São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2006

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Obra-prima esteve em São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

Poucas são as obras que conseguem ir além dos livros de história da arte, conquistando, mais do que o apreço da crítica, imensa popularidade. Entre elas, "Guernica", de Pablo Picasso, é possivelmente a mais famosa do século 20.
Apesar de "Guernica" não representar o momento inaugural do cubismo -o que é creditado a "Les Demoiselles d'Avignon" (1907)-, a pintura-mural reúne o melhor do processo de criação de Picasso, segundo o especialista Meyer Schapiro, com vários de seus elementos fundamentais: a construção cubista com o imaginário mítico-espanhol.
O que, no entanto, levou a obra a alcançar tal popularidade tem a ver não só com a sua qualidade, mas com sua história. Encomendada pelo governo da República da Espanha para o pavilhão do país, na Feira Universal de 1937, em Paris, "Guernica" começou a ser realizada enquanto a terra natal de Picasso vivia um período de guerra civil. De fato, ela foi pintada logo após o bombardeamento pelas forças nazistas em apoio a Franco da cidade que dá nome ao trabalho, matando 1.654 pessoas do povoado, cerca de 40% de sua população.
Um dos elementos que mais valoriza a obra é o fato de Picasso ter conseguido torná-la universal sem dar a ela um caráter apelativo: não há referências aos nazistas ou a Franco. Como afirma Schapiro, Picasso "transportou para o espaço da tela os objetos de sua fantasia imediatamente precedente, de si mesmo e de sua família".
Mas sua história continua. Após a feira em Paris, a obra seguiu para uma turnê por Londres e países nórdicos, indo parar em Nova York, em 1939, onde ficou sob a guarda do MoMA. Nesse período, saiu raramente dos EUA e, numa dessas vezes, chegou a São Paulo, para a 2ª Bienal Internacional (1953).
Por decisão de Picasso, "Guernica" só deveria retornar à Espanha quando o país voltasse a ser uma república, o que ocorreu em 1979, mas o MoMA se recusou a devolver a obra imediatamente, alegando que um sistema monárquico não é republicano. Após intensas negociações, "Guernica" retornou à Espanha, em 1982, para o Museu do Prado e, posteriormente, para o Reina Sofía. (FABIO CYPRIANO)




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