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ANIMAÇÃO
"Gone Nutty", do animador carioca Carlos Saldanha, concorre na categoria curta-metragem com filme de Dalí
Brasileiro enfrenta Walt Disney no Oscar
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
De um lado, Walt Disney
e Salvador Dalí, num projeto histórico abortado na década
de 40 e só finalizado em 2003 pelas
mãos dos estúdios Disney na
França. Do outro, Carlos Saldanha e Scrat, o esquilinho desastrado que roubou a cena em "A Era
do Gelo", da Blue Sky Studios, e
que ganha agora seu espaço.
Pode parecer quixotesca, mas a
briga pela estatueta de melhor
curta-metragem de animação,
que será entregue hoje na cerimônia oficial do Oscar, é acirrada.
Além de "Destino", o curta da
Disney, e "Gone Nutty", o do brasileiro, concorrem ao prêmio
"Boundin'", do veterano da Pixar
Bud Luckey, "Nibbles", dos estúdios Acme, e "Harvie Krumpet"
do australiano Adam Elliot.
Um é animação clássica ("Destino"), dois ("Gone Nutty" e
"Boundin'") são feitos em computador, outro ("Nibbles"), na
ponta do lápis, e o último ("Harvie Krumpet") usa a boa e velha
técnica de massa de modelar.
"Este ano está bom. Todos os
curtas têm seu charme individual
e, em animação, o gosto de cada
um [dos jurados] varia muito. A
briga vai ser de igual para igual",
adianta o animador carioca Carlos Saldanha, 35, que, em 2003,
concorreu ao Oscar de melhor
longa de animação como co-diretor em "A Era do Gelo". Perdeu
para o japonês "A Viagem de Chihiro", mas, ainda assim, a indicação não foi exatamente "sua": foi
do diretor principal e dono da
Blue Sky, Chris Wedge.
E agora, com um "filho legítimo" na disputa, dá para arriscar
um favorito? "Gostei muito do
"Harvie Krumpet". É um pouco
longo, mas adorei o humor negro", desconversa ele, que só pôde
dar uma espiadinha na concorrência quando a Academia mostrou as produções para seus
membros e um seleto grupo de
convidados, na semana passada.
É, vida de animador não é moleza: "Estou correndo para cima e
para baixo com dois novos projetos ["A Era do Gelo 2" e "Robots",
previsto para estrear em 2005].
Cada dia que perco conta muito".
Como cerimônia de Oscar não é
exatamente uma "perda de tempo", Saldanha resolveu tirar dois
dias de folga -sexta e segunda-
e estará lá hoje com a mulher e a
mãe para aguardar o resultado.
Com a agenda igualmente
cheia, Baker Bloodworth, 41, produtor do curta da Disney, também separou um tempinho para
assistir à cerimônia da platéia.
Afinal de contas, precisa honrar a
memória de John Hench, desenhista que criou os storyboards
de "Destino" com Dalí e Disney.
"Todo mês a gente levava os trabalhos para o Hench dizer se estavam próximos do conceito original. Ele estava muito orgulhoso,
mas, infelizmente, morreu três semanas atrás. Soubemos da indicação ao Oscar na terça-feira, e ele
morreu na quarta. Foi só o tempo
de avisá-lo", afirma Bloodworth.
Iniciado em 1945, "Destino"
consumiu cerca de nove meses de
trabalho da dupla até que, ao final
da guerra, Disney se viu falido e
precisou cancelar o projeto. Sobraram a canção-tema -uma bela balada espanhola na voz de Dora Luz-, os rascunhos da história
e uma série de 15 pinturas originais de Dalí. Lançado no Festival
de Annecy, em 2003, o curta arranca gritos de "já ganhou" por
onde passa. "Favorito? Não posso
falar isso. Dá azar! Gosto dos outros também. "Gone Nutty" me fez
rir muito, é histérico e a animação, excelente. Seu brasileiro fez
um trabalho maravilhoso".
E então, Saldanha, "Gone
Nutty" leva? "Ai, meu Deus, isso
vou deixar o destino traçar."
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