Diário de Medellín
O mapa da cultura
"Medallo" de todas as telas
Cenário de séries, terra de Escobar se renova
Quem assistiu à série "Narcos" (Netflix) ou a que deu origem à "escobarmania", "El Patrón del Mal", da TV Caracol (também disponível no serviço de streaming), reconhecerá as ladeiras, as casas modestas coloridas e o trânsito intenso que ainda hoje existem em Medellín.
O que sumiu desde os tempos em que se situa a ação desses programas, os anos 1980/90, foi a violência desenfreada. Naquela época, Medellín era a cidade mais perigosa das Américas e uma das mais sangrentas do mundo, com uma taxa de mais de 400 homicídios por 100 mil habitantes.
Hoje, esse número ainda é alto (38 por 100 mil), mas a cidade de 2,5 milhões de habitantes deu a volta por cima. Completa uma década de inovações urbanísticas que incluem o "metrocable" e as gigantescas escadas rolantes que conectam a periferia ao centro, além do circuito de bibliotecas.
A queda nos assassinatos trouxe de volta o investimento estrangeiro a "Medallo" –como os habitantes chamam a cidade, que ganhou torres de escritórios e responde a 11% da economia do país.
A mais recente novidade é o novo espaço do Museu de Arte Moderna, que ampliou em 7.000 m2 a área do recinto, instalado numa velha siderúrgica, e deu à instituição um auditório e salão de eventos. A arrojada construção se compõe de caixas unidas por escadas abertas e terraços, distribuídas em cinco andares. "Assim são as casinhas que cobrem as montanhas do vale onde está Medellín", conta o escritor Héctor Abad Faciolince ("A Ausência que Seremos"), hoje orgulhoso de sua cidade natal.
Para o ano que vem, está prevista a inauguração do parque Los Ríos, conjunto de trilhas para pedestres e bicicletas ao longo de 32 quilômetros do rio Medellín, que corta toda a cidade.
A má notícia é que não há sinais de que o narcotráfico tenha deixado de atuar totalmente. Já não há mais chefões, mas minicartéis mantêm viva as rotas que levam a cocaína para os EUA via México.
O efeito mais grave do fim da guerra ao cartel de Medellín é que os paramilitares –guerrilhas civis que atuaram com o Exército– desmobilizados também entraram para o crime. Segundo relatório do Insight Crime, sua terrível gangue, os Urabeños, responde agora pela ligação das rotas da droga ao sul do continente, via Argentina, para a Europa (por mar).
IMPULSO DE CINEMA
Premiado neste ano em Cannes e em San Sebastián, o filme "La Tierra y la Sombra", de César Augusto Acevedo, irá ao Goya espanhol e foi indicado pela Colômbia para tentar vaga no Oscar.
A produção retrata a vida dos "desplazados" –são 5 milhões de pessoas que tiveram de abandonar suas casas por conta do conflito entre Exército e guerrilhas nas últimas cinco décadas, número que faz da Colômbia um dos países com mais imigrantes internos do mundo, segundo a ONU.
O filme é um representante da "buena onda" colombiana nas telas: a indústria local se vê impelida por uma nova legislação de subsídio audiovisual e comemora a boa receptividade da crítica internacional a filmes como "Manos Sucias", "Viva La Música" e "Los Hongos".
Outra lei de incentivo para a produção estrangeira realizada no país, usando produtoras locais, fez da Colômbia cenário de filmes estrelados por Tom Cruise, Antonio Banderas e Robert Pattinson.
CHEGARAM
Apesar de ter vivido mais de 45 anos no México, Fernando Vallejo continua sendo observador atencioso e extremamente crítico da cidade onde nasceu. No novo livro, "Llegaron", se mantém na autoficção e narra uma viagem de retorno até a fazenda Santa Anita, onde cresceu. Como sempre, o autor de "A Virgem dos Sicários" ataca os pobres, a religião, a própria família e as vítimas da guerra das Forças Armadas contra as Farc.
PRÊMIO GABO
No dia 30, os troféus Gabriel García Márquez, da Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano, foram para as mãos da brasileira Dorrit Harazim (categoria excelência), dos argentinos Javier Sinay (texto) e Laura Zommer (inovação), do chileno Tomás Munita e da mexicana Carmén Aristégui e sua equipe (cobertura). A prestigiada jornalista, demitida após denunciar corrupção no governo de Enrique Peña Nieto, anunciou em Medellín que irá à Corte Interamericana de Direitos Humanos contra o presidente.