São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

WikiLeaks na Fifa move candidato

ELEIÇÃO
Jornalista norte-americano de 37 anos busca peitar continuísmo de Joseph Blatter


RODRIGO BUENO
DE SÃO PAULO

Grant Wahl, um jornalista americano de 37 anos que cobriu várias competições de futebol e basquete para a "Sports Illustrated" e que escreveu o livro "The Beckham Experiment", quer revolucionar o futebol neste ano assumindo a presidência da Fifa.
Em entrevista à Folha, ele fala em "promover um WikiLeaks" na entidade, que tende a reeleger o suíço Joseph Blatter no dia 1º de junho.
Discípulo de João Havelange, que presidiu a Fifa entre 1974 e 1998, Blatter está no poder desde que sucedeu o dirigente brasileiro. Até agora, é o único candidato oficial na eleição deste ano.
Mohammed Bin Hammam, presidente da Confederação Asiática e antigo aliado de Blatter, acena com a possibilidade de concorrer também, mas é Grant Wahl quem pode revolucionar o futebol. Para isso, precisa do apoio de só uma federação.

Folha - Como surgiu a ideia de lançar a candidatura? Grant Wahl - Decidi há alguma semanas. A Fifa diz ser uma grande democracia, mas democracias não têm candidato único todo o tempo. Ninguém concorreu com Blatter em 2007 e ninguém, até eu anunciar minha candidatura, concorria com ele este ano. Viajei o mundo todo cobrindo futebol e em todos os lugares torcedores se queixam do Blatter e da Fifa. Não acham que a Fifa é uma organização limpa. Alguém precisa representar os torcedores, e eu decidi me candidatar.


Já viu as regras da Fifa para ver se pode mesmo se candidatar? Sua candidatura não é só um protesto divertido?
Chequei os regulamentos. Qualquer um pode concorrer à presidência da Fifa. Você só precisa ser indicado por uma federação nacional antes de 1º de abril para ser um candidato oficial. Estou conversando com federações para que me indiquem, mas elas não têm que votar em mim na eleição de 1º de junho. Eu estaria feliz como presidente, mas estou muito longe disso. Enviar mensagem aos torcedores é o que importa. Amo futebol, sou honesto e me preocupo com os torcedores. Não sei se poderia dizer o mesmo dos políticos da Fifa.


Como a sua campanha tem sido vista na mídia mundial e na "Sports Illustrated"?
A reação global tem sido muito positiva. Quero que as pessoas tenham bom humor com a minha candidatura e saibam que sérias mudanças precisam ser feitas na Fifa.


O que acha da gestão de Blatter e por que tantos dirigentes se perpetuam no poder?
Acho que Blatter quer ficar no poder o quanto puder. Isso é um impulso humano. Essa é a razão para eu apoiar limites de mandatos para a presidência da Fifa e para o Comitê Executivo. Dois mandatos de quatro anos no máximo! Existiram só dois presidentes da Fifa em meus 37 anos de vida. Como resultado, a Fifa não mudou muito. É preciso entrar no século 21.


Acha que Mohamad bin Hammam vai se candidatar também? O que acha dele?
Bin Hammam [cartola do Qatar] é apenas mais um de dentro da Fifa que não faria as sérias mudanças que a Fifa necessita. Irá concorrer provavelmente.


Houve escândalos de corrupção no processo para a escolha das sedes das Copas de 2018 e 2022. Acha que foi mesmo o dinheiro que definiu as vitórias de Rússia e Qatar?
Como presidente, eu quero fazer um WikiLeaks na Fifa, tornando públicos todos os documentos internos. Então saberemos quão limpa ou não a Fifa realmente é.


O que sabe de Ricardo Teixeira, presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa- -2014? Dizem que pode se candidatar em 2015 na Fifa...
Ele é um homem poderoso na Fifa, outro de dentro da entidade. Ele transformou a seleção brasileira em um fenômeno de marketing.


Acha que o COI e a Fifa se parecem nos bastidores?
O COI melhorou sua reputação depois do escândalo de Salt Lake City. Isso encorajou reformas e introduziu mais mulheres em postos de poder. A Fifa não teve um momento Salt Lake City. E não sei quem pode ser a mulher mais poderosa na Fifa.


Qual é a importância da imprensa investigativa hoje? Acha que ela está crescendo?
Está crescendo, mas boa investigação leva tempo e dinheiro. E a mídia não tem sempre esses recursos.


Barack Obama viu o Rio derrotar Chicago por 2016 e o Qatar bater os EUA por 2022. A imagem dele ficou abalada?
Não ajudaram o presidente, que visitou Copenhague na candidatura olímpica, mas eu ainda penso que Obama tem ajudado na reputação dos EUA no mundo.


O que o autor do livro "The Beckham Experiment" acha da passagem do craque inglês pelos EUA? O futebol se desenvolveu mais no país?
O futebol nos EUA está crescendo vagarosamente, e a decisão de Beckham de vir jogar na MLS tornou a liga mais visível dentro e fora do país. No entanto, Beckham queria ser um embaixador para o futebol nos EUA como Pelé e ele não tem sido bem- -sucedido. Talvez se os EUA tivessem ganhado de 2 a 0 do Brasil na final da Copa das Confederações de 2009, nós seríamos mais respeitados.


Texto Anterior: Executivo mantém Natal em 2014
Próximo Texto: Wahl sugere mulher secretária-geral
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.