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Suspeita de inflação 'manipulada' arranha credibilidade argentina
Até políticos governistas duvidam de taxa oficial, definida como 'absurda'
DE BUENOS AIRES
A falta de respostas políticas
às questões econômicas é
apontada por analistas como
um dos pontos fundamentais
para a perda de credibilidade da
Argentina no cenário internacional. No eixo dessa discussão
estão os índices de inflação, sob
suspeita de manipulação desde
o início do ano passado.
Na última segunda-feira, o
Indec (o IBGE local) anunciou
que a inflação de julho no país
foi de 0,4%, enquanto economistas e consultorias privadas
estimavam um valor duas ou
três vezes maior do que esse.
Segundo os dados oficiais, o
preço dos alimentos teria caído
0,8% no mês. E o acumulado do
ano seria de 5%.
A informação oficial, definida como absurda e cômica pela
imprensa argentina, já foi questionada pelo FMI e começa a
ser colocada em dúvida até por
líderes governistas.
O chefe da bancada do governo na Câmara de Deputados,
Agustín Rossi, afirmou na semana passada que "não é um
problema que eu não acredite
nesse índice, mas não acreditam nesse número os operadores econômicos e o conjunto da
sociedade". Rossi se uniu ao pedido do chefe-de-gabinete, Sergio Massa, que nas últimas semanas reivindicou "uma dose
de credibilidade" ao instituto.
Tantos pedidos por mudanças fizeram com que aumentassem nos últimos dias os rumores sobre mudanças na direção
do organismo, que está sob a
responsabilidade do polêmico
secretário de Comércio, Guil-
lermo Moreno.
Índices em xeque
Os índices de inflação colocam em dúvida outros dados
relacionados a ele, como o nível
de pobreza ou o valor da dívida
pública. Em entrevista ao jornal "Página 12", o ex-ministro
da Economia Aldo Ferrer relacionou a manipulação da inflação com o valor dos bônus.
"Sugerem que [a manipulação] seria para pagar menos dívida. Como há títulos públicos
indexados, quanto menor for a
taxa de inflação, menor será o
ajuste desses bônus."
Diante da falta de índices
confiáveis, consultorias como a
Fiel lançaram suas próprias
medições. Ao jornal "Clarín", o
economista da fundação Juan
Luis Bour comparou a atual situação da Argentina com a que
o Brasil viveu nos anos 80.
"As estatísticas oficiais haviam perdido a credibilidade
pelas distorções. Então a Fundação Getulio Vargas saiu com
um índice de preços que nunca
deixou de ser útil porque retomar a confiança no órgão estatal brasileiro levou tempo."
(ADRIANA KÜCHLER)
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