$ 4,3 milhões. As principais doadoras -em repasses diretos- para congressistas eleitos foram a Camargo Corrêa
(R$ 2,4 milhões), a Construtora
OAS (R$ 1,7 milhão) e a Barbosa Mello (R$ 1,1 milhão).
Procuradas pela Folha, as
empresas Camargo Corrêa,
Odebrecht, Barbosa Mello,
Construtora OAS e JM Terraplanagem não quiseram se manifestar sobre as doações.
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