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NO PLANALTO
Ano Novo, governo
nem tanto
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na oposição , cheio de soluções, o ex-PT especializou-se em tirar gênios da garrafa. Na bica de assumir o governo, pleno de problemas, o neo-PT estuda um meio de fazê-los
descer gargalo abaixo.
O petista Lula, sabe-se agora,
é um tucano que ainda não tinha chegado ao poder. Um tucano de porta de fábrica, mas
um tucano.
Finalmente vitorioso, sem vocação para Aladin, radicalizou
a sedutora idéia de mudar radicalmente tudo. O medo do orçamento curto venceu a esperança
do palanque largo.
O ex-PT exerceu com maestria
invulgar o monopólio da luz. O
neo-PT, prestes a entrar no túnel escuro que compõe o legado
de FHC, procura uma luz, qualquer luz, para pôr no fim.
O ex-PT comportava-se como
cachorro que corre atrás do carro. Latia vorazmente. Dava a
impressão de que iria estraçalhar a viatura. Súbito o carro
parou. E o cachorro, em vez de
morder os pneus, abana o rabo
para o pensamento único, o motorista metafórico que dirige os
destinos do Brasil.
Ano novo, governo nem tanto,
eis o slogan inaugural de 2003.
Um ano em que quase tudo vai
ficar como está para ver como é
que fica. Pelo menos na área
mais importante, o setor que
condiciona o desempenho de todos os outros: a economia.
Condenado a pôr os pingos
nos seus próprios "is", Lula talvez devesse auscultar o partido.
Como assembleísmo é coisa do
passado, aplicaria um questionário escrito. Dez perguntinhas
bastariam. Todas de múltipla
escolha, para evitar respostas
desagregadoras.
As perguntas ficariam mais
ou menos assim:
1) O discurso do neo-PT deve:
a) atacar o que sempre defendeu;
b) defender o que sempre atacou;
c) soprar o que antes mordia;
d) morder o que antes soprava.
2) O melhor epitáfio para o túmulo do ex-PT é:
a) fui cobrar de Marx a minha
vida eterna;
b) deixo a ideologia para cair
na vida;
c) aqui jaz uma vítima do desaquecimento de demanda do
mercado ideológico;
d) não contem mais comigo.
3) Sob o neo-PT, o futuro reserva ao Brasil:
a) uma Pasárgada com o Sarney no papel de amigo do rei;
b) uma Pasárgada sem a mulher desejada na cama escolhida;
c) a purificação hoje do que
ontem era execrável;
d) um amanhã de ontem que
não chegou hoje.
4) Para provar que a política
econômica mudou, Palocci deve:
a) postar-se à direita de Malan;
b) conservar-se à direita de
Malan;
c) continuar à direita de Malan;
d) todas as opções anteriores.
5) Henrique Meireles é o melhor nome para um BC porque:
a) é mais Armínio do que o
próprio Fraga;
b) é mais Fraga do que o próprio Armínio;
c) pensa como o Armínio e age
como o Fraga;
d) age como o Armínio e pensa como o Fraga.
6) Resta à companheira Heloísa Helena:
a) pensar dez vezes antes de
calar;
b) lembrar que em boca que
engole sapo não entra mosquito;
c) perceber que o pragmatismo fala mais alto que o grito
ideológico;
d) fingir-se de morta.
7) Para mostrar ao FMI que
acabou a moleza, o neo-PT deve:
a) escalar o Suplicy para ciceronear a próxima missão;
b) acomodar os homens do
Fundo em quartos sem TV;
c) obrigar esse pessoal a carregar as próprias malas;
d) servir água quente e café
frio nas reuniões da Fazenda.
8) O trabalho deve finalmente
cair nos braços do capital porque:
a) se o bom sentimento é uma
utopia, melhor casar logo por
dinheiro;
b) se a castidade caiu de moda, melhor aderir à comunhão
de males;
c) dinheiro não compra felicidade, mas paga a reeleição;
d) ou todos têm uma chance
no mercado ou o liberalismo
não faz sentido.
9) O que melhor caracteriza o
espírito revolucionário do neo-PT é:
a) confiar ao PL a missão de
moralizar a pasta dos Transportes;
b) arrendar a sede do BC em
Brasília ao BankBoston;
c) amarrar as boas intenções
humanistas no toco da realidade;
d) acabar com a ilusão de que
é possível fazer história sem se
lambuzar.
10) À meia dúzia de insubmissos sobreviventes da esquerda
recomenda-se que:
a) tentem vencer na vida, para
virar direita;
b) leiam o livro de auto-ajuda
Lanterna na Popa, do Roberto
Campos;
c) releiam o livro de auto-ajuda Lanterna na Popa, do Roberto Campos;
d) peçam asilo ao Itamar na
embaixada em Roma.
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