São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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MARANHÃO

Coronel ligado a candidato da família Sarney é suspeito de levar dinheiro para a compra de votos

PF prende militar com R$ 371 mil

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A SÃO LUÍS

A Polícia Federal prendeu ontem, em flagrante, no aeroporto de São Luís, o coronel de reserva do Exército Orlando Lima Pantoja, no momento em que ele iria embarcar em um avião fretado, levando R$ 371 mil em dinheiro a Imperatriz (MA). Orlando Pantoja é cunhado do chefe de gabinete do governador José Reinaldo Tavares (PFL), que disputa a reeleição com apoio da família Sarney.
José Reinaldo Tavares foi ministro dos Transportes de 1986 a 1990, no governo de José Sarney (PMDB). Em 1990, elegeu-se deputado federal pelo PFL. Em 1994 e em 1998, foi eleito vice-governador na chapa de Roseana Sarney.
Pantoja vai responder a inquérito por suspeita de crime eleitoral. Segundo o superintendente da PF no Estado, Augusto Serra Pinto, ele foi preso com base no art. 299 do Código Eleitoral (oferecer vantagem em troca de votos), que prevê até cinco anos de prisão. Pantoja, disse ele, recusou-se a informar a origem e a destinação do dinheiro, alegando que só falaria em juízo, e ficará preso no 24º Batalhão de Caçadores, do Exército. Serra Pinto disse ver evidências suficientes de que o dinheiro seria usado na compra de votos.
O gerente da empresa de táxi aéreo dona do monomotor, a FAN, que levaria o coronel a Imperatriz, José Joaquim Carvalho Nina, depôs e disse que o aluguel do avião foi encomendado pelo assessor do gabinete militar do governador, major Santos.
Segundo Serra Pinto, os R$ 371 mil (5.424 notas de R$ 50,00 e 998 notas de R$ 100,00) estavam em duas caixas de papelão e em um envelope pardo. O envelope estava endereçado a "Roque Neto" e "Rocha Neto" enquanto as caixas deveriam ser entregues a uma mulher de nome "Vandira". Junto com os nomes, estavam anotados os celulares dos destinatários.
Roque Neto informou ser o coordenador da campanha de Reinaldo Tavares em Açailândia. Rocha Neto seria o gerente regional Pedro Dantas Rocha Neto, representante do governo do Estado em Açailândia e ex-secretário da Indústria e Comércio de Roseana. A Folha não conseguiu falar com ele, porque o telefone celular estava fora de área. Vandira Peixoto é assessora do senador José Sarney em Brasília e coordenadora da coligação "O Maranhão segue em Frente" em Imperatriz.
O superintendente da PF disse não ver outro motivo para o transporte de dinheiro que não a compra de votos: "Estamos em período eleitoral. A apreensão de cédulas de R$ 50,00 e de R$ 100,00, no final da campanha, para mim, só é para a compra de votos. Não tem outra finalidade. Mas quem vai analisar o processo é o juiz".
A prisão de Pantoja resultou de uma operação iniciada na noite de sexta-feira. Os deputados federais Neiva Moreira (PDT) e Roberto Rocha (PSDB) e o deputado estadual Aderson Lago (PDT) procuraram o procurador eleitoral, Nicolao Dino Costa Neto, com informações de que um avião estaria fazendo "vôos suspeitos" no interior e deixando pacotes com dinheiro para compra de votos.
O procurador mandou que rumassem para a sede do Ministério Público Federal para oficializarem a denúncia e convocou o superintendente da PF. Com o prefixo do avião, fornecido pelos deputados, a PF teve acesso ao plano de vôo do monomotor e descobriu que ele tinha um embarque previsto no início da manhã. Com base nisso, foi montado o flagrante. O superintendente e 25 agentes da PF passaram a noite em claro. Às 6h15, o coronel foi preso com o dinheiro ainda na mala do carro.
O piloto do avião e o gerente da empresa contaram que o mesmo monomotor levou o coronel Orlando Pantoja a três cidades no interior do Maranhão, na sexta-feira. O avião saiu de São Luís, às 14h20, e fez pousos rápidos nas cidades de Codó e em Caxias. Em seguida, foi a Teresina (PI) para reabastecer e depois fez um terceiro pouso, em Pastos Bons.



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