São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2006

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FHC vê PSDB desarticulado e cobra presença na periferia

Ex-presidente diz que partido está distante do eleitorado pobre e do interior do país

"Falamos com nós mesmos e precisamos falar com os outros", afirmou tucano durante reunião fechada com correligionários

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Numa palestra a portas fechadas sobre a situação do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lamentou ontem o que chamou de cansaço, estiolamento e desarticulação do PSDB. Admitindo que não houve "força suficiente" em todo o país, FHC defendeu mais diálogo com a sociedade e criticou que os tucanos só falem com eles mesmos.
Ao citar encontros literários da periferia de São Paulo, perguntou."Freqüentaram alguma vez? Pisou lá? Não adianta ir só na eleição." Ao falar sobre música de protesto, nova crítica: "Temos nós alguma relação com isso?"
Segundo ele, a estrutura do partido está cansada. "Pouco a pouco o partido acaba se estiolando [definhando por falta de luz]. Falamos com nós mesmos e precisamos falar com os outros", concluiu. FHC pregou também uma "conexão" com setores da classe média afastados da política. Lembrando que, na eleição, encontrou apenas 50 pessoas no comitê de um deputado eleito, afirmou: "Alguma coisa está errada. Se vai no trilho da sociedade, você junta centenas, milhares. Quando vai no trilho do partido, junta uma centena."
Num discurso de 55 minutos, FHC cobrou coragem, organização e unidade do partido. Sem citar os nomes dos governadores eleitos por São Paulo, José Serra, e Minas, Aécio Neves, disse que o PSDB tem chances de vencer em 2010. Mas "tudo vai depender da capacidade de nossos líderes de entenderem o processo e, em vez, de darem tiro uns nos outros, darem as mãos ao outro".
Também reclamou da precipitação da disputa."A vantagem [de haver opções] não pode se virar contra nós. Vai sair do partido, vai criar outro partido. Isso só serve para nos atrapalhar. Porque está fora de hora", apelou ele, que, em nome da abertura do PSDB, chegou a pregar a idéia de prévias, dependendo das circunstâncias.
"Temos que nos reunir mais. Fazer uma coisa que nunca fizemos. Prévias. Quem vai ser candidato?", disse. "Não custa nada se abrir um pouco mais".
Ao falar sobre o papel do PSDB, disse que o partido tem que "ser contra e ponto", ainda que, mais tarde, vote ao lado do governo. "Temos que cobrar."
"Quer dizer que é contra o país? Não. Quando for importante, votamos. Mas não precisa correr para aprovar".
FHC chamou de perigosa a tendência de o PSDB ir se fechando a ponto de ter "donos de pedaço". E defendeu que líderes regionais participem das decisões. "Temos o hábito de fazer comandos que não são verdadeiros", afirmou.

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