São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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Suspeita de inflação 'manipulada' arranha credibilidade argentina

Até políticos governistas duvidam de taxa oficial, definida como 'absurda'

DE BUENOS AIRES

A falta de respostas políticas às questões econômicas é apontada por analistas como um dos pontos fundamentais para a perda de credibilidade da Argentina no cenário internacional. No eixo dessa discussão estão os índices de inflação, sob suspeita de manipulação desde o início do ano passado.
Na última segunda-feira, o Indec (o IBGE local) anunciou que a inflação de julho no país foi de 0,4%, enquanto economistas e consultorias privadas estimavam um valor duas ou três vezes maior do que esse.
Segundo os dados oficiais, o preço dos alimentos teria caído 0,8% no mês. E o acumulado do ano seria de 5%.
A informação oficial, definida como absurda e cômica pela imprensa argentina, já foi questionada pelo FMI e começa a ser colocada em dúvida até por líderes governistas.
O chefe da bancada do governo na Câmara de Deputados, Agustín Rossi, afirmou na semana passada que "não é um problema que eu não acredite nesse índice, mas não acreditam nesse número os operadores econômicos e o conjunto da sociedade". Rossi se uniu ao pedido do chefe-de-gabinete, Sergio Massa, que nas últimas semanas reivindicou "uma dose de credibilidade" ao instituto.
Tantos pedidos por mudanças fizeram com que aumentassem nos últimos dias os rumores sobre mudanças na direção do organismo, que está sob a responsabilidade do polêmico secretário de Comércio, Guil- lermo Moreno.

Índices em xeque
Os índices de inflação colocam em dúvida outros dados relacionados a ele, como o nível de pobreza ou o valor da dívida pública. Em entrevista ao jornal "Página 12", o ex-ministro da Economia Aldo Ferrer relacionou a manipulação da inflação com o valor dos bônus.
"Sugerem que [a manipulação] seria para pagar menos dívida. Como há títulos públicos indexados, quanto menor for a taxa de inflação, menor será o ajuste desses bônus."
Diante da falta de índices confiáveis, consultorias como a Fiel lançaram suas próprias medições. Ao jornal "Clarín", o economista da fundação Juan Luis Bour comparou a atual situação da Argentina com a que o Brasil viveu nos anos 80.
"As estatísticas oficiais haviam perdido a credibilidade pelas distorções. Então a Fundação Getulio Vargas saiu com um índice de preços que nunca deixou de ser útil porque retomar a confiança no órgão estatal brasileiro levou tempo."

(ADRIANA KÜCHLER)


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