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Crítica - Musical
'Grande Circo Místico', mesmo irregular, toca memória afetiva
NO PRIMEIRO ATO ESTÃO AS CANÇÕES MAIS CONHECIDAS DO PÚBLICO, COMO A BONITA 'BEATRIZ', A FOFA 'CIRANDA DA BAILARINA' E A MÚSICA QUE ABRE O MUSICAL, 'NA CARREIRA', QUE CHICO RETOMOU EM SUA TURNÊ MAIS RECENTE
THALES DE MENEZES EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA""O Grande Circo Místico", o álbum, é talvez o último disco fundamental da carreira de Chico Buarque, lançado em 1983, com músicas que ele e Edu Lobo compuseram para um espetáculo do Ballet Teatro Guaíra no ano anterior.
"O Grande Circo Místico", musical em cartaz no novo Theatro Net, tenta apresentar um resultado à altura da memória afetiva de quem gostou do disco ou do balé. E o resultado é bom.
São trabalhos bem diferentes, ligados pelo poema "O Grande Circo Místico", do carioca Jorge de Lima (1893-1953), que ele publicou no livro "A Túnica Inconsútil", em 1938. E, claro, as canções.
Newton Moreno e Alessandro Toller criaram o texto que transforma uma trilha sonora de menos de 50 minutos em uma montagem de duas horas e meia (mais 15 minutos de intervalo).
O diretor João Fonseca, que assinou também o recente musical de sucesso "Tim Maia", tem uma história de paixão entre o médico Frederico (Gabriel Stauffer) e a bailarina Beatriz (Letícia Colin) que será conduzida do mundo lúdico do circo à violência da guerra.
É no primeiro e mais longo dos dois atos que a encenação mostra mais vigor. Há um encantamento evidente da plateia com o cenário de circo. Enquanto Frederico e Beatriz se aproximam, os coadjuvantes da trupe têm oportunidade de exibir habilidades de contorcionismo, acrobacias e palhaçadas.
Também no primeiro ato estão as canções mais conhecidas do público, como a bonita "Beatriz", a fofa "Ciranda da Bailarina" e a música que abre o musical, "Na Carreira", que Chico retomou em sua turnê mais recente.
No segundo ato, com os amantes separados --Frederico foi para a guerra e o circo de Beatriz se desmantela--, a narrativa se arrasta em idas e vindas de pouca inventidade, centrada no destino das filhas gêmeas dos amantes.
Figurinos, cenografia e iluminação beiram o impecável, mas a falta de momentos de destaque na parte final impede o arrebatamento da plateia.
Há deslizes vocais, entre perdoáveis e comprometedores, em um elenco desigual. Quem rouba a cena é Fernando Eiras, como o administrador do circo, que carrega a transformação mais difícil em cena, cada vez mais enlouquecido pela guerra.
Os altos e baixos não impedem a satisfação da plateia com a entrega do elenco. E, claro, as músicas.