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FUTEBOL
Se estratégia funcionar, clube espera pagar salários menores aos atletas
São Paulo incentiva troca de empresários por pais
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A diretoria do São Paulo decidiu
orientar os jovens atletas que chegam ao clube a escolher seus pais
como procuradores em vez dos
tradicionais empresários.
Com essa medida, os dirigentes
esperam, principalmente, reduzir
os seus gastos em futuras negociações de contratos. Na opinião do
presidente são-paulino, Marcelo
Portugal Gouvêa, esses profissionais inflacionam os salários.
"Quando o jogador vai ser profissionalizado, o empresário começa a exigir salários astronômicos, isso dificulta tudo", disse ele.
A decisão de incentivar os atletas a trocarem os empresários pelos pais foi de Gouvêa, que assumiu o clube em abril. Ele mesmo
explica aos garotos as vantagens
que teriam deixando a carreira na
mão de familiares ou assumindo
pessoalmente os negócios.
O principal trunfo do dirigente
para convencer seus pupilos é o
fato de que sem um profissional
eles ficam livres de pagar taxas pelos serviços prestados.
Os empresários costumam cobrar de 10% a 20% de comissão
para tratar dos assuntos dos jogadores com quem têm contrato.
"Quando o pai decide assumir a
carreira do atleta todo mundo
gasta menos, não é só o clube",
completou o dirigente.
Gouvêa afirmou, sem revelar
nomes, que a metade de 20 jovens
que chegaram ao São Paulo neste
ano para as categorias amadoras
aceitou seu conselho e deixou a
carreira nas mãos de seus pais.
Porém, o dirigente acredita ser
impossível, mesmo a longo prazo,
montar um time em que a maioria dos jogadores não tenha ligação com empresários.
Os atletas são-paulinos têm se
profissionalizado aos 16 anos.
Quase todos já têm procurador.
Mesmo com as dificuldades que
espera enfrentar, o São Paulo tem
um projeto ainda maior para restringir o relacionamento de seus
contratados com empresários.
Segundo Gouvêa, antes de pedir
demissão de seu cargo de coordenador de futebol, em agosto, o ex-jogador Raí apresentou um projeto para ensinar atletas e seus pais a
cuidar das carreiras.
Além disso, estava previsto que
o clube prestaria assessoria para
os jogadores, podendo até cuidar
de negócios particulares para eles,
como fazem os procuradores.
"Essa é uma das idéias do Raí
que vou colocar em prática. Mesmo o jogador que sair do São Paulo poderá continuar solicitando
os serviços da nossa assessoria",
explicou o dirigente.
Menos otimista em relação aos
planos para diminuir a presença
de empresários no clube, o diretor
de futebol são-paulino, Carlos
Augusto de Barros e Silva, acredita que, em alguns casos, pode ser
pior para negociar com parentes
do que com empresários.
"Às vezes, é mais fácil tratar
com o empresário. O pai acha que
o filho é o melhor jogador do
mundo e pede alto para assinar
contrato", disse o dirigente.
Argumento semelhante é usado
por Wagner Ribeiro, procurador
de Kaká desde quando ele não estava no time profissional.
"Se eliminarem o empresário,
vai ser ruim para todos. O pai costuma colocar a paixão pelo filho
acima de tudo e acaba não entrando em acordo com a equipe. Nós
evitamos esse atrito entre a família e o time", disse Ribeiro.
Influente no Morumbi, ele já
perdeu as contas de quantos são-paulinos mantém sob contrato.
Ribeiro afirmou, sem citar o nome do atleta, que, neste ano, um
de seus clientes o trocou pelo pai,
antes de se profissionalizar, mas
não está mais no clube.
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