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ZOOLÓGICO
Para presidente do Conselho Orientador, será difícil repor bichos envenenados, como o orangotango
Zôo deve perder confiança internacional
DA REPORTAGEM LOCAL
O envenenamento que levou à
morte de 59 animais no Zoológico
de São Paulo é "uma atitude terrorista absurda, que tem de ser
exemplarmente punida", até para
ajudar a instituição a superar a
principal seqüela dos incidentes:
o comprometimento da imagem
internacional do parque, que, por
isso, deve ter permutas com outros zôos do mundo e recebimento de novos bichos afetados.
A opinião é do presidente do
Conselho Orientador da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, Miguel Trefaut Rodrigues, 50,
que também é professor do Departamento de Zoologia no Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo).
Leia a seguir trechos.
(MARIANA VIVEIROS)
Folha - O sr. acha que as mortes
vão ter alguma conseqüência para
a imagem do zôo perante entidades internacionais de zoológicos?
Miguel Trefaut Rodrigues - Não
tenha a menor dúvida. Do mesmo
jeito que sensibiliza uma criança
saber que o elefante que ela queria
ver ou viu há alguns dias morreu
porque alguém o matou, isso afeta também os zoológicos internacionais que estão interessados em
permutar animais. Para isso voltar a acontecer, vai ser preciso um
trabalho feito com muito afinco.
As pessoas sabem que é um maluco, mas é a tal coisa: depois que
"dinamitaram" as torres gêmeas
[do World Trade Center, nos
EUA], as pessoas não pegam mais
avião do mesmo jeito. É mais ou
menos o mesmo com o zôo.
Folha - Leva tempo para reconquistar a confiança?
Rodrigues - Especialmente, vou
te dizer, no caso de um orangotango. Imagina onde é que você
vai conseguir um orangotango
hoje. Um orangotango fêmea [como o que morreu no zoológico]
ainda mais. As pessoas têm, mas é
disputadíssimo. No momento da
entrega, elas se perguntam: vamos dar para São Paulo ou vamos
dar para o zoológico de San Diego
ou de Paris, onde não aconteceu
nada? Há um tempo atrás, havia
um projeto de trazer coalas para
cá. Coalas são herbívoros. É claro
que agora os doadores vão ficar
de orelha em pé. E a recuperação
da confiança vai necessariamente
estar atrelada à pena que o culpado ou culpados vão receber porque os países lá fora vão estar de
olho aberto para impunidade.
Folha - Recentemente, por causa
de mortes no zoológico de Washington (EUA), foi feita uma espécie de auditoria externa por especialistas. Isso não poderia ocorrer
também em São Paulo, até para assegurar a imagem do zôo?
Rodrigues - Essa diretoria do
zoológico está absolutamente
aberta a contribuições, tem visitado outros zoológicos brasileiros e
internacionais, está fazendo o
possível para qualificar ao máximo o trabalho que está sendo feito. Está sempre em contato com
gente da Universidade de São
Paulo, está super bem assessorada
e monitorada. O parque está sempre sendo vigiado e criticado e isso tem contribuído muito para a
melhoria das coisas que estão sendo feitas.
Folha - Não havia nenhum ponto
falho nas rotinas e nos procedimentos do zôo que facilitassem
mortes como as que ocorreram?
Rodrigues - Foi coisa de um maluco. O zoológico vem tendo um
procedimento padrão com seus
bichos desde sua fundação [em
1958]. Sempre teve problemas de
pragas, sempre teve controle de
pragas. Nunca teve mais mortes
do que as aceitas internacionalmente [entre 15% e 20% do acervo por ano] e nunca bichos que
estavam bem de saúde começaram a morrer de uma hora para
outra. Sempre existem pontos falhos, mas a gente só percebe essas
coisas a posteriori. Você diria que
havia um ponto falho nas torres
do World Trade Center? Você diria que havia um ponto falho na
segurança do cinema antes de um
cara entrar e metralhar as pessoas
lá dentro? Não. Isso acontece por
causa de pessoas que fogem totalmente da norma geral, do padrão
de conduta da média.
Folha - A posteriori, o sr. poderia
apontar algo que teria facilitado as
mortes por envenenamento?
Rodrigues - Não poderia.
Folha - Esse tipo de incidente deve levar o zoológico a repensar
seus procedimentos?
Rodrigues - Isso vai levar à alteração de algumas das rotinas.
Quais exatamente eu não sei porque a investigação ainda não está
concluída. Não sei nem se vai prevalecer o duplo controle [no qual
um funcionário fiscaliza o que o
outro faz] porque não é comum,
mas vão fiscalizar mais.
Folha - Houve algum problema
recentemente no zoológico?
Rodrigues - Nenhum problema.
O zoológico vem andando muito
bem depois do começo das atividades dessa nova diretoria [iniciadas em 2001]. Têm sido feitas
coisas que nunca foram feitas: um
novo sistema de parcerias, de estagiários, a rotina que se implantou nas seções de veterinária.
Folha - Além de abalar a imagem
do zôo, que outros efeitos as mortes podem ter?
Rodrigues - O pior é para a população. Acho que a gente vai notar uma diminuição nas visitas.
As pessoas que vão ao zoológico
comem e podem pensar que, se
aconteceu com os bichos, por que
não pode acontecer com gente?
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