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Envolvidos em escândalos mantêm verbas da União
Contratos com empresas investigadas em duas operações da PF foram até ampliados
Grupo de 10 fornecedores cujos representantes foram indiciados têm contratos que somaram mais de meio bilhão até abril deste ano
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresas investigadas pela
Polícia Federal em operações
desencadeadas há mais de três
anos, que chegaram a ter executivos indiciados e mesmo
presos pela PF, continuaram
fornecedoras da União. Em alguns casos, até ampliaram seus
negócios com o governo federal. Os pagamentos da União a
esse grupo de dez empresas somaram R$ 514 milhões entre
janeiro de 2005 e abril de 2007.
As operações Vampiro (maio
de 2004) e Sentinela (dezembro de 2004) estão entre os
principais feitos da PF no primeiro mandato do presidente
Lula. Na Vampiro, que investigou supostas fraudes na compra de hemoderivados, a PF indiciou o ex-ministro da Saúde
Humberto Costa (PT-PE). Levantou indícios contra um grupo de empresas por suposta
formação de cartel. Cinco das
maiores empresas do grupo receberam R$ 396,3 milhões da
União desde 2005, a maior parte do Ministério da Saúde.
O ministério diz que as investigações atingiram "representações" das empresas, sem evidências de que as matrizes soubessem das irregularidades.
A Operação Sentinela, que
averiguou possível fraude na
contratação de serviços de vigilância, atingiu cinco empresas,
entre as quais a Confederal, do
ex-ministro Eunício Oliveira
(PMDB-CE)- que diz ter se
afastado da direção em 1998.
Dirigentes das empresas foram
indiciados pela PF sob alegação
de manipular edital de licitação
e corromper um funcionário do
Tribunal de Contas da União.
De lá para cá, pouco mudou
na relação dos investigados
com os cofres da União. Os ministérios apresentaram à Folha diferentes motivos para explicar a manutenção ou a ampliação dos contratos: dependência dos fornecedores, falta
de orientação dos órgãos fiscalizadores e ausência de irregularidades nos contratos.
As cinco empresas de segurança referidas na Sentinela receberam R$ 118 milhões de órgãos federais entre janeiro de 2005 e abril de 2007. Em 2004,
elas somavam R$ 20,2 milhões
em recebimentos (o escândalo
eclodiu em dezembro). O recebimento médio dessas empresas cresceu de R$ 1,6 milhão ao
mês, em 2004, para R$ 3,9 milhões após a operação.
O caso da Montana Planejamento e Serviços Ltda. é modelar. Em 2004, a Montana registrou R$ 1,9 milhão em negócios com a administração direta da
União. Teve um de seus dirigentes indiciado e preso pela
PF. Segundo a polícia, há indícios de que ele teria repassado
os recursos usados por outro
empresário para corromper o
servidor do TCU.
No ano seguinte, a Montana
fechou R$ 10 milhões em contratos com a União. E seguiu
crescendo, com R$ 18,9 milhões em 2006 e mais R$ 8,2
milhões em 2007 (até abril).
Antes da operação, a Montana
trabalhava apenas com o Ministério da Educação. Hoje, há
oito ministérios na sua carteira.
A empresa de vigilância sobre a qual mais recaíram acusações na operação da PF foi a
Brasfort Empresa de Segurança Ltda. Um de seus donos, segundo a PF, fez o pagamento de
suposta propina e negociou
com servidores públicos "benefícios para todas as empresas
que prestam serviços continuados para a administração pública". Os recursos para a Brasfort
cresceram, passando de R$ 5,1
milhões, em 2004, para R$ 7,9
milhões em 2006.
A CGU (Controladoria Geral
da União), que tem como tarefa
fiscalizar os gastos públicos,
pagou R$ 143 mil à Confederal
no ano de 2006. O Ministério
da Fazenda, R$ 8,5 milhões.
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