São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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Famílias vivem em luto sem enterrar parentes

DA SUCURSAL DO RIO

Sem um corpo para enterrar, o aposentado José Vieira, 63, vive um luto diferente: ora acha que o filho Adelmo José está morto, ora arruma o quarto dele, mantido intacto, esperando-o para jantar.
O rapaz desapareceu no dia 18 de julho deste ano, junto com o amigo Darcy Martins Júnior. É um dos casos mais recentes investigados pelo Serviço de Descoberta de Paradeiros.
Os dois foram vistos pela última vez subindo o morro da Fé, na Penha (zona norte do Rio).
"A gente depois soube que eles tinham sido mortos pelo bando desse Elias Maluco e enterrados no morro do Alemão", conta o pai de Adelmo.
A doméstica Luciana Aparecida do Nascimento, 34, espera desde 1998 notícias que revelem o que aconteceu com o marido, o soldado Alfredo Luiz da Cruz, do Corpo de Bombeiros.
Ele teria sido acusado pelos traficantes da favela Nova Brasília de atuar como informante da polícia. Saiu de casa com um amigo e não voltou. "Acho que ele morreu, mas esse teste de DNA é que pode dar uma certeza", diz Luciana.
Pelo menos três jovens foram vistos pela última vez ao sair de casa para ir a bailes funk: Kátia Cilene Garrido Ferreira, Cristiana Carla Pereira e Carlos Eduardo Alves de Macedo.
As duas jovens sumiram no mesmo dia, 16 de janeiro de 1999. Segundo a polícia, o desaparecimento estaria relacionado a um ex-namorado de uma delas, ligado ao tráfico.
Carlos Eduardo teria se envolvido em brigas de galeras rivais nos bailes. Sumiu em 3 de dezembro de 2000.
O pai do rapaz, o aposentado Eduardo Luiz Alves de Macedo, 52, diz que o desaparecimento do filho era praticamente ignorado pela polícia, até que, com o caso Tim Lopes, a descoberta do cemitério clandestino reativou um pouco o interesse pela história.
"Numa hora dessas, a gente não sabe mais o que pensar. A polícia pára de procurar o corpo, não tem exame para fazer, não tem mais nada, só dúvida e tristeza. Só queria poder enterrar o meu filho", diz Macedo, que aguarda o cadastramento para poder fazer o exame de DNA.
As mães de dois desaparecidos pediram para não ser identificadas nas entrevistas. Uma delas contou que recebeu ameaças dos traficantes da área e que teme pela vida dos outros dois filhos.
"A gente precisa desse exame de DNA para, pelo menos, saber se é o corpo do meu filho que apareceu lá na Grota. Aí ele descansa em paz e eu também", afirma a outra mãe. (FE)


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