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'Opinião' volta para abrir programação sobre ditadura

Dirigido por Boal, espetáculo de 1964 com Nara Leão marcou o início da resistência cultural ao golpe militar

NELSON DE SÁ DE SÃO PAULO

"Era o início de uma tentativa de resistência. Na impossibilidade de outras, a resistência cultural. O Opinião' teve essa marca, fundamentalmente. E foi, do ponto de vista teatral, original." O relato é de Janio de Freitas, colunista da Folha, sobre o espetáculo que abriu a reação das artes à ditadura militar.

"Opinião", escrito por Oduvaldo Vianna Filho e outros, dirigido por Augusto Boal e interpretado por Nara Leão, Zé Keti e João do Vale, estreou em 11 de dezembro de 1964. Janio fez as fotos dos ensaios, uma delas usada na capa do disco "Opinião de Nara", lançado semanas antes.

Uma nova versão de "Opinião" será apresentada amanhã, também no Rio, abrindo a programação do Instituto Moreira Salles sobre os 50 anos do golpe. A cantora Joyce e o grupo Casuarina vão "reviver" o espetáculo.

E Sérgio Cabral, biógrafo de Nara (1942-1989), vai contar histórias do original. Segundo ele, "os atores eram também personagens, a ideia era mostrar o que havia de comum entre a mocinha da zona sul, um personagem dos subúrbios e um nordestino".

Nara, que havia rompido com a bossa nova, dizia no palco: "Não acho que, porque vivo em Copacabana, só possa cantar determinado tipo de música. Quero cantar todas as músicas que ajudem a gente a ser mais brasileira, a querer ser mais livre".

"Opinião" foi sucesso de público, somando 100 mil espectadores, e de crítica. Yan Michalski, crítico teatral no "Jornal do Brasil", ficou "impressionado" com "seu material vocal e sua técnica", mas também com a "presença cênica excepcionalmente forte de Nara como atriz".

Já José Ramos Tinhorão, no "Diário Carioca", criticou a "apropriação da cultura popular pela classe média". Ouvido agora, mantém a opinião de que "era aquele grupinho da classe média, teatrinho de bolso, Arena conta isso, conta aquilo. Essa esquerda festiva não mudava a realidade do Brasil, como não mudou".

Cabral, em parte, concorda. "Se não foram inteiramente bem-sucedidos na pretensão de mudar o país, mudaram, sem dúvida, o teatro musical brasileiro. Era algo inteiramente novo, e seria difícil dizer quem mais inovou, se autores ou o diretor."

As críticas mais agressivas foram de Sérgio Bittencourt, filho de Jacob do Bandolim que publicava no "Correio da Manhã", maior jornal do país, textos como "a desafinação da voz [de Nara] é a inconsistência da voz de certa camarilha". Segundo Janio, "ele era um cara muito de direita e fez sempre, no que escreveu, o jogo da ditadura".

"Opinião" foi também um dos primeiros alvos de grupos ligados ao regime. Dois dias após abrir, o Teatro de Arena em Copacabana foi pichado com palavrões e imagens de foice e martelo. "Houve noites", conta Cabral, em que as apresentações eram interrompidas por "pessoas que passavam o tempo todo provocando os artistas".

Mas desde a estreia o espetáculo "lotou quase todas as noites, esteve sempre cheio, muita gente foi ver muitas vezes", diz Janio. "Porque era realmente agradável de ver, independente do sentido político. Era muito bom."


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