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DESIGUALDADE
Pesquisa mostra que taxa de atraso escolar é mais baixa nos bairros em que há maior mistura de classes sociais
Diversidade social melhora a educação
ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA, NO RIO
A simples convivência de classes
sociais distintas tem reflexo positivo no nível educacional de
crianças e jovens pobres. É o que
mostra uma das pesquisas que fazem parte do estudo "Metrópoles,
Desigualdades Socioespaciais e
Governança Urbana".
Os pesquisadores cruzaram dados de estudantes de oito a 15
anos nas três maiores regiões metropolitanas do país (São Paulo,
Rio e Belo Horizonte) e constataram que o percentual de atraso escolar é mais baixo nos bairros em
que há maior mistura de classes
sociais. Atraso escolar é a diferença entre a idade que o aluno tem e
a escolaridade que deveria ter.
Também constataram que as taxas de evasão escolar (entre jovens de seis a 14 anos) e de jovens
sem trabalho e sem estudo (entre
17 e 24 anos) seguem o mesmo
padrão -são menores em bairros com mais mistura entre pobres e ricos.
"De certa forma, quando há
uma convivência maior entre
classes, os mais pobres conseguem romper um ciclo que não é
quebrado numa região essencialmente carente e periférica. Há algum tipo de troca", afirmou Luiz
Cesar de Queiroz Ribeiro, coordenador da pesquisa e professor do
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro).
O estudo sobre as metrópoles
está sendo realizado por cerca de
70 pesquisadores de 22 instituições. A partir de dados do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), o grupo criou metodologias próprias para avaliar
mudanças estruturais em 11 regiões metropolitanas. A base do
trabalho são as informações sobre
educação, habitação e renda.
Para o coordenador da pesquisa, "as metrópoles aparecem não
apenas como resultado de desigualdades, mas como geradora de
novas desigualdades".
Segundo Ribeiro, a exemplo do
que ocorreu em países europeus,
a valorização do ensino público é
um dos caminhos para inverter
esse quadro e promover uma
maior integração.
"A escola é o meio mais eficiente
de promover os conceitos de cidadania e direito. Daí a importância
da presença das camadas médias
na rede pública de ensino, para
um aprendizado democrático."
Em São Paulo, a taxa de atraso
escolar de crianças e jovens pobres, em famílias cujos demais
membros têm média de até nove
anos de estudo, é de 39% nas regiões de classe baixa, de 32% nas
áreas de classe média alta e de
37% nas regiões de classe alta. Isso
nas famílias em que os pais são casados -quando são separados, o
desempenho dos filhos piora.
No Rio, esses índices são de
64%, 55% e 60%, respectivamente, e em Belo Horizonte, de 49%,
43% e 44%.
Por enquanto, a pesquisa só finalizou os dados de educação em
relação à classe social nas três
maiores metrópoles. Com relação
a outros temas, já há informações
sobre as demais áreas. Belém, por
exemplo, lidera o ranking de déficit e inadequação habitacional no
Brasil (leia texto na página C3).
Morar num bairro pobre também interfere no salário dos seus
moradores. O estudo mostrou
que as diferenças de renda entre
moradores de favelas e de bairros
podem superar 70%, mesmo entre trabalhadores com a mesma
escolaridade.
Entre pessoas com mais de 15
anos de estudo, a diferença salarial chega a 73% em São Paulo,
64% no Rio de Janeiro e 65% em
Goiânia.
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