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Crítica - Drama

'Jobs' tem sex appeal de apresentação de slides

Filme tem atuação fraca de Ashton Kutcher e faz retrato opaco de criador da Apple; longa estreia no Brasil em 6/9

ASHTON KUTCHER NÃO TEM A HABILIDADE DE ALGUNS ATORES PARA SUPERAR UM MATERIAL FRACO E SUA ATUAÇÃO REMETE À SUA CARREIRA COMO GAROTO-PROPAGANDA DE CÂMERAS DIGITAIS

MANOHLA DARGIS DO "NEW YORK TIMES"

Steve Jobs (1955-2011) ficaria louco se soubesse que o novo filme sobre sua vida tem o mesmo sex appeal de uma apresentação de PowerPoint.

Não apenas porque PowerPoint se tornou sinônimo de monotonia, tédio e sonolência de reuniões corporativas, mas também porque é um aplicativo criado pela Microsoft, alvo favorito de Jobs (ele rivalizava desde jovem com o fundador, Bill Gates).

Ele se autodefinia um artista, alguém que, em conversas sobre o design do Macintosh (um dos primeiros computadores lançados pela Apple), disse a seguinte frase: "A grande arte puxa o gosto, não acompanha os gostos".

O registro histórico é o centro de "Jobs", protagonizado por Ashton Kutcher ("Two and a Half Men"), dirigido por Joshua Michael Stern ("Promessas de um Cara de Pau") e escrito por Matt Whiteley.

Condensação e omissão são partes de qualquer biografia. Logo, espera-se que um filme de duas horas sobre uma das figuras públicas mais importantes da história recente deixe muito de fora, inclusive rixas, colegas esquecidos e negócios arriscados.

O problema não é que haja lacunas, mas sim o que e quem foi deixado de fora. É compreensível que um filme centrado na juventude de Jobs acabe superestimando seu envolvimento com a Pixar, que ele capitalizou em 1986.

É compreensível também que evite lidar com a Xerox. Mas a história da visita de Jobs ao centro de pesquisa da Xerox na Califórnia em 1979, quando ele se dá conta de que a companhia estava "sentada sobre uma mina de ouro" (em suas palavras), é uma recorrente e fundamental.

Principalmente porque Jobs se apropria de algumas ideias da Xerox. Foi durante essa visita, ele diria mais tarde, que pôde perceber "qual seria o futuro da computação". No filme, essa epifania parece ter ocorrido antes, numa viagem de ácido lisérgico.

GAROTO-PROPAGANDA

Ashton Kutcher não tem a habilidade de alguns atores para superar um material fraco ou talvez não tenha recebido (ou não se permitiu receber) orientações do diretor.

A tendência de Kutcher de abarcar cenas emocionais com um pequeno e vaidoso sorriso é particularmente infeliz, porque ele não ajuda e só nos remete à sua carreira como garoto-propaganda de câmeras digitais.

Os realizadores nunca encontraram um modo de percorrer "as paixões, o perfeccionismo, os demônios, os desejos, a veia artística, os desvairos e a obsessão por controle" que Walter Isaacson descreve em "Steve Jobs", biografia publicada em 2011.

A teoria do grande homem (que tenta explicar o curso da história a partir da influência de indivíduos singulares), reciclada neste filme, é inevitavelmente insatisfatória, ainda mais por apresentar um retrato opaco de uma figura central como Jobs.


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