São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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Sonho causa guinada que Pan premia

Inspiração onírica leva Luciana Granato a trocar 11 anos de atletismo por reinício esportivo em barcos na raia da USP

Imagem de um lugar em que nunca estivera e sensação de movimento surgem durante sono de esperança do 1º pódio no remo feminino


LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez entre dez brasileiros que participarão do Pan falam que disputar os Jogos no Brasil é um sonho. Para a remadora Luciana Granato, o termo não tem sentido figurado. Após 11 anos de atletismo, ela começou a remar motivada por um sonho que teve há dois anos e meio.
"Sonhei com água barrenta e com um movimento para a frente e para trás. Foi um sonho bem real, com imagens marcantes. Na manhã seguinte, liguei para uma amiga que remava", relata a atleta de 29 anos.
Dias depois, ela acompanhou a colega à raia da USP, tradicional palco paulistano de treinos e competições de remo.
"Nunca havia estado lá, nunca havia visto um barco nem um remo. Mas, quando cruzei a ponte da Cidade Universitária, de onde é possível ver a raia, fiquei arrepiada. Vi que era o mesmo cenário do sonho."
Mesmo com a vista, a ficha ainda não havia caído.
"Só me toquei mesmo quando estava dentro de um barco usado por iniciantes, dentro da água. Foi lá que percebi que o movimento era idêntico ao do sonho." Como reagiu então?
"Parecia que estava meio boba. Por outro lado, aquilo foi muito motivante, pois vi que não estava ali por acaso."
De fato. Em menos de três anos no remo, a atleta, que se mudou para perto da USP para ficar mais fácil ir ao treino, já foi mais longe do que na época dos 400 m com barreiras.
Seu ápice no atletismo foi a prata no Brasileiro juvenil. No remo, integra, com Camila Carvalho, 26, a guarnição tida como a melhor equipe da história do remo feminino nacional, o double skiff peso leve.
"Esse double tem uma formação recente, mas, apesar disso, muito boa. Por isso acredito que pode lutar por uma medalha nos Jogos", avalia Rodney Bernardes Júnior, técnico da seleção nacional. Se a dupla conseguir ir ao pódio, será a primeira medalha brasileira do remo feminino em Pans.
"A gente não permite que isso influencie a dupla nem positiva, nem negativamente. Os elogios não nos deixam mais preocupadas", fala Camila, que não esconde uma torcida para que a parceira sonhe com o pódio do Pan carioca.
Mais experiente na modalidade do que Luciana, com quem formou parceria há cerca de dois meses, ela atribui o sucesso da dupla às personalidades de ambas, que considera complementares.
"Juntaram a emotiva, eu, com a racional. A gente se completa muito", conta a brasiliense, que rema há sete anos.
O entrosamento dela com Luciana vai além da água.
Juntas, elas lutam contra a balança, já que não podem ultrapassar 57 quilos, limite de cada remadora no peso leve.
"Inicialmente, tínhamos até um pacto para cada uma controlar quanto a outra comia. Mas essa idéia acabou abandonada, para não discutirmos por besteira e porque ficou claro que as duas têm o mesmo cuidado com o peso", diz Camila.
Cuidado que elas observam complementando as práticas na água com corridas. "Normalmente, nos treinos, faço um trote, evitando disparar", conta Luciana, que, nos testes físicos, emprega a técnica mais apurada que trouxe do atletismo.
"Meus tempos rivalizam com os dos homens nos testes de corrida", afirma ela, que vê outros benefícios com sua experiência nas pistas.
"No remo, uso o mesmo critério do atletismo, de dividir a distância das provas e estipular um tempo para atingir cada uma das metas intermediárias", explica Luciana, que é a voga, atleta incumbida de ditar o ritmo das remadas da dupla.


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