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OPINIÃO ECONÔMICA
"Custo Scheinkman" (Ao mestre, com carinho)
PAULO FRANCINI
Em artigo publicado neste
jornal (9/10, Dinheiro, pág.
B2), José Alexandre Scheinkman
alega que o "custo Brasil" não seria razão para deixarmos de ter
redução vigorosa das atuais alíquotas de importação. Isso porque consumidores e empresários
estariam hoje apenados com a
compra de produtos mais caros.
O professor Scheinkman vai
além, ao afirmar que "o que querem os lobistas é que, além de serem onerados pelos "custo Brasil", os consumidores e a vasta
maioria dos empresários brasileiros paguem também o que poderíamos chamar de "custo Fiesp",
o custo da proteção às indústrias
dotadas de um lobby poderoso".
Em primeiro lugar, não considero o mestre Scheinkman integrante de nenhum lobby nocivo.
Com certeza, esse tratamento
gentil não foi por ele dedicado à
Fiesp. Prefiro acreditar que o
mestre seja movido por convicções, corretas ou incorretas, que
ele crê serem as melhores para o
Brasil. A Fiesp, entidade que representa a indústria paulista, não
abdica a defesa do que acredita ser
o melhor para o país. Não ter igual
opinião sobre redução de alíquotas de importação não é, portanto,
história de bandidos e mocinhos.
O mestre pertence ao mundo acadêmico e sabe bem que, sobre o
assunto, nem mesmo a posição
dos doutos é homogênea.
O professor não nega o "custo
Brasil", mas afirma que ele não
pode ser pretexto para manter as
atuais alíquotas de importação.
Encontra-se subjacente o seguinte: consumidores pagam o "custo
Brasil" embutido no preço de
produtos industriais, então vamos beneficiá-los com importados que não precisam pagá-lo.
Como nossa indústria pode competir nessas condições? Ora, que
seja mais competitiva do que a de
outros países e, assim, compense
esse ônus! Caso não logre êxito,
terá de "colocar a viola no saco",
deixando de produzir, gerar renda, emprego e novos consumidores.
A Fiesp convida o professor, em
sua próxima visita ao Brasil, a conhecer nossa indústria. Quem já a
conhece sabe que, dentro dos limites da empresa, a eficiência da
produção é comparável à de outras do mundo. No lado de fora,
nota-se a presença ameaçadora
de juros reais de 14% ao ano, da
carga tributária de 37%, da valorização do real de 28% em 17 meses,
da inflexível regulamentação trabalhista, da carência em logística e
infra-estrutura, da complexidade
da legislação e da morosidade da
Justiça. Percebe-se ainda que o nível de escolaridade não é ponto
forte dos trabalhadores. Além disso, o seguro-saúde e o transporte,
muitas vezes, são bancados pelas
empresas, incidindo nos seus custos, pois os sistemas públicos não
funcionam.
A redução generalizada das alíquotas inviabilizará alguns setores industriais competitivos. Insistir nessa tese significa incorrer
no que pode ser batizado de "custo Scheinkman". São custos de
pensamentos antiprodução que
contribuíram para que o crescimento da indústria tenha sido de
18% entre 1990 e 2004, enquanto
os países emergentes tiveram
65%. Ah, claro, sempre restará ao
professor o consolo de que os que
continuarem empregados e, portanto, consumidores estarão mais
felizes.
O mestre cita exemplo apressado em seu artigo: compara Brasil
e Coréia do Sul quanto ao investimento em máquinas importadas,
em 1999, deixando de comparar o
crescimento econômico no ano:
0,79% para Brasil e 9,5% da Coréia do Sul. O mestre domina a dinâmica dos investimentos e, portanto, deveria surpreender-se por
termos investido tanto em ano de
tão baixo crescimento.
Ao final, o mestre nos reserva
uma crença surpreendente: acredita que os industriais de outros
países, beneficiados pela redução
tarifária brasileira, pressionariam
seus governos por maior entrada
de nossa produção agrícola em
seus países. Mestre, isso parece
pouco realista.
A Fiesp defende isonomia das
condições de concorrência entre a
indústria nacional e a de outros
países. Não negamos os benefícios de uma abertura comercial
mais ampla, mas esse é um processo que deve caminhar com a
redução do "custo Brasil".
Ao mestre, com carinho.
Paulo Francini, 64, é diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo).
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