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Para especialistas, falta de políticas para ampliação do mercado interno prejudica combate à desigualdade
Retração pode ameaçar agenda social de Lula
DE NOVA YORK
O desempenho pífio do PIB
(Produto Interno Bruto) brasileiro em 2003 vai tornar mais difícil
o cumprimento da agenda social
do governo Lula e a diminuição
do abismo econômico no país.
"Este vai ser um ano difícil para
os brasileiros. Há mais de 40 milhões abaixo da linha de pobreza e
15 milhões na miséria absoluta. A
redução do PIB faz a situação dessas pessoas ainda pior", disse Vicki Gass, associada sênior de economia do Washington Office on
Latin America. A organização estuda questões sociais e econômicas na América Latina.
A retração de 0,2% no indicador, o pior desempenho desde
1992, torna-se ainda mais séria,
pois teve como um dos principais
componentes o recuo de 3,3% no
consumo das famílias. "A queda
do consumo é um sinal de que as
famílias têm menos dinheiro. A
questão é saber o que foi cortado
da população: necessidades básicas ou outros itens. De todo modo, é preciso orientar políticas
mais voltadas para o crescimento
do mercado interno", declarou.
Para Franciso Ferreira, economista do Banco Mundial, as quedas do PIB e do consumo preocupam, mas não são suficientes para
avaliar o impacto que geraram no
âmbito da desigualdade social.
"Qualquer resultado sobre pobreza em 2003 será prejudicado
pelo desempenho do PIB. Mas esses dados, ainda que desagregados, não permitem ver quais as
camadas [sociais] que foram mais
afetadas", avaliou.
"Com a volta do crescimento,
esperamos que haja uma melhora
da distribuição primária de salários", afirmou o economista.
Mas, mesmo com prognósticos
de crescimento de 3,5%, como
projeta a maior parte do mercado,
o nó social não será desatado, na
avaliação de Gass. "Provavelmente não será o suficiente devido à
dimensão da pobreza no país.
Além do PIB, há outras questões
que precisam ser corrigidas", diz.
No topo da lista de entraves à diminuição das desigualdades socioeconômicas do Washington
Office on Latin America está a relação dívida/PIB -hoje situada
em torno de 60%.
O centro também credita ao
acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) um peso tão
grande quanto o peso da queda
do PIB no papel de impedir a diminuição de desigualdades. "O
acordo impõe limitações. Manter
um superávit primário nesse patamar alto constrange o gasto social. A relação dívida/PIB e o FMI
estão ferindo o Brasil", disse Gass.
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