São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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DEPOIS DAS URNAS

Troca de governo não dissolverá a crise, afirmam analistas

Desempenho da economia no 1º ano independe do eleito

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O desempenho da economia brasileira no primeiro ano do novo governo praticamente independe de quem será o novo presidente.
A crise pela qual passa o país -consumo retraído, desemprego elevado, taxa de câmbio pressionada e inflação em alta- não se dissolverá com a troca de governo. O cenário externo também sugere que não haverá retomada da economia internacional, o que pesa negativamente para o país.
Essa é a análise comum de boa parte dos economistas de consultorias, bancos e universidades sobre o desempenho da economia em 2003. "O tamanho da crise é tão grande que, no próximo ano, tanto faz quem será o presidente", afirma Mariano Laplane, do Instituto de Economia da Unicamp.
"Vejo um início de governo complicado. A inflação vai subir independentemente de quem ganhar a eleição. A pressão sobre o câmbio já embutiu aumentos de preços nos produtos finais."
Até sexta-feira passada, o mercado trabalhava com a hipótese de que se ocorrer segundo turno ele se dará entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB).
Na análise de Laplane, os dois candidatos vão encorajar as exportações como forma de afastar o cenário de crise econômica. "Agora, se houver um ataque muito violento contra o câmbio, a crise se aprofunda com José Serra ou com Lula", afirma o economista.
A inflação em alta e a taxa de câmbio pressionada vão perturbar o Brasil no início do ano que vem seja quem for o presidente, também na análise de Fábio Silveira, economista da MBA. Isso, diz, deve levar o país a enfrentar uma retração de consumo e do ritmo de atividade da indústria, especialmente no primeiro semestre de 2003.
Pelos economistas ouvidos pela Folha, no primeiro ano de governo de Lula, a economia brasileira cresceria entre zero e 3%. Sob o comando de Serra, entre 2% e 4%. Com o candidato petista, a inflação anual chegaria a dois dígitos e o câmbio médio, a R$ 3,40. Com o tucano, a inflação ficaria em 6% e o dólar médio, em R$ 3,15. Ao citar os números, eles dizem que as projeções são ainda iniciais.
Com Lula, a economia teria um desempenho um pouco pior, dizem, porque haveria um período de adaptação entre o novo governo e a sociedade, o que não aconteceria com o candidato do governo. A expectativa em torno de nomes que farão parte da equipe econômica deve ainda, segundo eles, postergar decisões tanto quanto a investimentos como à produção e ao emprego. O mercado financeiro deve também ficar mais nervoso, o que pode pressionar mais o câmbio. O principal desafio de Lula, na análise dos economistas, será vencer a batalha da credibilidade. Se logo nos primeiros meses o governo petista conseguir transmitir ao país e ao mundo que vai priorizar uma política fiscal dura, o aumento das exportações, a redução do desemprego e, portanto, o crescimento do país, os investimentos retomam, inclusive dos estrangeiros. Isso pode levar os mercados interno e externo a ter mais confiança no novo governo e a economia a crescer nas mãos de Lula até mais do que o previsto.
Alguns economistas têm ainda como cenário para o país um governo Lula que surpreende positivamente -aquele que vai nomear uma equipe econômica de alta reputação e que, portanto, vai desarmar a parcela mais pessimista do mercado logo no início do mandato, o que levaria o país a registrar taxa de crescimento acima de 2,5% já em 2003.
Se o governo petista levar mais tempo para convencer o mercado de que fará um governo tranquilo, na análise dos economistas, o dólar tende a permanecer elevado por um período maior, a inflação tende a subir e a renda da população, a diminuir -o que resulta em menos consumo, produção e crescimento do país. Mas isso afetaria mais o primeiro ano do governo Lula. O segundo, dizem, seria mais tranquilo.
Na análise da Luís Suzigan, economista-chefe da consultoria LCA, o governo Lula terá mais dificuldade, especialmente nos três primeiros meses de mandato, para realizar a descompressão cambial -isto é, reduzir a pressão sobre o câmbio- e restaurar linhas de crédito, que hoje já estão mais restritas e escassas.
Com Lula ou com Serra, afirma Suzigan, o que deve ter influência sobre o crescimento do país é o desempenho da economia internacional. Pela sua estimativa, o PIB cresce 2,3% com Lula e 2,8% com Serra em 2003. A expectativa de inflação com os petistas fica em 6,5% e com os tucanos em 5,5%.


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