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LUÍS NASSIF
Blogs, fóruns e intolerância
A disseminação da internet, dos blogs (nos quais o
leitor pode se manifestar) e das
listas de discussão trouxe novos
pontos para a análise da representação da sociedade civil no
novo mundo virtual. Em países
de democracia madura, esse fenômeno significou avanços significativos no desenvolvimento
de novas formas de representação e controle do Estado, complementando a democracia
convencional -na qual o eleitor é chamado a se manifestar
apenas de tempos em tempos. O
espanhol Manuel Castels escreveu obras seminais sobre o tema.
Mas como fica a opinião pública brasileira nessa nova era
tecnológica? A classe média midiática -consumidora do chamado jornalismo de opinião-
passou a se consolidar no Brasil
há muito pouco tempo, porque
muito recente é a urbanização
brasileira, e parte relevante do
período foi tomado pelo regime
militar.
Hoje em dia, ter opinião sobre
tudo e sobre todos passa a ser
um imperativo do cidadão moderno. Mas colocar-se onde, em
um mundo de tal complexidade, com tantos temas sendo
apresentados e exigindo que o
leitor se posicione? Esse dilema
torna a opinião pública média
bastante suscetível a posições
radicalizadas -porque simplificadoras- e a movimentos de
manada. Ficar a favor da onda
formada confere poder à "minha" opinião, mesmo que não
tenha nada de mais substancioso para fundamentá-la.
O maior desafio da mídia é como administrar as demandas
desse bicho caprichoso que não
chega a ter uma ideologia, que
se move por impressões e procura sempre ficar a favor do vento
e que trata a "sua" opinião como se fosse uma propriedade
particular, intocável. Se o bicho
quer sangue, deve-se atendê-lo?
Se quer atropelar direitos individuais, deve-se saciá-lo?
O Brasil é uma sociedade com
várias camadas arqueológicas.
Uma das práticas mais arraigadas, herança das camadas mais
anacrônicas, é a idéia da polêmica como um combate de gladiadores, em que vale qualquer
arma, do sofisma à desqualificação do oponente, e sempre ter
que ter um vitorioso de um lado
e um adversário destruído do
outro. A boa polêmica não traz
vitoriosos. Há o contraditório, a
apresentação de argumentos e
contra-argumentos e, no final
do processo, tem-se as duas partes confluindo para pontos comuns.
Nesse cenário, o que se observa é a fantástica capacidade
dessas novas mídias de disseminar esse espírito de intolerância,
quando o ambiente é de intolerância; da mesma maneira que
disseminou a representatividade em democracias mais maduras.
Recebo e-mails de leitores escandalizados com manifestações de intolerância em fóruns
de discussão, com ofensas postadas em blogs, com radicalizações de toda espécie. Os leitores
que se chocam, em geral, são os
mais bem informados, mas nem
tenho idéia de quantos são estatisticamente.
Talvez o Brasil se constitua no
primeiro exemplo a se contrapor a essa idéia da internet libertária e democratizadora. E
as eleições do próximo ano vão
acentuar esse espírito de intolerância.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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