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Governadores querem parte da CPMF
Reunião elabora pedidos a serem barganhados com Lula em troca de apoio ao PAC e prorrogação do tributo do cheque
Chefes de Executivos estaduais querem compensação por perdas como a desoneração de exportações
LEANDRA PERES
VALDO CRUZ
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Doze governadores definiram ontem uma lista de reivindicações que podem custar, no mínimo, R$ 13 bilhões por ano
ao governo em troca do apoio
para aprovar medidas do PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento) e a prorrogação
da CPMF e da DRU (que permite ao governo gastar livremente 20% do Orçamento).
Os governadores querem ficar com R$ 9,75 bilhões da receita da CPMF (equivalente a 30% da receita do chamado imposto do cheque), R$ 1,3 bilhão
da Cide (contribuição sobre o
consumo de combustíveis destinada a obras em estradas) e
R$ 2 bilhões com o resgate de
garantias dadas pelos Estados à
União. A soma desses recursos
é o dobro da desoneração de R$
6,6 bilhões prevista pelo governo para este ano com o PAC.
Esses são apenas 3 dos 12 pedidos da lista de reivindicação
dos governadores, que inclui
ainda o aumento da compensação das perdas pela desoneração do ICMS nas exportações, a
dedução dos investimentos do
superávit primário, a renegociação das dívidas estaduais e
mudanças na fórmula de cálculo do Fundeb.
Reservadamente, porém, os
governadores sabem que o presidente Lula não abrirá mão de
receita da CPMF nem admitirá
renegociar as dívidas estaduais.
Segundo a Folha apurou, esses itens foram incluídos para
serem negociados em troca de
pelo menos quatro pontos da
pauta dos Estados: 1) maior
participação na Cide; 2) desoneração do PIS/ Pasep para
companhias estaduais de saneamento; 3) solução definitiva para a compensação das perdas com a desoneração do
ICMS nas exportações e 4) mudanças no cálculo do Fundeb.
Os governadores participaram do encontro representando todos os 27 Estados, mas a lista será ainda revisada pelos
ausentes. Eles evitaram falar
em barganha, mas deixaram
claro que o avanço do PAC dependerá também de seu apoio.
"O PAC por si só não é suficiente, é preciso mobilizar a capacidade de investimento dos
Estados", disse o governador
de Sergipe, Marcelo Déda (PT).
As reivindicações serão apresentadas ao presidente no dia 6
de março. Os governadores José Serra (PSDB-SP) e Sérgio
Cabral (PMDB-RJ) não foram
à reunião de ontem.
O governador da Paraíba,
Cássio Cunha Lima (PSDB), reconhece que o momento para
os Estados negociarem mais
recursos é agora. "Não haverá
condicionantes [para aprovar
os projetos de interesse do governo]. Mas esse é o momento
da negociação política, quando
o governo federal tem que renegociar a CPMF e a DRU."
Nem mesmo os petistas presentes ao encontro -Déda (SE)
e Wellington Dias (PI)- deixaram de criticar o governo e exigir um maior repasse de recursos aos Estados. "O pacto federativo é um grande almoço.
Participamos na hora do arroz
e feijão. Mas na hora do bolo de
chocolate que são as contribuições federais, ficamos de fora.
Nos deram uma cerejinha lá
atrás que foi a participação nas
receitas da Cide", disse Déda.
No caso da CPMF, que perde
vigência em dezembro, a proposta dos governadores seria
destinar 20% da receita total
para os Estados e 10% para os
municípios, dentro da estratégia de ganhar o apoio de prefeitos -os recursos seriam destinados à área da saúde.
Segundo o governador de
Minas, Aécio Neves (PSDB), o
percentual de 46% da Cide pedido pelos Estados reflete a
participação das malhas rodoviárias estaduais no conjunto
das estradas brasileiras.
"Aqui não existem partidos.
Somos todos brasileiros querendo fazer com que o Brasil
aproveite melhor a excepcional
oportunidade que a economia
internacional nos tem dado. Isso não acontecerá se os Estados não tiverem mais condição
de investir", disse Aécio.
A criação de um fundo permanente para compensar a receita que os Estados perdem
com a desoneração do ICMS
das exportações é outro ponto
prioritário dos governadores.
O governo federal já discute
o tema. A idéia, na Fazenda, é
usar parte dos recursos que os
Estados recebem com o IPI
vinculado à importação para
constituir um fundo, que teria
ainda recursos da União. A repartição seria de acordo com a
perda de cada governador.
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