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'Caráter mimado' dos dias de hoje é tema de Pondé em livro

Autor parte de Nietzsche para tentar explicar comportamento contemporâneo

Em obra confessional, colunista da Folha diz que pessoas buscam nas garantias sociais uma ilusão de segurança

MORRIS KACHANI DE SÃO PAULO

"A esquerda só atrapalha nosso esforço de compreensão das contradições do capitalismo, justamente porque ela é infantil e mitológica em sua visão de mundo".

"O homem contemporâneo é, talvez, o mais covarde que já caminhou sobre a Terra."

"Mulheres feias e chatas estão ganhando a guerra contra as felizes e belas."

Goste-se ou não delas, as provocações de Luiz Felipe Pondé, doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo e pela Universidade de Paris 8, e colunista da Folha, convidam a debates acalorados sobre as ideias e os valores do cotidiano atual.

O autor, que já ocupou o topo das listas dos mais vendidos durante semanas com seu "Guia Politicamente Incorreto da Filosofia" (editora Leya), agora lança "A Era do Ressentimento".

No novo livro, que também sai pela Leya, Pondé se põe a esmiuçar o que define como "ressentimento": "É achar que todos deveriam te amar mais do que amam, achar que todo mundo deveria reconhecer em você grandes valores que você não tem".

Pondé parte do conceito de ressentimento formulado por Nietzsche como chave de análise do comportamento contemporâneo. O Édipo de Freud acaba suplantado por Narciso.

"Acho que o caráter mimado de nossa época é fruto do ressentimento que se depreendeu de Deus, com sua morte', e se alocou na busca de garantias sociais e afetivas, gerando uma coleção de comportamentos que negam nosso medo a favor de uma ilusão de segurança", diz ele.

"Todos querem viver como americanos, mas com garantias de suecos. Não dá. O mundo explode."

E quanto ao escritor --seria Pondé um ressentido?

"O ressentimento é universal porque brota da condição humana, de uma raça de abandonados, como dizia Horkheimer. A questão é reconhecê-lo e iluminá-lo", diz.

"No meu caso, toda vez que alguém me confunde com um direitista autoritário (por má-fé ou ignorância), me ressinto do fato de ter que explicar o óbvio o tempo todo. Como casei muito cedo e fui pai aos 24 anos, nunca tive tempo de cultivar o ressentimento."

FUGA

No livro, o autor diz que "foge das modas de um mundo viciado em seus ridículos fantasmas de sucesso".

Indagado a respeito de como faz isso, responde: "Escrevendo, indo pro mato. Sou por natureza alguém muito concreto e tomado pelas tarefas do dia a dia".

"Entretanto, a vontade de fuga é um misto de estoicismo (o mundo engana) e romantismo (mal-estar com a modernidade). Não há muito para onde fugir porque todo lugar tem IPTU", acrescenta.

Numa obra praticamente confessional, para onde mira, o autor desfia sua já conhecida verve. Todas as frases selecionadas no começo desta reportagem fazem parte do novo livro.

Até que ponto as provocações fazem parte de um "marketing pessoal" ou, digamos, do prazer pela polêmica, é outra pergunta que foi feita ao filósofo.

Viveria Pondé de acordo com o que escreve? "Nunca me preocupo em ser um guru existencial. Trabalho muito, corro atrás de resolver problemas, como todo o mundo."

"Sou um romântico, na realidade, uma espécie que se sente continuamente no exílio. Minha vida pessoal é tomada por família, pizza, charutos e casa no interior. Gosto do silêncio e de lugares vazios", afirma.


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