São Paulo, quarta-feira, 18 de abril de 2007

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Padre acusa padre de falsidade ideológica

Os dois e pessoas que estavam em velório foram parar em DP

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois padres e parentes de um morto prestes a ser enterrado no Cemitério da Quarta Parada, na zona leste de São Paulo, foram parar na delegacia, no início da tarde de ontem.
O representante da Igreja Católica Apostólica Romana, padre José Florêncio, acusou Marcos Rodrigues Fontana, da Igreja Católica Apostólica Reunida no Brasil, de falsidade ideológica e cobrança por serviços de orações.
Paramentado com batina e crucifixo, Marcos, 46, teria sido chamado por um casal de fiéis para rezar no túmulo de um parente sepultado no Cemitério da Quarta Parada quando, ao sair, foi abordado por uma família pedindo que ele fizesse uma oração pelo ente que estavam velando.
O padre teria dito que era da Igreja Católica, sem deixar claro que não era a apostólica romana, mas a reunida do Brasil.
Ao entrar no velório, Roberto Barbosa, ministro da Paróquia São Carlos Borromeu do Belém, abordou o padre Marcos e pediu sua identificação. Representantes da Igreja Católica já desconfiavam de sua atuação e tinham alertado a administração do cemitério sobre ele.
De acordo com funcionários do Quarta Parada, o padre é freqüentemente visto no local há mais de um ano, apesar da Igreja Católica Apostólica Reunida no Brasil ficar em Guarulhos e não ter representação na capital paulista.
Ainda segundo funcionários, ele já teria sido visto abordando famílias de mortos no estacionamento do local e cobrando R$ 100 pelas missas de corpo presente.
O padre José Florêncio, que foi chamado por Barbosa e acabou indo para a delegacia prestar queixa, afirmou que Marcos não costumava cobrar um valor antecipadamente, mas, após fazer a celebração, pedia doações para a igreja.
"Ele usa de má-fé, confunde as pessoas dizendo que é da Igreja Católica e se vestindo como nossos religiosos", afirma o padre José Florêncio.
"O pior é que, ao pedir dinheiro, mancha nossa imagem. Para nós, é proibido solicitar doações nessas cerimônias", explica.
O bispo José Elias, fundador da Igreja Católica Apostólica Reunida no Brasil em 1972, explica que sua entidade não pertence ao Vaticano, mas funciona legalmente no Brasil.
"Usamos roupas parecidas com as usadas pelos sacerdotes da Igreja Católica Apostólica Romana e fazemos batizados, casamentos e enterros. Nos velórios, não cobramos nada, só dizemos que contribuições são aceitas", afirmou ontem à Folha, por telefone.
"O problema é que a Igreja Católica Apostólica Romana se acha dona de tudo e causou a maior confusão."
O bispo José Elias diz que o padre Marcos só vai ao Cemitério da Quarta Parada quando é chamado. "Por coincidência, essa família o interceptou."
Na delegacia, a família que teria abordado o padre não confirmou se ele cobrou ou não algum valor antecipadamente.
A administração do Cemitério da Quarta Parada informou ontem nunca ter recebido reclamação em relação à ação do padre Marcos nem saber de possíveis cobranças pelas missas realizadas por ele.
José Carlos dos Santos, delegado-assistente do 57º DP, para onde todos foram levados, fez um termo circunstanciado (ocorrência) de falsidade ideológica sobre o caso. O documento será encaminhado a um juiz, que ouvirá os envolvidos.
"Em 35 anos de carreira, nunca vi um caso assim, de um padre acusando outro. Vamos ver como vai terminar", afirmou o delegado-assistente.


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