São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007

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JANIO DE FREITAS

Ato sem defesa

Pires não foi demitido por ter sido bom ministro ou não nem por ter ou não responsabilidade na crise

O DISCURSO COM que Lula selou a demissão de Waldir Pires e entregou o Ministério da Defesa a Nelson Jobim refletiu, antes de mais nada, a sua irrefutável necessidade de ver-se aceito por quem, desde que do alto nível da sociedade, lhe faça restrição aguda. No sentido político, foi um ato de pequenez moral.
"Nelson Jobim vai ser mais feliz do que Waldir", disse Lula, em razão de dois fatores. "Porque agora" - no quinto ano da sua Presidência - vamos fazer o que for preciso" (para tranqüilizar a sociedade brasileira, e tome de lengalenga). É a mesma bazófia que Lula iniciou, para uso e sobretudo abuso a cada aperto, em junho de 2003, ao proclamar o "início do espetáculo do crescimento" que sabia não estar nos propósitos do seu governo de programa servil.
Waldir Pires não foi demitido por ter ou não ter responsabilidade na crise da aviação; por ter sido bom ministro ou não nem por ter negadas ou liberadas as verbas para o Ministério da Defesa. Saiu porque Lula, a cada aperto, só é capaz de duas pretensas saídas: ou mais lances de politicagem ou os velhos bodes-expiatórios nos arranjos que dispensam, além de escrúpulos políticos, os escrúpulos pessoais.
O vice-presidente José Alencar ocupou sem exercer o cargo de ministro da Defesa, como antecessor de Waldir Pires. Apenas disfarçava o buraco, porque Lula não exercera a hombridade presidencial para manter um civil como verdadeiro e capaz ministro da Defesa, o embaixador José Viegas. Lula cedeu às resistências dos comandantes do Exército, da Aeronáutica e da Marinha. Mais que aos últimos, ao primeiro -aquele general Francisco Albuquerque notabilizado, entre outras obras equivalentes, pela carteira para embarcar com a mulher em avião da TAM, bravura a que deu, em seguida, explicações inverídicas.
Mas "Nelson Jobim vai ser mais feliz que Waldir" também porque, "agora, Paulo Bernardo e Mantega vão liberar o que for preciso". Apesar da retenção de verbas destinas pelo Orçamento ao Ministério da Defesa, não é, no entanto, da falta de verbas que decorre a crise da aviação.
Dinheiro tem faltado, sim, para a sempre pretendida aquisição de armamentos e para aumento da tropa. Falta, portanto, cujo dano alegado é, no mínimo, discutível. Além de advir, também, de outra conduta anã do governo Lula: a concorrência para a compra de caças novos da FAB, por exemplo, não foi consumada porque, na impossibilidade de derrubar a proposta comercial e as qualidades do avião russo, Lula preferiu ceder à pressão dos EUA contra a compra. História que tem até um outro lado interessante, explicável pelas relações muito amigas de Lula com a Embraer, contratada para reformar os nossos velhos caças franceses.
Já que as coisas de governo pertencem ao ramo das bazófias, o aspecto pessoal fica resolvido. Ou parece, o que Lula verá na hora da sucessão. Nelson Jobim antecipou sua saída do Supremo Tribunal Federal, por limite de idade, para uma candidatura tão negada por ele quanto óbvia aos olhos de todos. O seu PMDB, porém, não se seduziu pela idéia de um candidato à Presidência, contra a reeleição de Lula, com a aura de magistrado, ex-presidente do Supremo, velha liderança no Congresso.
A alternativa já estava encaminhada: Nelson Jobim como vice na chapa de Lula, dentro da aliança PT-PMDB. Parte da imprensa até contribuiu, com aquele noticiário típico: Lula não está satisfeito com fulano, Lula prefere que fulano tome a iniciativa de sair, ou de desistir, a plantação de sempre. Mas Lula, que jamais gostou de sombras animadas à sua volta, queria mesmo o desambicioso José Alencar.
Nelson Jobim ficou ao relento. Com o humor, em relação a Lula, fácil de imaginar. Para solucionar esses desagrados de parte a parte é que existe o governo no Brasil. E já está em campo um pretenso candidato a presidir esse governo.


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