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Dizendo-se "soldado" do presidenciável, petista sabe que triunfo federal influenciaria disputa estadual
Desempenho de Lula dita futuro de Genoino
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meados do ano passado, ao
colocar suas condições para concorrer à Presidência pela quarta
vez consecutiva, Luiz Inácio Lula
da Silva incluiu entre elas a garantia de que o deputado federal José
Genoino, 56, fosse o candidato do
partido ao governo de São Paulo.
O parlamentar topou entrar na
disputa, e hoje, quando os primeiros votos começarem a ser divulgados, o pacto estará reforçado:
Genoino dedicará à apuração do
pleito nacional tanta ou até mais
atenção que a disputa local, pois
sabe que, ganhando ou perdendo,
seu futuro depende substancialmente do desempenho de Lula.
"Desde 98 que companheiros
do PT sugeriam que eu fosse candidato. Eu jamais disputaria o governo do Estado sem uma conversa preliminar com o Lula. Eu
disse a ele: a sua candidatura é
prioritária e fundamental, e eu
sou um soldado dela, como candidato a deputado, senador ou
governador", disse Genoino.
Uma vitória do presidenciável
no primeiro turno, aliada à passagem de Genoino à segunda etapa
da disputa, é o cenário dos sonhos
dos petistas, já que, na avaliação
deles, diminuiria os obstáculos
para o Palácio dos Bandeirantes.
"O fator Lula será decisivo para
ampliar nosso arco de alianças
[num eventual segundo turno".
Com o Lula presidente, muitos
vão entender a importância de se
ter um governo estadual em harmonia com o governo federal",
aposta José Machado, prefeito de
Piracicaba e coordenador do programa de governo de Genoino.
Ciente da importância da "dobradinha", o PT orientou todas as
suas lideranças, Lula incluído, a
dedicar a maior parte de seus discursos para pedir votos a Genoino
-e foi isso que se viu nos últimos
atos públicos do partido.
Caso Genoino não atinja o segundo turno, sua situação também estará condicionada à eleição
nacional. Um triunfo de Lula deve
lhe garantir uma vaga no primeiro escalação do Palácio do Planalto a partir de janeiro próximo.
Nenhum petista diz abertamente, mas fala-se nos bastidores do
partido que Genoino é um nome
de consenso para assumir o Ministério da Defesa, principalmente por ter um bom trânsito entre
os militares. Outra possibilidade
seria o Ministério da Justiça.
Haveria ainda outra saída dentro do próprio PT. Com José Dirceu no papel de homem-forte de
um eventual governo Lula, Genoino, o primeiro vice-presidente
da legenda, assumiria a presidência nacional do partido.
Derrotas petistas nos âmbitos
paulista e nacional o deixariam
sem função de relevância nacional no mínimo até 2007, contando
que Marta Suplicy deve concorrer
à reeleição da Prefeitura de São
Paulo. Um consolo seria assumir
uma secretaria na própria administração paulistana.
Mas Genoino não gosta de comentar as suposições políticas para o futuro. Para ele, a passagem
do PT ao segundo turno em São
Paulo é uma "certeza", justificada
pela "força da militância petista".
Alianças
Dentro ou fora do segundo turno, Genoino precisará como nunca da habilidade política que marcou sua atuação nos 20 anos que
acumula na Câmara.
Enquanto vêem Paulo Maluf
(PPB) fazer alarde em torno de
uma "frente anti-tucana", insinuando uma aproximação com o
PT, os dirigentes do partido repelem essa possibilidade, a começar
do próprio Genoino.
"O Maluf é nosso adversário
histórico, e a população de São
Paulo sabe que a relação entre o
PT e o Maluf é como água e óleo. É
impossível apoiá-lo ou receber
seu apoio", afirmou o candidato.
Depois de ter declarado apoio
aos tucanos nos segundos turnos
das eleições de 1994 e 1998, quando Mário Covas foi eleito e reeleito, respectivamente, os petistas
avaliam que um terceiro auxílio
ao PSDB é "improvável", mesmo
reconhecendo que Alckmin é
mais "palatável".
Para eles, as mortes de Franco
Montoro, em 1999, e de Mário Covas, em 2001, romperam os últimos elos de entendimento entre
petistas e tucanos. Hoje, a acirrada disputa entre os partidos pelas
principais prefeituras do Estado e
o discurso mais conservador de
Alckmin desobrigam Genoino a
declarar voto no tucano.
Um eventual segundo turno entre Lula e José Serra (PSDB) na
corrida ao Planalto seria mais um
fator de inviabilização desse acordo. Fora da segunda etapa do pleito, o provável é que o partido libere os votos de sua militância.
"Eu sempre tive uma relação de
respeito pessoal pelo Mário Covas. Eu acho que hoje o PSDB praticamente não tem interlocutores
na relação com o PT, e nós disputamos um projeto diferente do
PSDB, antagônico a eles", declarou Genoino.
Embora rejeite apoio formal a
Alckmin ou Maluf, o PT evitará se
postar contrário a um ou a outro,
para ter condições de negociar
apoio das bancadas do PSDB e do
PPB no Congresso em um eventual governo Lula.
Num cenário de Genoino contra Alckmin, os petistas já acenam
com os apoios de PL, PSB e PDT,
além de setores de PMDB, PPS e
PTB, encabeçado por Antonio
Cabrera, candidato ao governo
pela legenda. Caso enfrente Maluf, Genoino contaria com o suporte dessas legendas (exceto o
PL) e veria um racha entre tucanos e pefelistas.
De acordo com o presidente estadual do PT, Paulo Frateschi, a
ratificação da candidatura de Genoino ao governo paulista foi
além de um pedido de Lula. "Nós
sabíamos que havia um espaço
para lutar de fato pelo governo.
Em nenhum momento, entramos
para uma aventura."
Ciente da necessidade de crescer dentro do maior colégio eleitoral do país, Frateschi lembra de
um momento "crítico" da campanha, ocorrido no final de agosto.
"Estávamos num mau momento por causa da polarização [entre
Alckmin e Maluf". Tinha de haver
uma mudança de rumo na campanha, e a questão era se iríamos
crescer ou não", disse Frateschi.
A partir disso, Genoino passou
a criticar em seus programas eleitorais de rádio e TV os oito anos
de administração tucana no Estado. As críticas a Maluf permaneceram no campo de discursos e
carreatas, uma falha reconhecida
pelos próprios dirigentes petistas.
À época, Genoino estava estagnado na casa dos dez pontos percentuais nas pesquisas, distante de
seus principais adversários.
Segundo os petistas, três coisas
o fizeram subir nas pesquisas e
quebrar a polarização entre o tucano e pepebista: a vinculação excessiva de sua imagem com a de
Lula, a participação na campanha
dos 39 prefeitos petistas em todo
o Estado e a mobilização de todos
os candidatos proporcionais da
coligação "São Paulo quer Mudança" (PT-PC do B-PCB).
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