São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

Maior torneio de juniores tem início em SP com clubes amarrando suas promessas por contratos de "gente grande"

Começa hoje a Copa SP de futebol S.A.

André Porto/Folha Imagem
O "profissional" Bobô, 18 anos e R$ 800 mensais, é a aposta para o penta do Corinthians


LÚCIO RIBEIRO
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

O torneio é de juniores, mas pode chamá-lo de Copa São Paulo de futebol profissional.
A 34ª edição da maior competição júnior do país, tradicional vitrine dos novos talentos, começa hoje em São Paulo com 32 jogos, 64 times e talvez com o maior número de jovens jogadores já amarrados por contratos profissionais da história.
Na primeira Copa São Paulo em que os clubes se mostram realmente adaptados ao fim da lei do passe (2001), e que as baratas promessas à lá Robinho e Diego funcionam como a salvação em tempos de crise financeira, a solução encontrada pelos dirigentes de grandes clubes é "proteger" suas categorias de baixo oferecendo contrato profissional a meninos do júnior e até mesmo do juvenil e ainda do infantil.
O São Paulo paga em média R$ 1.200 mensais a atletas que têm pelo menos 16 anos. Alguns dos jogadores que estarão em ação pelo clube nesta edição do torneio ganham ainda mais.
O atacante Cléber, por exemplo, recebe cerca de R$ 2.000 e assinou um contrato de cinco anos.
Quanto maior a validade do compromisso, maior o salário e a garantia de que o atleta não mudará de equipe.
"Nós temos que arriscar muito na hora de assinar os contratos. Às vezes, um garoto de 16 anos promete, mas não vinga", disse Júlio Martins, diretor de futebol amador do São Paulo.
Além do salários, os garotos são-paulinos terão na Copa São Paulo outros benefícios que antes eram reservados só aos profissionais: bichos e premiação no caso de serem campeões.
Na fase inicial, uma vitória deverá valer R$ 100 para cada jogador. Nos mata-matas, o valor será dobrado. Segundo Martins, se o time for campeão, o prêmio de R$ 50 mil oferecido pelos organizadores deverá ficar com os atletas.
No Palmeiras, em diferentes categorias, o número de jovens que ganham salário passa de cem.
"Temos cerca de 150 jogadores das categorias de base sob contrato", afirmou Mustafá Contursi, o presidente do Palmeiras, cujo time sub-20 foi campeão paulista e deve gerar, de imediato, três ou quatro jogadores para o elenco profissional em 2003.
"Esse é o futuro dos grandes clubes. Por isso estamos investindo em alojamentos e campos de treinamentos para a base. Destes 150 jovens, quatro ou cinco podem subir logo ao profissional. Os outros podem ser emprestados para clubes do interior, para iniciarem a carreira", calcula o candidato à reeleição no Palmeiras.
"Vou ficar de olho nesta Copa São Paulo. Já me falaram muito aqui em três atletas do time júnior, principalmente de um atacante", diz Jair Picerni, o técnico do time principal do Palmeiras.
O atacante a que Picerni se refere é Vagner, 18, que tem contrato profissional com o Palmeiras desde os 16. Seu passe pertence metade ao Palmeiras e metade ao empresário Gilmar Rinaldi.
No Corinthians, Carlos Alberto Parreira também contará com atletas que estarão na Copa. Algum deles, como o zagueiro Betão, já integraram o elenco profissional durante o ano passado.
Porém, ao contrário dos concorrentes, que fazem contratos de até cinco anos com suas revelações para segurá-las, os corintianos estão mais interessados em compromissos curtos.
"Já fizemos contratos de cinco anos, mas alguns encostaram o burro na sombra. Agora assinamos por um ou dois anos, se o jogador quiser ficar num clube grande, renova. Senão, vai estourar em outro lugar", disse Alexandre Silva, supervisor de futebol amador do Corinthians. O clube paga em média R$ 400 no primeiro contrato dos atletas com 16 anos. No júnior, o salário inicial é de R$ 1.000, em média.
Embalado pela conquista do Brasileiro com Robinho e Diego, o Santos espera emplacar mais jovens astros na Copa-SP. Para triunfar, os santistas contam com atletas que estavam emprestados ao Jabaquara, que conquistou em 2002 a série B-3 do Paulista.
Na Vila Belmiro, os juniores ganham até R$ 1.500. "Temos jovens com multa rescisória de R$ 5 milhões. Mas é difícil evitar que tenham empresários", disse Francisco Lopes, diretor santista.
Exemplo de que lá vai longe o tempo em que a Copa SP tinha ares de torneio amador é a presença do Cuiabá SC S/C Ltda. (Mato Grosso), e do Desportiva Capixaba S/A (Espírito Santo).
O time matogrossense, de propriedade do ex-jogador e hoje técnico Gaúcho (Palmeiras e Flamengo), tem 1 ano de idade e sete atletas com contrato profissional.
O Cuiabá Ltda. sai da Copa SP direto para jogar, com o mesmo time, seu primeiro campeonato profissional, o Estadual de MT.


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