|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DEPOIS DAS URNAS
Troca de governo não dissolverá a crise, afirmam analistas
Desempenho da economia no 1º ano independe do eleito
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O desempenho da economia
brasileira no primeiro ano do novo governo praticamente independe de quem será o novo presidente.
A crise pela qual passa o país
-consumo retraído, desemprego elevado, taxa de câmbio pressionada e inflação em alta- não
se dissolverá com a troca de governo. O cenário externo também
sugere que não haverá retomada
da economia internacional, o que
pesa negativamente para o país.
Essa é a análise comum de boa
parte dos economistas de consultorias, bancos e universidades sobre o desempenho da economia
em 2003. "O tamanho da crise é
tão grande que, no próximo ano,
tanto faz quem será o presidente",
afirma Mariano Laplane, do Instituto de Economia da Unicamp.
"Vejo um início de governo
complicado. A inflação vai subir
independentemente de quem ganhar a eleição. A pressão sobre o
câmbio já embutiu aumentos de
preços nos produtos finais."
Até sexta-feira passada, o mercado trabalhava com a hipótese
de que se ocorrer segundo turno
ele se dará entre os candidatos
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e
José Serra (PSDB).
Na análise de Laplane, os dois
candidatos vão encorajar as exportações como forma de afastar
o cenário de crise econômica.
"Agora, se houver um ataque
muito violento contra o câmbio, a
crise se aprofunda com José Serra
ou com Lula", afirma o economista.
A inflação em alta e a taxa de
câmbio pressionada vão perturbar o Brasil no início do ano que
vem seja quem for o presidente,
também na análise de Fábio Silveira, economista da MBA. Isso,
diz, deve levar o país a enfrentar
uma retração de consumo e do
ritmo de atividade da indústria,
especialmente no primeiro semestre de 2003.
Pelos economistas ouvidos pela
Folha, no primeiro ano de governo de Lula, a economia brasileira
cresceria entre zero e 3%. Sob o
comando de Serra, entre 2% e 4%.
Com o candidato petista, a inflação anual chegaria a dois dígitos e
o câmbio médio, a R$ 3,40. Com o
tucano, a inflação ficaria em 6% e
o dólar médio, em R$ 3,15. Ao citar os números, eles dizem que as
projeções são ainda iniciais.
Com Lula, a economia teria um
desempenho um pouco pior, dizem, porque haveria um período
de adaptação entre o novo governo e a sociedade, o que não aconteceria com o candidato do governo. A expectativa em torno de nomes que farão parte da equipe
econômica deve ainda, segundo
eles, postergar decisões tanto
quanto a investimentos como à
produção e ao emprego. O mercado financeiro deve também ficar
mais nervoso, o que pode pressionar mais o câmbio. O principal
desafio de Lula, na análise dos
economistas, será vencer a batalha da credibilidade. Se logo nos
primeiros meses o governo petista conseguir transmitir ao país e
ao mundo que vai priorizar uma
política fiscal dura, o aumento das
exportações, a redução do desemprego e, portanto, o crescimento
do país, os investimentos retomam, inclusive dos estrangeiros.
Isso pode levar os mercados interno e externo a ter mais confiança
no novo governo e a economia a
crescer nas mãos de Lula até mais
do que o previsto.
Alguns economistas têm ainda
como cenário para o país um governo Lula que surpreende positivamente -aquele que vai nomear uma equipe econômica de
alta reputação e que, portanto, vai
desarmar a parcela mais pessimista do mercado logo no início
do mandato, o que levaria o país a
registrar taxa de crescimento acima de 2,5% já em 2003.
Se o governo petista levar mais
tempo para convencer o mercado
de que fará um governo tranquilo,
na análise dos economistas, o dólar tende a permanecer elevado
por um período maior, a inflação
tende a subir e a renda da população, a diminuir -o que resulta
em menos consumo, produção e
crescimento do país. Mas isso afetaria mais o primeiro ano do governo Lula. O segundo, dizem, seria mais tranquilo.
Na análise da Luís Suzigan, economista-chefe da consultoria
LCA, o governo Lula terá mais dificuldade, especialmente nos três
primeiros meses de mandato, para realizar a descompressão cambial -isto é, reduzir a pressão sobre o câmbio- e restaurar linhas
de crédito, que hoje já estão mais
restritas e escassas.
Com Lula ou com Serra, afirma
Suzigan, o que deve ter influência
sobre o crescimento do país é o
desempenho da economia internacional. Pela sua estimativa, o
PIB cresce 2,3% com Lula e 2,8%
com Serra em 2003. A expectativa
de inflação com os petistas fica em
6,5% e com os tucanos em 5,5%.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Frase Índice
|