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Obesidade é "contagiosa" entre amigos
Estudo norte-americano indica que influência de pessoas próximas pode triplicar risco de uma pessoa tornar-se obesa
Cientistas mapearam rede social e mediram peso de 12 mil indivíduos num período de 32 anos; pesquisadora vê risco de surgir preconceito
GINA KOLATA
DO "NEW YORK TIMES"
O obesidade pode se espalhar
entre as pessoas de modo semelhante a uma epidemia, indica o resultado de uma pesquisa publicada ontem.
Quando alguém ganha peso,
seus amigos próximos tendem
a engordar também, conclui
o estudo, que foi publicado na
revista "New England Journal
of Medicine".
O resultado da pesquisa foi
obtido a partir de uma análise
detalhada sobre uma rede social de mais de 12 mil pessoas,
num período de 32 anos (entre
os anos de 1971 e 2003). Os pesquisadores sabiam quem era
amigo de quem e se um indivíduo era irmão, cônjuge ou vizinho de outro. Os pesos das pessoas analisadas foram medidos
em vários momentos.
Segundo os cientistas, os dados obtidos os permitiram ver o
que aconteceu nos anos em que
amigos, parentes ou vizinhos
de alguns indivíduos ficaram
obesos. De acordo com os cientistas, as pessoas ficavam mais
propensas à obesidade quando
um amigo delas engordava. Pela pesquisa, isso aumentava o
risco de uma pessoa se tornar
obesa em 57%.
Nenhum efeito foi observado, porém, quando um vizinho
ganhava ou perdia peso. Já familiares tinham influência,
embora isso acontecesse em
freqüência menor do que a dos
amigos. E até mesmo a proximidade física não era muito relevante: a influência de um
amigo no acréscimo de peso era
exercida mesmo a milhares de
quilômetros de distância.
O maior efeito era entre
aqueles que se consideravam
amigos próximos. Nesse caso,
se um ficava obeso, o risco de o
outro adquirir a mesma condição quase triplicava.
O mesmo efeito foi observado quando uma pessoa emagrecia, mas como a maior parte dos
casos observados foi de ganho
de peso, ao longo do estudo o
que se observou foi uma epidemia de obesidade. A genética
também tinha influência.
Nicholas Christakis, cientista da Escola Médica de Harvard, de Cambridge (EUA), que
liderou o estudo, sugere uma
explicação. Segundo ele, as pessoas afetam a percepção de
seus amigos sobre o peso:
quando um bom amigo fica
obeso, a obesidade deixa de parecer tão ruim. "Você muda sua
idéia sobre qual tipo de corpo é
aceitável ao avaliar as pessoas
ao seu redor", disse Christakis.
Essa hipótese não agradou a
pesquisadores como Kelly
Brownell, da Universidade Yale. "Existe aí um grande risco de
culpar ainda mais os obesos por
coisas que são causadas por um
ambiente terrível", afirma.
Não explica tudo
A professora do departamento de psiquiatria da Unicamp
Maria Marta de Magalhães Battistoni pondera que a obesidade tem diversas causas. Segundo ela, a hipótese do contágio
pode ter relevância, "mas não
explica tudo". Para o professor
de endocrinologia da universidade, Marcos Tambascia, a pesquisa abre uma nova frente de
estudo sobre a obesidade.
"Mostra que há uma perda de
referência em relação ao corpo.
Isso é bastante lógico", afirma.
Com a Reportagem Local
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