São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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Dizendo-se "soldado" do presidenciável, petista sabe que triunfo federal influenciaria disputa estadual

Desempenho de Lula dita futuro de Genoino

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meados do ano passado, ao colocar suas condições para concorrer à Presidência pela quarta vez consecutiva, Luiz Inácio Lula da Silva incluiu entre elas a garantia de que o deputado federal José Genoino, 56, fosse o candidato do partido ao governo de São Paulo.
O parlamentar topou entrar na disputa, e hoje, quando os primeiros votos começarem a ser divulgados, o pacto estará reforçado: Genoino dedicará à apuração do pleito nacional tanta ou até mais atenção que a disputa local, pois sabe que, ganhando ou perdendo, seu futuro depende substancialmente do desempenho de Lula.
"Desde 98 que companheiros do PT sugeriam que eu fosse candidato. Eu jamais disputaria o governo do Estado sem uma conversa preliminar com o Lula. Eu disse a ele: a sua candidatura é prioritária e fundamental, e eu sou um soldado dela, como candidato a deputado, senador ou governador", disse Genoino.
Uma vitória do presidenciável no primeiro turno, aliada à passagem de Genoino à segunda etapa da disputa, é o cenário dos sonhos dos petistas, já que, na avaliação deles, diminuiria os obstáculos para o Palácio dos Bandeirantes.
"O fator Lula será decisivo para ampliar nosso arco de alianças [num eventual segundo turno". Com o Lula presidente, muitos vão entender a importância de se ter um governo estadual em harmonia com o governo federal", aposta José Machado, prefeito de Piracicaba e coordenador do programa de governo de Genoino.
Ciente da importância da "dobradinha", o PT orientou todas as suas lideranças, Lula incluído, a dedicar a maior parte de seus discursos para pedir votos a Genoino -e foi isso que se viu nos últimos atos públicos do partido.
Caso Genoino não atinja o segundo turno, sua situação também estará condicionada à eleição nacional. Um triunfo de Lula deve lhe garantir uma vaga no primeiro escalação do Palácio do Planalto a partir de janeiro próximo.
Nenhum petista diz abertamente, mas fala-se nos bastidores do partido que Genoino é um nome de consenso para assumir o Ministério da Defesa, principalmente por ter um bom trânsito entre os militares. Outra possibilidade seria o Ministério da Justiça.
Haveria ainda outra saída dentro do próprio PT. Com José Dirceu no papel de homem-forte de um eventual governo Lula, Genoino, o primeiro vice-presidente da legenda, assumiria a presidência nacional do partido.
Derrotas petistas nos âmbitos paulista e nacional o deixariam sem função de relevância nacional no mínimo até 2007, contando que Marta Suplicy deve concorrer à reeleição da Prefeitura de São Paulo. Um consolo seria assumir uma secretaria na própria administração paulistana.
Mas Genoino não gosta de comentar as suposições políticas para o futuro. Para ele, a passagem do PT ao segundo turno em São Paulo é uma "certeza", justificada pela "força da militância petista".

Alianças
Dentro ou fora do segundo turno, Genoino precisará como nunca da habilidade política que marcou sua atuação nos 20 anos que acumula na Câmara.
Enquanto vêem Paulo Maluf (PPB) fazer alarde em torno de uma "frente anti-tucana", insinuando uma aproximação com o PT, os dirigentes do partido repelem essa possibilidade, a começar do próprio Genoino.
"O Maluf é nosso adversário histórico, e a população de São Paulo sabe que a relação entre o PT e o Maluf é como água e óleo. É impossível apoiá-lo ou receber seu apoio", afirmou o candidato.
Depois de ter declarado apoio aos tucanos nos segundos turnos das eleições de 1994 e 1998, quando Mário Covas foi eleito e reeleito, respectivamente, os petistas avaliam que um terceiro auxílio ao PSDB é "improvável", mesmo reconhecendo que Alckmin é mais "palatável".
Para eles, as mortes de Franco Montoro, em 1999, e de Mário Covas, em 2001, romperam os últimos elos de entendimento entre petistas e tucanos. Hoje, a acirrada disputa entre os partidos pelas principais prefeituras do Estado e o discurso mais conservador de Alckmin desobrigam Genoino a declarar voto no tucano.
Um eventual segundo turno entre Lula e José Serra (PSDB) na corrida ao Planalto seria mais um fator de inviabilização desse acordo. Fora da segunda etapa do pleito, o provável é que o partido libere os votos de sua militância.
"Eu sempre tive uma relação de respeito pessoal pelo Mário Covas. Eu acho que hoje o PSDB praticamente não tem interlocutores na relação com o PT, e nós disputamos um projeto diferente do PSDB, antagônico a eles", declarou Genoino.
Embora rejeite apoio formal a Alckmin ou Maluf, o PT evitará se postar contrário a um ou a outro, para ter condições de negociar apoio das bancadas do PSDB e do PPB no Congresso em um eventual governo Lula.
Num cenário de Genoino contra Alckmin, os petistas já acenam com os apoios de PL, PSB e PDT, além de setores de PMDB, PPS e PTB, encabeçado por Antonio Cabrera, candidato ao governo pela legenda. Caso enfrente Maluf, Genoino contaria com o suporte dessas legendas (exceto o PL) e veria um racha entre tucanos e pefelistas.
De acordo com o presidente estadual do PT, Paulo Frateschi, a ratificação da candidatura de Genoino ao governo paulista foi além de um pedido de Lula. "Nós sabíamos que havia um espaço para lutar de fato pelo governo. Em nenhum momento, entramos para uma aventura."
Ciente da necessidade de crescer dentro do maior colégio eleitoral do país, Frateschi lembra de um momento "crítico" da campanha, ocorrido no final de agosto.
"Estávamos num mau momento por causa da polarização [entre Alckmin e Maluf". Tinha de haver uma mudança de rumo na campanha, e a questão era se iríamos crescer ou não", disse Frateschi.
A partir disso, Genoino passou a criticar em seus programas eleitorais de rádio e TV os oito anos de administração tucana no Estado. As críticas a Maluf permaneceram no campo de discursos e carreatas, uma falha reconhecida pelos próprios dirigentes petistas. À época, Genoino estava estagnado na casa dos dez pontos percentuais nas pesquisas, distante de seus principais adversários.
Segundo os petistas, três coisas o fizeram subir nas pesquisas e quebrar a polarização entre o tucano e pepebista: a vinculação excessiva de sua imagem com a de Lula, a participação na campanha dos 39 prefeitos petistas em todo o Estado e a mobilização de todos os candidatos proporcionais da coligação "São Paulo quer Mudança" (PT-PC do B-PCB).



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