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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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Três escolas, três universos

DA REPORTAGEM LOCAL

Para Joyce dos Santos, 10, entrar no CEU (Centro Educacional Unificado) Jambeiro, em Guaianases (zonal leste) foi um acontecimento especial, digno até de caderno novo -um luxo para uma família de seis filhos e renda de R$ 350 mensais. A menina estudava em outro colégio, também municipal, onde não havia playground nem sala de leitura.
A reportagem da Folha acompanhou os primeiros dias de Joyce no escolão, inaugurado no último dia 1º, e também a rotina de outros dois estudantes de escolas municipais da região -Danilo de Carvalho, 11, que cursa a 5ª série numa escola "normal", a Emef Arthur Neiva, e Taynara Alexandrina Alves, 10, que faz a 4ª série em uma escola de latinha, a Emef Dias Gomes. Todos moram no extremo da zona leste.

No CEU, haja física
Joyce está instalada na escola mais bem equipada da rede municipal atualmente. No CEU há piscina, salas de leitura e computação, teatro e playground, entre outros equipamentos. Ainda assim, não teve nenhuma atividade extracurricular durante a semana.
Ela tem uma hora a mais de aula que os demais alunos na rede. Mas, na quarta-feira, as cinco horas de aula foram todas de física. "Está tudo embaralhado. Acho que falta professor [de outras matérias]." Segundo a secretária municipal de Educação, Cida Perez, o CEU está com o quadro de professores completo, mas os profissionais ainda estão organizando a grade de horários.

Aula na hora do almoço
Aluno da Emef Arthur Neiva, Danilo não dispõe de tantos recursos físicos dentro da escola quanto Joyce. Ainda assim, participa do time de vôlei e, no ano passado, estudou xadrez no colégio. O irmão mais velho, Dereck, integra o coral da mesma escola.
"Os professores faltam, mas não é sempre", afirma. Sua maior reclamação é em relação ao horário. Ele é um dos alunos que, devido à insuficiência da rede municipal, têm aulas das 11h às 15h. O resto da tarde, Danilo passa na frente da TV. "Aqui perto não tem nada para fazer." Agora, ele aguarda a oportunidade de usar as piscinas e a quadra de futebol do CEU.

Da lata à biblioteca
Taynara estuda em local bem mais precário -uma escola de lata, sem playground ou sala de leitura. Construídas pelo ex-prefeito Celso Pitta, elas devem ser desativadas até o fim de 2004.
Os professores e os alunos tentam driblar as dificuldades. A escola tem uma banda e desenvolve um projeto sobre trânsito e ambiente. Na terça, Taynara teve sua primeira aula de computação e, na quarta, foi por iniciativa própria estudar em uma biblioteca fora da escola. Na quinta, porém, a falta de estrutura da escola não pôde ser ignorada. Mesmo com uma blusa de lã, Taynara sofreu com a queda de temperatura. "Na escola faz mais frio. Já fiquei gripada por causa disso." (AL)

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