São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2008

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Cervejaria patrocina festa junina de colégio de SP

Schincariol diz que patrocínio ocorre pelo 2º ano e que, em anos anteriores, já havia chope no evento; especialistas criticam medida

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo Schincariol -empresa de bebida responsável por três marcas de cerveja- foi um dos patrocinadores da festa junina do colégio Santa Cruz (zona oeste de SP). Ao todo, 134 empresas patrocinaram o evento do último sábado.
No palco com shows, havia o logotipo da marca de cerveja Nova Schin. Ao evento, houve a doação de água, sucos e refrigerantes. Toda a renda da venda no local das bebidas e de outros produtos foi revertida a um fundo social do colégio.
"Achei um absurdo uma empresa de cerveja patrocinar uma festa com tantas crianças e adolescentes", disse um pai que não quis se identificar. Ele afirma que, durante a festa, sua filha, de 15 anos, conseguiu comprar cerveja -a pedido dele- sem a menor objeção do responsável pela barraca.
Procurada, a direção do colégio não se manifestou até o fechamento desta edição. Por orientação da telefonista, a Folha encaminhou um e-mail ao secretário-geral da escola, Wagner Pittelkov com as perguntas, mas não teve resposta.
Para a Abead (Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Drogas), tanto o patrocínio de uma indústria de cerveja como a venda da bebida no ambiente escolar colaboram para o consumo precoce do álcool.
"É escandaloso isso acontecer em um local de formação dessas crianças. Isso leva à banalização do consumo de álcool", afirma a presidente da Abead, Analice Gigliotti.
O psiquiatra João Carlos Dias, diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria, tem a mesma opinião: "A escola marcou um gol contra. É um retrocesso de tudo aquilo que a gente não quer que aconteça".
Dias afirma que a presença da indústria de cerveja em uma festa escolar cria um clima de banalização do consumo da bebida. "É o local onde a criança faz as suas redes, tem os seus amigos, onde cria a sua personalidade. E se a indústria de cerveja está lá patrocinando, é claro que ela [criança] naturaliza o consumo da bebida."
Pai de dois alunos -de oito e de 12 anos- do colégio Santa Cruz, o diretor de marketing do grupo Schincariol, Marcel Sacco, disse ontem que estava bastante "surpreso" com a discussão. "A festa completou 25 anos, e a Schincariol só esteve presente neste ano e no ano passado. Durante 25 anos a festa sempre teve chope, como qualquer festa junina em qualquer escola do Brasil."
Segundo Sacco, foram os pais dos alunos que cuidaram dos quiosques que vendiam chopes da Schincariol e das barracas com outras bebidas, como vinho quente e quentão. "Toda festa junina escolar tem quiosque de chope e cerveja. As bebidas não são vendidas a menores de 18 anos."
Para ele, esse tipo de discussão é "xiita": "Será que também não é ruim o consumo de chocolate, de salgadinhos? Se a gente for dizer que paçoca faz mal porque é muito gordurosa, vamos entrar numa loucura sem fim".


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