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Obra-prima esteve em São Paulo
DA REPORTAGEM LOCAL
Poucas são as obras que
conseguem ir além dos livros
de história da arte, conquistando, mais do que o apreço
da crítica, imensa popularidade. Entre elas, "Guernica",
de Pablo Picasso, é possivelmente a mais famosa do século 20.
Apesar de "Guernica" não
representar o momento
inaugural do cubismo -o
que é creditado a "Les Demoiselles d'Avignon"
(1907)-, a pintura-mural
reúne o melhor do processo
de criação de Picasso, segundo o especialista Meyer
Schapiro, com vários de seus
elementos fundamentais: a
construção cubista com o
imaginário mítico-espanhol.
O que, no entanto, levou a
obra a alcançar tal popularidade tem a ver não só com a
sua qualidade, mas com sua
história. Encomendada pelo
governo da República da Espanha para o pavilhão do
país, na Feira Universal de
1937, em Paris, "Guernica"
começou a ser realizada enquanto a terra natal de Picasso vivia um período de guerra civil. De fato, ela foi pintada logo após o bombardeamento pelas forças nazistas
em apoio a Franco da cidade
que dá nome ao trabalho,
matando 1.654 pessoas do
povoado, cerca de 40% de
sua população.
Um dos elementos que
mais valoriza a obra é o fato
de Picasso ter conseguido
torná-la universal sem dar a
ela um caráter apelativo: não
há referências aos nazistas
ou a Franco. Como afirma
Schapiro, Picasso "transportou para o espaço da tela os
objetos de sua fantasia imediatamente precedente, de si
mesmo e de sua família".
Mas sua história continua.
Após a feira em Paris, a obra
seguiu para uma turnê por
Londres e países nórdicos,
indo parar em Nova York,
em 1939, onde ficou sob a
guarda do MoMA. Nesse período, saiu raramente dos
EUA e, numa dessas vezes,
chegou a São Paulo, para a 2ª
Bienal Internacional (1953).
Por decisão de Picasso,
"Guernica" só deveria retornar à Espanha quando o país
voltasse a ser uma república,
o que ocorreu em 1979, mas o
MoMA se recusou a devolver
a obra imediatamente, alegando que um sistema monárquico não é republicano.
Após intensas negociações,
"Guernica" retornou à Espanha, em 1982, para o Museu
do Prado e, posteriormente,
para o Reina Sofía.
(FABIO
CYPRIANO)
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