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Jovem especialista
Empresas criam programas de trainee para formar líderes técnicos em produção e finanças
O engenheiro metalúrgico Ely Araújo Junior, 28, diz que "gosta mesmo é de produção" --ele classifica o processo de fabricação do aço como algo "agressivo" e "bonito de se ver". Mesmo com essa paixão pela parte técnica da profissão, ele teve de aprender noções de liderança para coordenar 130 pessoas em uma usina da Votorantim.
Para atrair estudantes como Junior, mais interessados no aspecto técnico do trabalho do que em uma carreira executiva, companhias estão criando programas de trainee para a área operacional.
Ao contrário do sistema tradicional, que tem o objetivo de formar líderes mais generalistas, voltados a negócios, essas iniciativas buscam preparar os jovens para comandar a operação em áreas específicas.
"Escolhemos quem realmente gosta de metalurgia ou de estar em uma mina", diz Leni Hidalgo, gerente do Grupo Votorantim, que criou esse programa há dois anos.
"Um trainee técnico não pode querer trabalhar na rua Amauri [local nobre de São Paulo onde fica a sede da companhia]."
Essa tendência é mais forte em empresas do setor industrial e de infraestrutura, mas também aparece no setor financeiro.
"São aqueles negócios que dependem de profissionais altamente especializados e precisam fazer os estudantes se interessarem por liderar processos industriais", afirma Carla Esteves, diretora da empresa de recrutamento Cia de Talentos.
A fabricante de produtos químicos Basf criou o programa para se antecipar a uma possível falta de profissionais, dada a dificuldade de encontrar engenheiros qualificados no Brasil.
Renata Carvalho, 26, conta que se candidatou a uma vaga no processo "depois de avaliar o contexto geral do país, que precisa de mais profissionais de produção".
Durante dois anos, ela passou por diferentes fábricas da empresa. "Aprendi principalmente sobre como melhorar processos fabris", conta.
ESPAÇO FIXO
Enquanto nos programas tradicionais os trainees passam por várias áreas da empresa para ganhar uma visão ampla do negócio, no caso dos técnicos eles costumam se dedicar a apenas um departamento por até dois anos.
Camila Lombardi, gerente de RH do Itaú BBA, conta que a ideia de criar esse sistema surgiu porque "muitos estudantes já chegavam à empresa com a certeza do que queriam e ficavam chateados de atuar em outras áreas".
"Do ponto de vista do banco, o programa tradicional prevê que o trainee fique só três meses em cada setor, o que torna difícil o aprendizado em áreas mais técnicas, como a tesouraria."
A empresa recebe 3.900 inscrições de candidatos interessados nos programas de trainee (tanto o generalista quanto o especialista). São selecionadas 60 pessoas por ano --um terço vai para a modalidade técnica.
Para concorrer a esses programas, é preciso já ter alguma experiência na área --seja em estágios seja em projetos de iniciação científica na faculdade.
Victor Natal, 26, que é trainee da área de investimentos do Itaú BBA, por exemplo, já tinha trabalhado no banco Credit Suisse nessa área.
"Fiz a escolha para me aprofundar. Isso é importante para resolver uma falha técnica na formação que muitas graduações não dão conta de acompanhar", diz.
SER LIDER
Apesar desse foco em conhecimentos específicos, é importante que esses jovens também procurem conhecimentos sobre gestão, já que terão de comandar equipes.
Na incorporadora Gafisa, esses profissionais passam, por exemplo, por cursos de liderança, comunicação e administração.
Renato Dias, 24, que é trainee da companhia, diz que "sempre teve mais afinidade com campos de obras", mas que essas habilidades são importantes.
"As pessoas o olham de outra maneira quando você tem essa experiência também."
