São Paulo, quarta-feira, 10 de junho de 2009

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PIB/ 1º TRIMESTRE

PIB cai 0,8%, mas consumo e serviços atenuam recessão

Gasto das famílias e massa salarial reduzem efeito do colapso da indústria e dos investimentos

Com 2 trimestres seguidos de crescimento negativo, país entra em recessão, mas setor de serviços, o maior da economia brasileira, resiste


GUSTAVO PATU
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A produção de máquinas e equipamentos, as obras de infraestrutura, as exportações e as importações tiveram quedas dignas de uma depressão econômica. Já salários, compras do dia a dia e serviços básicos como saúde e educação perderam o ímpeto de meses atrás, mas voltaram a crescer.
O retrato da produção nacional no primeiro trimestre do ano, divulgado ontem pelo IBGE, mostra um alívio imediato dos efeitos da crise global para a maior parte da população brasileira -afinal, o setor de serviços é o que mais emprega, o gasto público se mantém em alta e o consumo das famílias move quase dois terços da economia.
No entanto, a expectativa de reviver momentos de crescimento mais robusto registrado nos últimos anos esbarra nos resultados dos investimentos públicos e, principalmente, privados, necessários para ampliar a capacidade de produção e que ainda estão distantes de alguma recuperação.
Tudo somado, o PIB do país no primeiro trimestre teve queda de 0,8% na comparação com o último trimestre do ano passado, que já havia contabilizado uma perda de 3,6%, a maior desde que o Plano Collor promoveu o confisco da poupança e demais depósitos bancários, em 1990.
Pela regra de identificação mais universalmente adotada, o país entrou em recessão com dois trimestres consecutivos de queda do Produto Interno Bruto -a medida da renda nacional que compreende indústria, agropecuária, comércio e serviços, consumo privado, gasto público, investimentos, exportações e importações.
Embora tenha confirmado a reviravolta mais aguda em quase 20 anos, o resultado do primeiro trimestre permitiu uma leitura otimista já posta em prática ontem pelo governo Lula. Após o susto com o inesperado desastre do final de 2008, o período seguinte acabou melhor do que se projetava.
Na pesquisa periódica feita pelo Banco Central, as estimativas do mercado apontavam um PIB no primeiro trimestre 2,2% menor que o do mesmo período de 2008 -a queda medida pelo IBGE foi de 1,8%, ainda assim a maior desde o final de 1998, quando o país vivia os efeitos da crise russa.
Vistos mais de perto, os números mostram que a recessão, na sua definição mais vulgar, não chegou para todos, nem sequer para a maioria. Basta dizer que o setor de serviços, em que estão 60% do PIB, não caiu por dois trimestres consecutivos: teve expansão de 0,8% no primeiro trimestre, após a queda de 0,4% no final de 2008.
Nesse grupo estão atividades do cotidiano que vão desde a escola dos filhos até os aluguéis, da oferta de saúde ao seguro do carro. É um setor que só costuma ver retrações quando há disparada do desemprego ou queda forte dos salários, até agora inexistentes.
Pelo contrário: a massa salarial -que leva em conta o volume de emprego e os rendimentos- do primeiro trimestre ainda foi 5,2% maior que a de um ano antes. E o consumo das famílias, depois de encolher 1,8% na derrocada geral do final de 2008, subiu 0,7% na comparação com o trimestre anterior.
Boa parte da explicação está em medidas que o governo tomou muito antes do agravamento da crise global, caso do pacote generalizado de reajustes salariais para o funcionalismo, do aumento real do salário mínimo e da ampliação dos benefícios do Bolsa Família.
Se o gasto público -mais as medidas oficiais de redução de impostos e aumento do crédito nos bancos federais- e o mercado interno contribuíram para amortecer o impacto da recessão, menos claro é se e quando a economia retomará o ritmo de um ano atrás, quando o consumo crescia no dobro da velocidade.
Os investimentos, colocados no centro da agenda econômica com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), passaram pela mais brusca reversão já medida pela atual metodologia do IBGE -caíram 9,3% no final do ano passado e mais 12,6% no início do ano.
Do resto do mundo não há muita ajuda disponível. As exportações tiveram queda pelo terceiro trimestre consecutivo, e desta vez de 16%, também a maior, de longe, da série histórica iniciada em 1996.
Maior prejudicada pelo colapso dos investimentos e das exportações, a indústria acumula queda igualmente recorde, de 8,2% no quarto trimestre de 2008 e de 3,1% no primeiro. O setor agropecuário, primeiro a se ressentir da queda internacional dos preços dos produtos primários, encolheu pelo terceiro trimestre consecutivo, à taxa de 0,5%.


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