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Sonho causa guinada que Pan premia
Inspiração onírica leva Luciana Granato a trocar 11 anos de atletismo por reinício esportivo em barcos na raia da USP
Imagem de um lugar em que nunca estivera e sensação de movimento surgem durante sono de esperança do 1º pódio no remo feminino
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Dez entre dez brasileiros que
participarão do Pan falam que
disputar os Jogos no Brasil é
um sonho. Para a remadora Luciana Granato, o termo não tem
sentido figurado. Após 11 anos
de atletismo, ela começou a remar motivada por um sonho
que teve há dois anos e meio.
"Sonhei com água barrenta e
com um movimento para a
frente e para trás. Foi um sonho
bem real, com imagens marcantes. Na manhã seguinte, liguei para uma amiga que remava", relata a atleta de 29 anos.
Dias depois, ela acompanhou
a colega à raia da USP, tradicional palco paulistano de treinos
e competições de remo.
"Nunca havia estado lá, nunca havia visto um barco nem
um remo. Mas, quando cruzei a
ponte da Cidade Universitária,
de onde é possível ver a raia, fiquei arrepiada. Vi que era o
mesmo cenário do sonho."
Mesmo com a vista, a ficha
ainda não havia caído.
"Só me toquei mesmo quando estava dentro de um barco
usado por iniciantes, dentro da
água. Foi lá que percebi que o
movimento era idêntico ao do
sonho." Como reagiu então?
"Parecia que estava meio boba. Por outro lado, aquilo foi
muito motivante, pois vi que
não estava ali por acaso."
De fato. Em menos de três
anos no remo, a atleta, que se
mudou para perto da USP para
ficar mais fácil ir ao treino, já foi
mais longe do que na época dos
400 m com barreiras.
Seu ápice no atletismo foi a
prata no Brasileiro juvenil. No
remo, integra, com Camila Carvalho, 26, a guarnição tida como a melhor equipe da história
do remo feminino nacional, o
double skiff peso leve.
"Esse double tem uma formação recente, mas, apesar disso, muito boa. Por isso acredito
que pode lutar por uma medalha nos Jogos", avalia Rodney
Bernardes Júnior, técnico da
seleção nacional. Se a dupla
conseguir ir ao pódio, será a
primeira medalha brasileira do
remo feminino em Pans.
"A gente não permite que isso influencie a dupla nem positiva, nem negativamente. Os
elogios não nos deixam mais
preocupadas", fala Camila, que
não esconde uma torcida para
que a parceira sonhe com o pódio do Pan carioca.
Mais experiente na modalidade do que Luciana, com
quem formou parceria há cerca
de dois meses, ela atribui o sucesso da dupla às personalidades de ambas, que considera
complementares.
"Juntaram a emotiva, eu,
com a racional. A gente se completa muito", conta a brasiliense, que rema há sete anos.
O entrosamento dela com
Luciana vai além da água.
Juntas, elas lutam contra a
balança, já que não podem ultrapassar 57 quilos, limite de
cada remadora no peso leve.
"Inicialmente, tínhamos até
um pacto para cada uma controlar quanto a outra comia.
Mas essa idéia acabou abandonada, para não discutirmos por
besteira e porque ficou claro
que as duas têm o mesmo cuidado com o peso", diz Camila.
Cuidado que elas observam
complementando as práticas
na água com corridas. "Normalmente, nos treinos, faço um
trote, evitando disparar", conta
Luciana, que, nos testes físicos,
emprega a técnica mais apurada que trouxe do atletismo.
"Meus tempos rivalizam com
os dos homens nos testes de
corrida", afirma ela, que vê outros benefícios com sua experiência nas pistas.
"No remo, uso o mesmo critério do atletismo, de dividir a
distância das provas e estipular
um tempo para atingir cada
uma das metas intermediárias", explica Luciana, que é a
voga, atleta incumbida de ditar
o ritmo das remadas da dupla.
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