Crítica / Rock

Primeiro álbum solo é passeio por possibilidades da guitarra

De alguns anos para cá, Jack White ronda o topo de eleições de melhores guitarristas da história. Uma revista o deixou atrás apenas de Jimi Hendrix, outra indicou que só Eric Clapton foi melhor, e por aí vai.

Mas muita gente ainda torce o nariz para essa louvação a White. Para os céticos, recomenda-se uma boa dose de "Blunderbuss".

Mais do que um delicioso disco de rock, o primeiro álbum solo de White é um passeio por quase tudo o que se pode fazer com a guitarra.

Parece cada vez mais claro que criar algo novo não cabe mais na trajetória do rock depois de quase 60 anos.

Se achar as melhores referências para retrabalhá-las é o que restou, o maior talento de White talvez seja acertar em cheio nas suas.

Quando quer soar blues, White lembra os timbres de Buddy Guy. Quando quer sacolejar um pouco a canção, bebe na fonte de Marc Bolan. Mais dançante ainda, parece alguma coisa de Prince. E quando o rock é rock mesmo, Jimmy Page vem guiar os dedos do rapaz.

Tantas referências claras poderiam fazer um disco pós-moderno, mas sem alma. Aí pesa na balança a carreira de White em seus vários projetos: White Stripes, Racounters e The Dead Weather.

Nesses trabalhos, White transitou com tanta desenvoltura entre o rock negro americano e o rock branco inglês dos pubs que, sem pressa, criou um estilo próprio. Fez sua guitarra multifacetada conversar com seu vocal lamurioso e meio indolente.

É esse estilo Jack White que costura as referências de "Blunderbuss". Do rock básico bem anos 1960 de "Missing Pieces" à harmonia complexa de "Hypocritical Kiss", ele faz sempre a escolha certa para amarrar cada canção. Virtuoso, sem dúvida, mas enxuto, exato. Dá a impressão que o disco poderia ter sido gravado em quatro canais, tal a simplicidade dos arranjos.

Vamos deixar Jack White perto de Hendrix e Clapton. É o lugar dele.