São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011 |
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ENTREVISTA EDWARD WITTEN LHC dará força a teoria unificadora da física
SABINE RIGHETTI DE SÃO PAULO O físico e matemático americano Edward Witten é hoje um dos principais nomes da teoria das cordas: uma ideia antiga da física que afirma que as menores unidades formadoras da matéria e da energia (incluindo a luz) são cordas vibratórias. Apesar de ainda não ser comprovada, já que as cordas nunca foram "vistas", Witten aposta que a teoria terá avanços significativos nos próximos anos. O cientista ficou conhecido internacionalmente ao encabeçar uma revolução recente na física teórica. Ele e seus colegas uniformizaram cinco variantes das cordas, em 1995, ao criar a "teoria M", hoje considerada a versão mais robusta da ideia. Em entrevista à Folha, enquanto esteve no Brasil para um curso no Instituto de Física Teórica da Unesp (Universidade Estadual Paulista), ele disse que os aceleradores de partículas, como o LHC, poderão validar a teoria em breve -um grande passo para uma visão definitiva das leis que regem o Universo. Folha - O sr. é hoje um dos principais nomes da teoria das cordas. Como explica as cordas e o fato de não haver ainda comprovação para ela? Edward Witten - Na física moderna, há duas teorias importantes: a mecânica quântica, que trata dos átomos e das partículas subatômicas, e a teoria da relatividade, de Albert Einstein, que trabalha as grandes escalas do Universo. As cordas são uma tentativa de unir essas duas teorias a partir de um modelo único que descreva, com eficiência, as diferentes forças da natureza [a teoria das cordas descreve a formação da matéria ao afirmar que a menor unidade da matéria são "cordas" em movimento]. Mas há quem diga que as cordas são quase uma "profecia", já que não há dados experimentais sobre elas. A teoria não tem nada de profética. Alguns cientistas não a entendem direito e não compreendem porque ela ainda não foi comprovada. Outras teorias da física, como a mecânica quântica, estão mais desenvolvidas. Só isso. Essa comprovação virá pelos experimentos com os aceleradores de partículas? A teoria das cordas tem mais de 40 anos, mas ainda faltam algumas explicações. Os aceleradores de partículas como o LHC [o acelerador de partículas mais potente do mundo, que fica em Genebra, na Suíça] podem explicar a natureza e revelar indícios de outras dimensões. Por isso, poderão contribuir para explicar as cordas. As cordas [conforme postulado pela teoria] vibram em 11 dimensões, sendo três dimensões espaciais, a dimensão do tempo e outras tantas que não conseguimos perceber. Os aceleradores podem mostrar isso. Eu conheço alguns cientistas que trabalham no LHC, e temos mantido contato. Não acho que a comprovação da teoria venha em dez anos, como dizem por aí. Nem sei de onde veio a ideia de "dez anos". A comprovação pode vir antes. A teoria também trata da origem da matéria. Por que existe uma obsessão para explicar o começo de tudo? Porque isso é realmente fascinante. Há muitas perguntas sem resposta. É normal que a gente queira achar respostas, e existem muitas possibilidades sendo levantadas. Há físicos que dizem que o Universo está dentro de um buraco negro. Não há evidências suficientes para isso, mas a ideia faz sentido. Se o Universo estiver num buraco negro, ele será o máximo que você conseguirá enxergar. E, como os buracos negros são realmente muito grandes, sim, nós podemos estar dentro de um deles. Como começou o seu interesse pela ideia das cordas? Eu tinha colegas trabalhando com as cordas na década de 1980, e eles tiveram progressos significativos em 1984. Acabei entrando cada vez mais nessa área até chegar, em 1995, à teoria M [que une variações da teoria]. O que significa a letra M no nome dessa teoria? Há quem diga que a letra simboliza as palavras "mãe" ou "mistério" ou especulações de que o M seria o prenúncio de uma futura teoria. Nunca quis criar polêmica com o nome da teoria M. Alguns dos meus colegas acharam que eu havia descoberto a teoria da membrana [de que as cordas teriam um aspecto em duas dimensões, em formato de membrana ou folha de papel]. Por isso, resolvi usar a primeira letra da palavra "membrana", e ficou "teoria M". Vamos deixar que o tempo nos diga se o "M" representa uma membrana ou não, no fim das contas. Essa é a sua segunda vez no Brasil. Qual é a sua impressão sobre a ciência brasileira? Eu estive no Brasil há alguns anos, no Rio de Janeiro, mas é a primeira vez que venho a São Paulo. Estou gostando muito da minha experiência na Unesp. Tenho trabalhado com o físico Nathan Jacob Berkovits [coordenador do curso da Unesp]. Agora está sendo ótimo conhecer os estudantes brasileiros e ter uma experiência internacional nessa área. Além das cordas, o senhor tem algo que goste de fazer fora dos laboratórios? Gosto de ficar com minha família, meus três filhos e minha neta. Também gosto de jogar tênis algumas vezes por semana. Mas acredito que sou melhor na ciência do que nas quadras de tênis. Texto Anterior: FOLHA.com Próximo Texto: Raio-X: Edward Witten Índice | Comunicar Erros |
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