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Análise
Blocos de rua revivem espontaneidade e elementos essenciais do Carnaval
PAULO ROBERTO PIRES ESPECIAL PARA A FOLHAOu o Carnaval carioca ganhava as ruas ou corria o risco de virar para sempre sinônimo do cortejo, no mais das vezes tedioso, da Sapucaí.
Como espetáculo, o desfile das escolas de samba é imbatível. Como festa, separa a uma distância segura folião e folia. Por isso, os blocos que hoje ocupam e até infernizam a cidade são o elo perdido da brincadeira. Na batida dos blocos, a evolução é exuberante, e o enredo, caótico.
NOSTALGIA
O que é bom, já que qualquer um se diverte no embalo de qualquer música.
E, é claro, também ruim, pois qualquer marmanjo de cara cheia, trucidando um tamborim, se acha o próprio cidadão do samba.
Desde sempre, bloco de rua não tem fórmula. O que pode dar na multidão emocionante (e assustadora) de um Cordão da Bola Preta, 95 anos em atividade, ou num chocho amontoado de playboys e patricinhas que não sobreviverá até o próximo fevereiro. O que ameaça o Carnaval não é a impureza, seu combustível, mas a nostalgia.
Para os passadistas de plantão, o melhor já foi e a única possibilidade de hoje é viver para ontem. No entanto, enquanto estes evocam uma cafona "magia dos antigos Carnavais", a rua ferve com samba e funk, frevo e marchinhas, foliões à antiga e noviços desorientados.
A praça é do povo, lembrava Caetano nos anos 1970, como o céu é do avião. Os blocos não são, portanto, uma moda passageira. Representam o reencontro de uma festa com seu elemento essencial, a espontaneidade. E tudo o que ela pode trazer.