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SAÚDE
Além da perda auditiva, quem trabalha em ambientes barulhentos sofre com o estresse, que leva a doenças
Ruído constante pode causar hipertensão
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ruídos desagradáveis, venham
eles do trânsito, do ambiente de
trabalho ou dos tamancos da vizinha do apartamento de cima, podem levar a alterações hormonais,
hipertensão arterial e até a problemas cardiovasculares, quando incomodam diariamente e durante
um longo período.
A exposição constante a ruídos
intensos -superiores a cerca de
80 decibéis-, além de causar perda auditiva, provoca um estresse
capaz de levar a diversos problemas de saúde. Barulhos como o
de uma goteira, quando atrapalham o sono todas as noites, não
têm efeito na audição, mas podem causar estresse.
A percepção do que é "barulho"
e as reações a ele variam de pessoa
para pessoa. "Barulho é qualquer
coisa que nos irrita. A noção do
incômodo é subjetiva. No mesmo
ambiente, um indivíduo pode
adoecer e o outro, não", declara o
médico otorrinolaringologista
Gilberto Pizarro, do Departamento de Distúrbios da Comunicação
Humana da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que utiliza um furgão adaptado para realizar exames em locais onde existem muitos ruídos, como postos
de gasolina.
Jefferson Alves, 32, motorista de
ônibus há nove anos, afirma que
descobriu que tinha começado a
perder parte da audição quando
foi examinado por Pizarro. "Sinto
muita dor de cabeça, irritação.
Não consigo relaxar nem quando
durmo", diz Alves. O médico afirma que, se não alterar sua rotina e
alimentação [veja texto ao lado", o
motorista terá problemas. "Ele
tem tudo para amanhã terminar
com hipertensão."
O cardiologista Abrão José Cury
Júnior, presidente da Regional
São Paulo da Sociedade Brasileira
de Clínica Médica, lembra que o
barulho é considerado uma forma de tortura justamente pelo estresse que pode gerar. "Dependendo do tipo de ruído, o estresse,
por conta da liberação de hormônios, pode condicionar a elevação
da pressão arterial. Com o tempo,
pode haver outras complicações."
Em algumas pessoas, as crises
de enxaqueca -dor de cabeça de
origem genética causada por alterações no cérebro- são desencadeadas por exposição a ruídos.
A vendedora Marina Lima, 34,
conta que perdeu há quatro meses o emprego em uma loja próxima ao aeroporto de Congonhas,
zona sul de São Paulo. Apesar das
dificuldades financeiras, diz que
ganhou mais qualidade de vida.
Com o emprego, afirma, foram
embora a dor de cabeça, o estresse
e a insônia. "Sem barulho, não tenho dor e estou bem menos irritada. Meu marido adorou."
De acordo com Marina, seu ciclo menstrual também ficou mais
regular. "Não imaginava que as
variações pudessem estar ligadas
ao local de trabalho. Descobri
quando saí do emprego."
Estresse orgânico
O ruído, dizem os médicos, "estressa" os sistemas circulatório,
digestivo e respiratório. Pode interferir no aprendizado de crianças e até afetar um bebê que está
para nascer. "Gestantes que trabalham em ambientes ruidosos
têm mais incidência de má posição fetal e costumam ter partos
mais complicados", diz o diretor
da Fundação Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da
USP, Edigar Rezende de Almeida.
Em ambientes em que há exposição constante a ruídos, os médicos recomendam a realização de
exames desde a admissão do funcionário, para mapear a capacidade auditiva. O ideal é renovar a
avaliação de seis em seis meses,
prestando atenção às alterações
de humor e de sono, primeiros indícios de outros problemas.
Desde 97, após mudanças nas
leis, cresceu a atribuição de responsabilidade às empresas nos
casos em que funcionários perdem a capacidade auditiva por exposição prolongada a ruído excessivo. No caso de problemas extra-auditivos causados por ruído,
a responsabilização é mais difícil,
segundo especialistas em direito.
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