São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

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AMBIENTE

A deterioração da qualidade do ar ocorre especialmente no inverno, quando as condições de dispersão são piores

Poluição em SP está ao sabor dos ventos

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem nenhuma medida de controle da emissão de poluentes pelos veículos desde a segunda metade da década de 90 e com o crescente número de carros, caminhões e motos nas ruas, a Grande São Paulo enfrenta uma deterioração da qualidade do ar, especialmente no inverno, quando tradicionalmente as condições de dispersão de poluição são piores.
Especialistas afirmam e a própria Cetesb (agência ambiental paulista) admite que, para respirar um ar mais limpo ou mais sujo, os moradores da região metropolitana dependem hoje quase exclusivamente das condições meteorológicas, que, além de alteradas pela urbanização, são incontroláveis pelo homem.
Conseqüência disso é que o inverno de 2003 (de 1º de maio a 30 de setembro), com menos chuvas, mais inversões térmicas e mais dias desfavoráveis à dispersão, foi o mais poluído desde o de 2000. E, se, neste ano, o cenário climático for o mesmo, os índices deverão ser tão ruins ou ainda piores.
As concentrações dos principais poluentes no ano passado aumentaram em relação a 2002 e alguns, como o ozônio (O3) e o monóxido de carbono (CO), atingiram patamares próximos ou até superiores aos do inverno de 1999. Embora estejam longe de ocorrer picos de poluição como os dos anos 70 e 80, os dados colocam em xeque a tendência de melhoria da qualidade do ar comemorada pela Cetesb em 2000.
O ar sujo causa ou agrava problemas respiratórios e cardiovasculares e, segundo estudos recentes, a poluição continua a ter efeitos graves sobre a população.
A "última esperança" para ao menos diminuir a dependência das condições meteorológicas é a inspeção veicular ambiental que, segundo a prefeitura e o governo federal, começa em 2005. Fora isso, mudanças na fórmula da gasolina, reforço na fiscalização das indústrias, controle das emissões de motos e desestímulo ou restrições ao uso do carro são alternativas para médio e longo prazos.

Índices
Na Grande São Paulo, em 99, o número de registros de qualidade geral do ar inadequada (além do padrão) foi de 134, e de qualidade ruim (além do nível de atenção), 29. Nos anos seguintes, eles caíram para 80 e 9 (2000), 78 e 8 (2001) e 65 e 6 (2002). Mas, em 2003, o ar esteve inadequado por 101 vezes e ruim por 11 vezes.
O índice reúne as concentrações de dióxido de enxofre (SO2), partículas totais em suspensão, partículas inaláveis (MP10), fumaça preta, CO, O3 e dióxido de nitrogênio (NO2). A qualidade do ar de cada estação de medição é determinada pelo pior caso; num mesmo dia, é possível ter mais de um registro de ar inadequado.
Os destaques negativos na evolução da poluição no inverno ficam por conta do CO e do O3, cujas concentrações acima do padrão e do nível de atenção (no caso do ozônio), vêm aumentando e indicam mais fortemente a inversão de tendência. Ambos estão relacionados a emissões veiculares.
Em relação aos índices de fumaça preta, após uma queda que culminou, em 2002, com nenhum registro de condição inadequada, foram registradas duas ultrapassagens de padrão no ano passado.
As concentrações de MP10, que estão entre os piores poluentes porque vão direto para os pulmões, vinham caindo. Tiveram 64 ultrapassagens de padrão em 1999 e 21 em 2002, mas foram 40 vezes superiores ao considerado saudável em 2003. Além dos veículos a diesel, a poeira ressuspensa na rua, aumentada pelo desmatamento, também é importante.
Já os níveis de NO2 tiveram três ultrapassagens do padrão em 2003 contra apenas uma em 2002.
Não é possível ir mais longe na comparação porque há diferenças nas medições. Os índices vêm dos relatórios da Operação Inverno.

Balanço
A maior ou menor quantidade de poluentes no ar resulta do balanço entre emissão e dispersão.
No primeiro quesito, os veículos são, desde meados dos anos 80, os principais vilões. Eles são responsáveis, por exemplo, por 98% do CO e 52% das MP10.
No quesito dispersão, o inverno passado teve o menor número de dias favoráveis à dissipação de poluentes (112) desde 1999 (130) e o maior número de dias desfavoráveis no mesmo intervalo (41 em 2003 contra 23 em 1999).
Em 2003, a precipitação acumulada no inverno foi de 127,6 mm, contra 219 mm em 2002, 273 mm em 2001 e 284 mm em 2000 (1 mm é igual a 1 l por 1 m2). A chuva lava a atmosfera e é importante principalmente na dissipação das partículas inaláveis e do NO2.
Outro fator fundamental para a dispersão são as inversões térmicas. O inverno de 2003 teve o maior número de inversões térmicas abaixo de 200 m desde 1998: 43 contra 38. Elas "aprisionam" os poluentes na superfície.



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