|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEGURANÇA
São Paulo e Guarulhos dizem que dados do Infocrim que recebem são insuficientes para uma ação preventiva
Cidades criticam base de dados de crimes
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
As prefeituras de São Paulo e de
Guarulhos afirmam que o Infocrim (base de dados informatizada das ocorrências policiais no
Estado) não está cumprindo o seu
papel de orientar ações municipais de prevenção ao crime.
Segundo as duas primeiras cidades a receber o sistema -outras foram incorporadas depois-, o acesso oferecido pela
Secretaria Estadual da Segurança
Pública é insuficiente e não traz
dados para a elaboração de programas locais contra a violência.
O Infocrim é um sistema informatizado, disponível para as polícias Militar e Civil, que permite
mapear crimes com base em variáveis como tipo de delito, horário e local em que foram cometidos e características dos envolvidos. Ele foi criado em São Paulo
no final de 2000, mas a promessa é
que o sistema seja estendido a todo o Estado.
O sistema começou a sair do papel em 2002, com a liberação de
cerca de R$ 400 mil do Fundo Nacional de Segurança para o Fórum
Metropolitano de Segurança de
São Paulo, que reúne 39 municípios. O sistema é alimentado pelos dados dos distritos policiais e
serve de referência para ações da
polícia estadual.
Mas o programa também deveria subsidiar ações municipais de
prevenção à criminalidade -por
isso, a liberação do dinheiro pelo
fórum. O convênio já previa que
as prefeituras não teriam o mesmo acesso que um distrito policial, mas São Paulo e Guarulhos
afirmam que a versão simplificada oferecida aos municípios torna
o programa praticamente inútil.
Acesso limitado
"É um acesso extremamente limitado. Não há condições de traçar estratégias para a guarda e para a prefeitura. Com essa versão, é
impossível fazer um planejamento estratégico preventivo", afirmou Benedito Domingos Mariano, secretário da Segurança Urbana da cidade de São Paulo.
A Prefeitura de São Paulo, administrada pelo PT, tem acesso ao
Infocrim há dez meses.
Os municípios têm acesso a
apenas dois mapas do Infocrim,
segundo Paulo de Mesquita Neto,
secretário-executivo do Instituto
São Paulo Contra a Violência e do
fórum metropolitano. "Não estou
dizendo que o governo rompeu o
convênio, mas, realmente, as informações são poucas", disse.
De acordo com ele, o primeiro
mapa traz a concentração de crimes por regiões. O segundo retrata as ruas com maior ocorrência
de crimes, só que não informa os
números absolutos. Divide as
ruas por faixas -onde são informados o mínimo e o máximo de
ocorrências por região.
Segundo Mariano, o acesso restrito impede a formulação de um
programa de segurança nas escolas municipais baseado em dados
estatísticos. "Montamos o serviço
com a ajuda de professores. Com
o Infocrim, poderíamos confirmar se estamos agindo no lugar
certo", afirma.
Mariano diz que vai submeter
essa questão ao fórum, que tem
uma reunião marcada para o começo de março. "Em New York e
em Londres, a população consegue saber dados criminais de seu
distrito pela internet [em São
Paulo, apenas da cidade]. Isso
prova que essas informações não
comprometem em nada a ação
policial", diz Mesquita Neto.
Ineficaz
Para Rubens Isquierdo Marques Gonçalves, secretário para
Assuntos de Segurança de Guarulhos, município administrado pelo PT, o acesso disponibilizado do
Infocrim é ineficiente. "Na prática, para o serviço ao qual se dispõe, mostrou-se ineficaz. Até agora, o Infocrim teve pouca valia." O
município tem acesso ao Infocrim há cinco meses.
Ele diz que a prefeitura precisa
ter acesso a dados absolutos, e
não por faixas, e necessita de uma
identificação mais exata do local
do crime. "Dependendo da cidade, existem muitos cruzamentos
em uma área delimitada. Precisamos de uma localização precisa
para colocarmos a nossa guarda
nos piores cruzamentos", explica.
O consultor para assuntos de segurança pública de Mogi das Cruzes, último município a ter acesso
ao Infocrim, Isidoro Dori Boucault Netto, informou, por meio
da assessoria da prefeitura, que
"qualquer modificação no sistema para dar mais precisão aos
mapas será bem-vinda".
O município administrado pelo
PSDB -mesmo partido do governo estadual- tem acesso ao
sistema de dados há dois meses.
Na nota, Boucault Netto afirma
que o Infocrim foi uma conquista
para a cidade, mas não comentou
se os dados disponíveis até agora
são suficientes para atingir o objetivo do programa.
Outro lado
Questionada sobre o problema,
a assessoria da Secretaria da Segurança Pública informou apenas
que cumpriu o que previa o convênio entre o governo e as prefeituras. Não comentou, por exemplo, se haveria possibilidade de
aumentar o acesso aos municípios da região metropolitana.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Acidente: Batida em estrada paulista deixa 9 feridos Índice
|