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JANIO DE FREITAS
Ato sem defesa
Pires não foi demitido por ter sido bom ministro ou não nem por ter ou não
responsabilidade na crise
O DISCURSO COM que
Lula selou a demissão
de Waldir Pires e entregou o Ministério da Defesa
a Nelson Jobim refletiu, antes
de mais nada, a sua irrefutável
necessidade de ver-se aceito
por quem, desde que do alto
nível da sociedade, lhe faça
restrição aguda. No sentido
político, foi um ato de pequenez moral.
"Nelson Jobim vai ser mais
feliz do que Waldir", disse Lula, em razão de dois fatores.
"Porque agora" - no quinto
ano da sua Presidência - vamos fazer o que for preciso"
(para tranqüilizar a sociedade
brasileira, e tome de lengalenga). É a mesma bazófia que Lula iniciou, para uso e sobretudo
abuso a cada aperto, em junho
de 2003, ao proclamar o "início do espetáculo do crescimento" que sabia não estar
nos propósitos do seu governo
de programa servil.
Waldir Pires não foi demitido por ter ou não ter responsabilidade na crise da aviação;
por ter sido bom ministro ou
não nem por ter negadas ou liberadas as verbas para o Ministério da Defesa. Saiu porque
Lula, a cada aperto, só é capaz
de duas pretensas saídas: ou
mais lances de politicagem ou
os velhos bodes-expiatórios
nos arranjos que dispensam,
além de escrúpulos políticos,
os escrúpulos pessoais.
O vice-presidente José Alencar ocupou sem exercer o cargo de ministro da Defesa, como antecessor de Waldir Pires.
Apenas disfarçava o buraco,
porque Lula não exercera a
hombridade presidencial para
manter um civil como verdadeiro e capaz ministro da Defesa, o
embaixador José Viegas. Lula
cedeu às resistências dos comandantes do Exército, da Aeronáutica e da Marinha. Mais
que aos últimos, ao primeiro
-aquele general Francisco Albuquerque notabilizado, entre
outras obras equivalentes, pela
carteira para embarcar com a
mulher em avião da TAM, bravura a que deu, em seguida, explicações inverídicas.
Mas "Nelson Jobim vai ser
mais feliz que Waldir" também
porque, "agora, Paulo Bernardo
e Mantega vão liberar o que for
preciso". Apesar da retenção de
verbas destinas pelo Orçamento ao Ministério da Defesa, não
é, no entanto, da falta de verbas
que decorre a crise da aviação.
Dinheiro tem faltado, sim, para a sempre pretendida aquisição de armamentos e para aumento da tropa. Falta, portanto,
cujo dano alegado é, no mínimo,
discutível. Além de advir, também, de outra conduta anã do
governo Lula: a concorrência
para a compra de caças novos da
FAB, por exemplo, não foi consumada porque, na impossibilidade de derrubar a proposta comercial e as qualidades do avião
russo, Lula preferiu ceder à
pressão dos EUA contra a compra. História que tem até um
outro lado interessante, explicável pelas relações muito amigas
de Lula com a Embraer, contratada para reformar os nossos velhos caças franceses.
Já que as coisas de governo
pertencem ao ramo das bazófias, o aspecto pessoal fica resolvido. Ou parece, o que Lula
verá na hora da sucessão. Nelson Jobim antecipou sua saída
do Supremo Tribunal Federal,
por limite de idade, para uma
candidatura tão negada por ele
quanto óbvia aos olhos de todos. O seu PMDB, porém, não
se seduziu pela idéia de um
candidato à Presidência, contra a reeleição de Lula, com a
aura de magistrado, ex-presidente do Supremo, velha liderança no Congresso.
A alternativa já estava encaminhada: Nelson Jobim como
vice na chapa de Lula, dentro
da aliança PT-PMDB. Parte da
imprensa até contribuiu, com
aquele noticiário típico: Lula
não está satisfeito com fulano,
Lula prefere que fulano tome a
iniciativa de sair, ou de desistir,
a plantação de sempre. Mas
Lula, que jamais gostou de
sombras animadas à sua volta,
queria mesmo o desambicioso
José Alencar.
Nelson Jobim ficou ao relento. Com o humor, em relação a
Lula, fácil de imaginar. Para solucionar esses desagrados de
parte a parte é que existe o governo no Brasil. E já está em
campo um pretenso candidato
a presidir esse governo.
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