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TURISMO ESTÉTICO
Preço baixo e fama de médicos têm incentivado novo tipo de turismo; médicos criam pacotes que incluem até motorista
Cirurgia plástica atrai estrangeiros ao país
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um novo tipo de "turismo" tem
atraído estrangeiras ao Brasil: o da
cirurgia plástica. Movidas por
preços mais baixos dos que os
praticados no exterior e pela boa
reputação dos médicos brasileiros, elas têm aproveitado as férias
de julho e agosto para visitarem o
Brasil e voltar aos seus países com
os seios mais volumosos e os corpos livres da gordura localizada.
Em algumas clínicas do Rio de
Janeiro, de São Paulo, de Belo Horizonte (MG) e de Fortaleza (CE),
as estrangeiras, em conjunto com
mulheres brasileiras que vivem
no exterior, representam de 15% a
20% da clientela. A clínica de Ivo
Pitanguy, no Rio, é um caso a parte. No mês passado, 50% da demanda foi de estrangeiros.
De olho nesse mercado, cirurgiões criaram pacotes especiais.
Por preços que vão de US$ 5.000 a
US$ 8.000, oferecem motorista e
enfermeiras bilíngues, apart-hotel
e aluguel de celular.
Em geral, o primeiro contato
com os cirurgiões é por e-mail.
Também é pela internet que os
pacientes enviam fotos, fazem as
entrevistas iniciais e mandam os
exames exigidos no pré-operatório. A maioria chega um dia antes
da cirurgia e parte após a retirada
dos pontos, uma semana depois.
É o caso da executiva americana
Kathy Kivet, 55, que voltou no final de julho para Nova York com
os lábios mais carnudos e sem as
gordurinhas localizadas na barriga e no quadril. É a segunda vez
que Kivet vem ao Brasil fazer plástica. No ano passado, fez uma cirurgia de rejuvenescimento na face e outra de redução do abdome.
Ela não revela o quanto pagou,
mas garante que foi a metade do
que pagaria nos EUA.
No Hospital da Plástica, no Rio,
os estrangeiros representam 15%
do total de atendimentos -250
cirurgias por mês, de acordo com
o cirurgião plástico Farid Kakme,
60. Ele afirma que em julho foram
feitas 30 cirurgias plásticas em estrangeiros e, neste mês, estão
agendadas outras 25. Neste ano,
houve um aumento de 40% na
procura de estrangeiros em relação a 2002, segundo Kakme.
De acordo com os médicos, a
maioria da clientela estrangeira é
mulher (80%), quer aumentar ou
erguer os seios e vem da América
Latina, EUA (Miami e Nova
York) e Europa (especialmente
Espanha, Itália, França e Suíça).
A italiana Chiara Samari, 26,
apresentadora de TV em Milão, é
um exemplo. Ela havia feito um
implante de silicone no seu país,
mas não gostou do resultado.
Aproveitou as férias para conhecer o Brasil e "retocar" o peito.
Ela e a amiga Susy, estilista, vieram ao país a convite do cirurgião
brasileiro Adelson Alexandrino,
que vive há 14 anos em Milão.
Duas vezes por ano, ele retorna ao
Brasil para operar pacientes estrangeiras. "São mulheres que
não querem que as amigas saibam que fizeram plástica. Quando aparecem com os seios maiores, dizem que foi efeito de exercícios ou de hormônios", afirma.
Na clínica de Ivo Pitanguy, em
razão do alto índice de clientela
estrangeira, as secretárias falam
no mínimo cinco idiomas, segundo a diretora Gisela Pitanguy, filha do cirurgião.
"Eles [os estrangeiros] não estão
acostumados com paparicos e se
sentem muito acolhidos com o
tratamento VIP no Brasil", afirma
o cirurgião plástico Carlos Eduardo Leão, de Belo Horizonte (MG).
Além de colocar à disposição
dos clientes estrangeiros secretária e motorista bilíngue, a clínica
dele cuida da reserva do hotel e faz
contato com agências de turismo
caso o paciente queira, antes da
cirurgia, conhecer as cidades históricas de Minas. O cirurgião
plástico paulista Anísio Figueiredo Filho, 54, oferece às pacientes
motorista, habilitação de celular e
serviço de home care. Ele diz que
costuma visitar as pacientes, após
a cirurgia. "Isso dá segurança."
Sem vantagens
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luiz
Carlos Garcia, é contra a vinculação da cirurgia plástica a qualquer
tipo de pacote promocional ou
que inclua outros itens que não a
própria intervenção cirúrgica.
Para ele, esse tipo de promoção
contraria o código de ética médico. Para Maria Luiza Machado,
diretora da regional paulista do
Conselho Regional de Medicina, a
prática pode caracterizar concorrência desleal, especialmente se
divulgada como publicidade.
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