São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2007

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Dado sobre nível do mar esquenta debate climático

Cientistas finalizam em Paris relatório que culpa humanos pelo aquecimento

Alguns especialistas dizem, no entanto, que os novos dados de painel da ONU já saem defasados, por excluir informações sobre degelo

Pierre Gleizes/Greenpeace/EFE
OTIMISMO
Cartaz de termômetro pregado pelo Greenpeace na Torre Eiffel diz que "Não é Tarde Demais" para combater a mudança climática; as luzes do símbolo de Paris serão desligadas por 5 minutos na quinta em ato de alerta sobre o efeito estufa


DA ASSOCIATED PRESS

As temperaturas do planeta estão subindo, o aumento do nível do mar ameaça engolir o litoral em várias partes do mundo e a população, mais do que nunca, quer saber o quão preocupada deve ficar. Uma resposta de peso será dada nesta sexta-feira.
Cerca de 500 cientistas e funcionários de governos se reuniram ontem em Paris para uma semana de edição, palavra por palavra, de um relatório há muito aguardado sobre o quão rápido o mundo está esquentando, o quão sério é o aquecimento e o quanto dele é culpa de atividades humanas.
O relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), comitê de 2.500 especialistas trabalhando sob a égide da ONU, pode influenciar a política de muitos governos e empresas sobre o combate ao efeito estufa.
Os cientistas estão tentando silenciar sobre o conteúdo do relatório -o que não impediu que diversos dados tenham "vazado" aqui e ali para a imprensa ao longo das últimas semanas-, mas dizem que ele é mais preciso e mais específico que suas últimas versões (a mais recente é de 2001) e mais categórico ao prever verões mais quentes, derretimento acelerado de geleiras e o que tudo isso significa para o futuro.
O painel fará previsões sombrias sobre o contínuo aumento da temperatura da Terra até 2100 e reforçará, para além de dúvidas razoáveis (o grau de "certeza" do texto final está sendo debatido), que só a contribuição de atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis é capaz de explicar essa tendência.
Pode haver discussões nesta semana, no entanto, sobre o quanto o nível do mar deve subir. Versões anteriores do novo relatório, conhecido pela sigla AR4 (Quarto Relatório de Avaliação, em inglês), projetam uma elevação menor (12,7 cm a 58 cm) do que o documento de 2001 (9 mm a 88 cm)
Mas muitos cientistas de renome rejeitam esses números, dizendo que a previsão está defasada. Ela não incluiria, por exemplo, dados recentes sobre degelo acelerado de calotas polares na Groenlândia e na Antártida, o que contribui expressivamente com o aumento no nível global do oceano. Um estudo publicado no fim do ano passado na revista "Science", por exemplo, prevê uma elevação de até 1,4 m.
Muitos temem que esse degelo alagará as zonas costeiras antes do previsto. Outros dizem que o derretimento é temporário e não terá muito impacto no nível do mar.
Ontem, o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Ambiente) divulgou dados mostrando que 30 geleiras de montanha ao redor do mundo estão derretendo três vezes mais rápido que nos anos 1980. O impacto disso no nível do mar, no entanto, ainda é incerto.


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