São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

Se estratégia funcionar, clube espera pagar salários menores aos atletas

São Paulo incentiva troca de empresários por pais

RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

A diretoria do São Paulo decidiu orientar os jovens atletas que chegam ao clube a escolher seus pais como procuradores em vez dos tradicionais empresários.
Com essa medida, os dirigentes esperam, principalmente, reduzir os seus gastos em futuras negociações de contratos. Na opinião do presidente são-paulino, Marcelo Portugal Gouvêa, esses profissionais inflacionam os salários.
"Quando o jogador vai ser profissionalizado, o empresário começa a exigir salários astronômicos, isso dificulta tudo", disse ele.
A decisão de incentivar os atletas a trocarem os empresários pelos pais foi de Gouvêa, que assumiu o clube em abril. Ele mesmo explica aos garotos as vantagens que teriam deixando a carreira na mão de familiares ou assumindo pessoalmente os negócios.
O principal trunfo do dirigente para convencer seus pupilos é o fato de que sem um profissional eles ficam livres de pagar taxas pelos serviços prestados.
Os empresários costumam cobrar de 10% a 20% de comissão para tratar dos assuntos dos jogadores com quem têm contrato.
"Quando o pai decide assumir a carreira do atleta todo mundo gasta menos, não é só o clube", completou o dirigente.
Gouvêa afirmou, sem revelar nomes, que a metade de 20 jovens que chegaram ao São Paulo neste ano para as categorias amadoras aceitou seu conselho e deixou a carreira nas mãos de seus pais.
Porém, o dirigente acredita ser impossível, mesmo a longo prazo, montar um time em que a maioria dos jogadores não tenha ligação com empresários.
Os atletas são-paulinos têm se profissionalizado aos 16 anos. Quase todos já têm procurador.
Mesmo com as dificuldades que espera enfrentar, o São Paulo tem um projeto ainda maior para restringir o relacionamento de seus contratados com empresários.
Segundo Gouvêa, antes de pedir demissão de seu cargo de coordenador de futebol, em agosto, o ex-jogador Raí apresentou um projeto para ensinar atletas e seus pais a cuidar das carreiras.
Além disso, estava previsto que o clube prestaria assessoria para os jogadores, podendo até cuidar de negócios particulares para eles, como fazem os procuradores.
"Essa é uma das idéias do Raí que vou colocar em prática. Mesmo o jogador que sair do São Paulo poderá continuar solicitando os serviços da nossa assessoria", explicou o dirigente.
Menos otimista em relação aos planos para diminuir a presença de empresários no clube, o diretor de futebol são-paulino, Carlos Augusto de Barros e Silva, acredita que, em alguns casos, pode ser pior para negociar com parentes do que com empresários.
"Às vezes, é mais fácil tratar com o empresário. O pai acha que o filho é o melhor jogador do mundo e pede alto para assinar contrato", disse o dirigente.
Argumento semelhante é usado por Wagner Ribeiro, procurador de Kaká desde quando ele não estava no time profissional.
"Se eliminarem o empresário, vai ser ruim para todos. O pai costuma colocar a paixão pelo filho acima de tudo e acaba não entrando em acordo com a equipe. Nós evitamos esse atrito entre a família e o time", disse Ribeiro.
Influente no Morumbi, ele já perdeu as contas de quantos são-paulinos mantém sob contrato. Ribeiro afirmou, sem citar o nome do atleta, que, neste ano, um de seus clientes o trocou pelo pai, antes de se profissionalizar, mas não está mais no clube.



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