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Stylist brasileiro ganha obra fotográfica
No livro 'Moda é F#%@', editoriais e campanhas de Paulo Martinez traduzem identidade do estilo nacional
Índios, erotismo e cultura popular são obsessões do trabalho do artista; profissionais de moda assinam textos
"Falar de moda, se relacionar com as pessoas importantes da moda', todo esse entorno para ele é um aborrecimento." O depoimento de Paulo Borges, diretor da São Paulo Fashion Week, é um dos que dezenas de profissionais escreveram para desnudar Paulo Martinez no livro "Moda é F#%@".
O stylist, ou editor de moda, que para muitos é o mais influente do Brasil --afinal, é dele a maioria da "arte final" dos looks desfilados no evento de moda paulistano--, se incomoda facilmente com perguntas sobre as engrenagens do seu ofício.
"Que chatice falar de economia, história, crise... Vamos falar do meu livro?", disse à reportagem, que tentava entender o momento atual da indústria e sua influência nas imagens de moda.
Os 33 anos de carreira compilados no livro de 336 páginas, que tem curadoria de Graziela Peres e Renata Mein, revelam a evolução do estilo nacional por meio de campanhas e editoriais.
Há fotos da extinta revista "Moda Brasil", da "Elle", da "Made in Brazil" e da "Vogue", onde Martinez trabalhou como braço direito de Regina Guerreiro, uma das figuras mais importantes da moda nacional.
Os índios, o erotismo e a cultura popular brasileira presentes no trabalho do "tio Paulo", como é chamado por tops como Carol Trentini, Ana Cláudia Michels e Carol Ribeiro, são compartilhados por fotógrafos da alcunha de Bob Wolfenson, Gui Paganini e Fábio Bartelt.
"Não há uma cronologia. O livro foi pensado com base em minhas obsessões, que foram divididas em blocos", explica Paulo Martinez. A maior dessas obsessões, talvez, seja a de traduzir em imagens e roupas seu olhar sobre a identidade de moda brasileira.
"Já percebeu que as revistas colocam peles no mês de fevereiro? É um absurdo. Há uma mania de acompanhar a cartilha que as revistas gringas' pregam e mostram como sendo tendência, uma palavra que, aliás, não suporto", diz ele.
COLÔNIA
Não faltam críticas ao consumidor da elite nacional. "Se tiver uma saia [Alexandre] Herchcovitch e uma Dolce & Gabbana, a mulherzinha vai lá e compra a da [grife] italiana. Somos totalmente colonizados nesse sentido."
E se a moda é "foda" --"pelos baixos cachês, pelas blogueiras e pela crítica inexistente no Brasil"--, Martinez tenta combater a pasteurização da imagem em seu projeto mais autoral, a revista trimestral "ffwMag!".
São os editoriais da publicação do grupo Luminosidade, que controla as semanas de moda mais importantes do Brasil, que dão gás à obra.
Editoriais importantes --em que o stylist vestiu bonecos gigantes do Carnaval de Olinda com roupas de grife ou os do especial "Norte", com direito a uma "Santa Ceia" fashion-- merecem ser vistos mais de uma vez.
MODA É F#%@
AUTOR Paulo Martinez
EDITORA Luste Editores
QUANTO R$ 85 (336 págs.)