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Maior ganhador da Mega-Sena se livra de acusação de fraude

Grupo de apostadores dizia que bilhete premiado era parte de um bolão e havia sido desviado por um dos participantes

Primeiro inquérito responsabilizava vencedor do sorteio, mas Promotoria pediu nova investigação

FELIPE BÄCHTOLD ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO HERVAL (RS)

Ortenilo Nicolau, 69, era um pequeno empresário do interior gaúcho em aperto financeiro quando acertou, em 2010, as seis dezenas da Mega-Sena e levou o maior prêmio individual já pago.

Antes de usar os R$ 119 milhões, porém, precisou provar que tinha sido o autor da aposta e ainda desmontar uma versão --inicialmente aceita pela polícia-- de que o bilhete premiado era na verdade de um bolão.

O alívio veio somente no mês passado, quando o Ministério Público denunciou 12 pessoas sob acusação de mentir e tentar enganar a Justiça com a história do bolão.

Hoje dono de fortuna equivalente a três anos de salário do craque argentino Lionel Messi, o apostador vivia até o dia do sorteio em São José do Herval, 2.200 habitantes e a 176 km de Porto Alegre.

Como não havia lotérica no município, registrou os bilhetes em Fontoura Xavier, cidade vizinha, onde a notícia de que o prêmio recorde havia saído de uma lotérica local logo ouriçou moradores.

Foi então que funcionários da prefeitura passaram a afirmar que o bilhete sorteado tinha sido desviado de um bolão. Dez pessoas se disseram parte do grupo de apostadores e recorreram à polícia.

Nos meses seguintes, era com eles que a sorte parecia estar: a apuração de policiais de Porto Alegre deu razão ao grupo. A versão deles acusava um colega da prefeitura, Décio Sabadin, 64, que havia registrado as apostas, de sumir com o bilhete premiado e entregá-lo a Nicolau em troca de parte da fortuna.

Em 2011, o inquérito foi concluído pedindo a responsabilização de Nicolau, Sabadin e mais três pessoas.

A reviravolta veio meses depois: a Justiça considerou o inquérito falho e determinou nova investigação para esclarecer se houve falsa comunicação de crime.

No mês passado, depois de receber o resultado da nova apuração da polícia, o Ministério Público decidiu denunciar os integrantes do bolão e o prefeito de Fontoura Xavier à época, sob suspeita de denúncia caluniosa, coação, falso testemunho e extorsão.

O horário das apostas foi a prova crucial para a nova conclusão: o grupo do bolão dizia que os jogos tinham sido registrados pela manhã, enquanto o bilhete premiado foi computado à tarde.

VENCEDOR

Na época em que a legitimidade de seu prêmio parecia abalada, Nicolau já havia sacado sua fortuna. Apesar das investidas do grupo do bolão na Justiça, o valor nunca chegou a ser bloqueado.

A família do empresário se mudou às pressas para Porto Alegre e comprou uma mansão no litoral e fazendas.

Antes de ganhar o sorteio, Nicolau sofria com ações judiciais de cobrança e viu seu frigorífico perder mais da metade dos funcionários. O governo barrou R$ 2,5 milhões do prêmio por problemas antigos de pagamento de contribuições.

Nicolau, segundo moradores de São José do Herval, pouco aparece por lá hoje.

Voltou a se envolver com a cidade apenas na campanha eleitoral de 2012 --apoiou um candidato à prefeitura (que, se vencesse, administraria um orçamento anual equivalente a 9% do prêmio da Mega-Sena de 2010).

Inocentado pela polícia e Promotoria, Nicolau ainda tenta na Justiça reparação contra seus acusadores.

Figura conhecida no município, o apostador é blindado por parte dos moradores, que evitam falar sobre ele.

A Folha não o localizou na semana passada. Seu advogado disse que ele estava em viagem e não poderia falar.

Devido ao prêmio, São José do Herval passou a ter um frigorífico melhor.

E outra consequência: a cidade agora tem sua lotérica. "Aumentou a quantidade de gente que joga. Quando vê o vizinho ganhar, a pessoa pensa que também pode", diz o funcionário público Rodrigo Fiorentim, 42.


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