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500 ANOS
Empresa suspeita que os gastos com eventos comemorativos do Descobrimento do Brasil foram superfaturados
Embratur suspende contratos de R$ 4,5 mi
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Embratur decidiu suspender
o pagamento de R$ 4,47 milhões,
relativos a gastos com eventos comemorativos dos 500 anos do
Descobrimento do Brasil, por
suspeitar que os valores são superfaturados.
Os contratos foram assinados à
época em que o ministro do Esporte e Turismo era Rafael Greca,
demitido no final de abril e que
reassumiu a função de deputado
federal pelo PFL.
Todos os contratos estão sendo
auditados, mas em pelo menos
um já há veredicto -a Embratur
diz que não pagará R$ 364.135,20
para os organizadores do evento
"Com Jesus São Outros 500", realizado na Esplanada dos Ministérios em Brasília no dia 29 de abril.
O encontro foi organizado por
evangélicos.
"Não é justo dar dinheiro para
evangélicos e não dar para espíritas, budistas ou adeptos do candomblé", afirma Wilson Teixeira
Soares, assessor da presidência da
Embratur.
Segundo uma avaliação da Embratur realizada a partir de fotos,
cerca de 2.000 pessoas participaram do evento "Com Jesus São
Outros 500".
Show
Não havia nada no encontro
que justificasse o pagamento de
R$ 364.135,20 -e por isso o pagamento foi cancelado.
Um show realizado no estádio
do Maracanã, chamado "Canta
Brasil 500", reuniu cerca de 100
mil pessoas e custou menos do
que a metade do "Com Jesus São
Outros 500" -R$ 156 mil.
Mesmo assim, os gastos no Maracanã estão sendo auditados.
Vilarindo Lima, presidente do
Conselho de Igreja e Pastores de
Brasília e pastor da igreja Batista,
diz que a Defesa Civil do Distrito
Federal estimou que havia 82 mil
pessoas no encontro.
"Só fizemos o evento porque a
Embratur disse que iria pagá-lo.
Se não houvesse o patrocínio, não
faríamos o encontro", declarou o
pastor Lima.
Segundo ele, o patrocínio foi
acertado com o então ministro
Rafael Greca.
"Para a Igreja Católica deram
tudo e para nós não querem dar
nada", critica.
A Igreja Católica, porém, não
recebeu recursos da Embratur para os festejos dos 500 anos, segundo a assessoria da empresa.
Livro
Outro contrato que foi cancelado refere-se à edição do livro
"Guarakessaba", sobre a área de
preservação ambiental Guaraqueçaba, que fica no norte do Paraná, Estado do ex-ministro Greca. Os 5.000 exemplares do livro
de 144 páginas custariam R$
150.371,10. O deputado federal
Rafael Greca (PFL-PR) diz que
não foi ele quem sugeriu a reimpressão do livro, mas a comissão
encarregada de organizar a festa
dos 500 anos.
"Lamento que haja o corte. O
mundo perderá um belo livro",
afirmou Greca, por meio de sua
assessoria.
A lista de contratos sob suspeita
inclui 100 mil CDs com músicas
de Villa-Lobos e poemas de Jorge
de Lima e de Mário de Andrade,
declamados pela atriz Fernanda
Montenegro. Eles foram orçados
em R$ 592.920,00.
Os CDs, produzidos pela empresa Dell'Arte, deveriam ser distribuídos em Portugal, encartados no jornal "Diário de Notícias", segundo a Embratur.
Mas os CDs não deram entrada
no almoxarifado da empresa em
Brasília nem foram distribuídos
em Portugal, diz a empresa.
O documentário sobre a festa
dos 500 anos em Porto Seguro,
feito pela produtora de Luiz Carlos Barreto, também está na lista
de suspeitos, como foi revelado
pela colunista Mônica Bergamo,
da Folha, no último mês.
O documentário (de 20 minutos) e mais sete horas de imagens
do Brasil custaram R$ 472.140,00.
O evento mais caro do pacote,
uma série de concertos e espetáculos de dança e teatro que percorreria dez pólos culturais da Europa e da América Latina, está
cancelado. O evento custaria R$
2,32 milhões.
Na avaliação da Embratur, os
concertos deveriam ser pagos pelo Ministério da Cultura, já que
são eventos culturais.
E o ministro Francisco Weffort
nem sabia que eles estavam programados.
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