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Governo propõe conceder um quarto da área
DE BRASÍLIAA Secretaria de Habitação do Distrito Federal afirma já ter uma solução para os cerca de 180 moradores com HIV e familiares da comunidade no Recanto das Emas.
O governo propõe a cessão de um quarto do terreno (onde está a maior parte das casas) por um prazo de 30 a 50 anos, renováveis.
Uma minuta foi elaborada, mas nada está assinado.
Após um ano da notificação oficial para que deixassem o terreno, os moradores querem ver para crer. As expansões e reformas da estrutura foram suspensas.
"A gente não pagou um pedreiro para fazer as casas. Foi com as nossas mãos. Isso aqui é nossa vida", diz Silma Araújo, 38, que está na comunidade desde os anos 1990.
Ela diz que o grupo ficou abalado com a possibilidade de perder o terreno e se separar. "Não é um problema só meu e da minha filha: tem o Eduardo, o Maykon... Pessoas que não tinham apoio. Aqui, ganharam um lar."
Grande parte dos moradores teve um diagnóstico tardio da doença --e, uma vez confirmada a infecção, foram vítimas de preconceito.
"É esse bichinho que acaba com a vida da gente", afirma Izabel Cristina Guimarães, 60. Ela descobriu ter o HIV há cerca de cinco anos, pouco antes de ir para o local. Ao chegar, pesava 35 quilos; hoje, tem 78. Foi ali que conheceu o atual companheiro, Firmino, responsável pela despensa da cozinha.
Alcoólatra, ele conta que o trabalho ajuda a superar as crises de abstinência. "Hoje estou me segurando: passou o dia dos pais e nenhuma das minhas filhas veio. Custava pegar o telefone para dar os parabéns?", lamenta.
Para todos, a referência e o respaldo vêm de Jussara Meguerian, a "tia Jussara", que criou o local e faz visitas quase diárias. "Dona' não passa o carinho. E só Jussara' não passa o respeito que ela tem aqui", diz Silma.