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Cervejarias descumprem veto a erotismo
Fabricantes voltam a usar mulheres em propagandas com apelo sexual, apesar de terem se comprometido a evitar prática
Associação de cervejarias vê falhas pontuais; conselho de fiscalização do setor, Conar promete fiscalizar abuso em ações de outros produtos
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Três anos após se comprometerem a não recorrer ao apelo sexual em anúncios de bebidas alcoólicas, as cervejarias
voltaram a abusar de cenas com
conotação erótica nas campanhas publicitárias deste verão.
Integrantes do mercado publicitário e representantes dos
produtores de álcool admitem
que parte da última safra de
propaganda desrespeita o acordo de auto-regulamentação.
"É preciso que haja muita
responsabilidade para que a
gente não perca a liberdade",
alerta Dalton Pastore, presidente da Associação Brasileira
de Agências de Publicidade.
O superintendente do sindicato das cervejarias, Marcos
Mesquita, também reconheceu
"algumas irregularidades sob o
conceito ético" na nova safra de
comerciais, sem citar nomes.
"Todos esses equívocos ou casos de mau gosto são pontuais."
A Folha apurou que o Conar
(Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária)
já recebeu denúncias contra a
Antarctica (Ambev) em razão
do anúncio em que a atriz Juliana Paes atua como dona do
Bar da Boa. O Conar tem poder
para tirar um comercial do ar.
Em um dos comerciais, Juliana ameaça "botar para fora"
os clientes que batem os pés
para ver os seios dela balançar- eles respondem "bota,
bota", em referência aos seios.
Já a atriz Karina Bacchi e a
apresentadora Adriane Galisteu viraram "namoradas" do
"baixinho" da Kaiser, da fábrica mexicana Femsa. Em um
dos filmes, garotas tiram as
roupas umas das outras em
uma disputa pelo garoto-propaganda até ficarem de biquíni.
A cerveja Cintra, do grupo
português homônimo, é mais
explícita. Lançou há uma semana comercial em que a modelo Dani Lopes, ao abaixar para pegar uma cerveja, expõe a
tatuagem "tô dentro" na altura
do cóccix. Há marcas ainda que
têm distribuído gibis eróticos.
"Não há sutileza, as mulheres estão ali para serem consumidas. Os anúncios revelam
que a mulher é algo para servir
ao homem e mostram como estamos longe de uma sociedade
com eqüidade de gêneros", diz
Berenice Bento, doutora em
sociologia e pesquisadora da
Universidade de Brasília.
Para Ilana Pinsky, coordenadora do Ambulatório de Adolescentes da Uniad (Unidade
de Pesquisa em Álcool e Drogas), da Unifesp, as propagandas utilizam linguagem simplista, associações diretas entre beber e conquistar mulheres, parte de uma estratégia
muito mais pesada de marketing. "Talvez ficaram mais apelativas em razão da entrada da
Femsa no mercado."
O presidente do Conar, Gilberto Leifert, diz que o órgão
passará a monitorar todas as
propagandas -não só as de
cerveja- para verificar se está
havendo falta de ética no uso
de mulheres em comerciais.
O anexo sobre bebidas alcoólicas do Código Brasileiro de
Auto-Regulamentação Publicitária, publicado em 2003 pelo
Conar, diz que os anúncios
"não se utilizarão de imagens,
linguagem ou idéias que sugiram ser o consumo do produto
sinal de maturidade ou que
contribua para o êxito profissional, social ou sexual".
O objetivo da regra era que se
promovessem marcas e não
quantidade de consumo -ficou
acordado que a associação entre bebida e erotismo pode levar ao consumo abusivo.
A auto-regulamentação de
dezembro de 2003 ocorreu
após ameaça do governo, nunca concretizada, de endurecer
no controle do álcool, inclusive
sobre a propaganda, com horário restrito para as cervejarias.
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