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REVOLUÇÃO MEXICANA NA CAATINGA
Capas das edições estrangeiras da obra-prima de Euclides da Cunha ajudam a entender sua recepção em outras línguas e culturas
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especial para a Folha
Os Sertões" teve diversas traduções, nem todas
na íntegra e algumas delas sem ter tomado por
base o original português. Os títulos que receberam e suas capas acabaram dando um perfil
de recepção da obra em cada país.
Das cinco edições argentinas, país onde pela primeira
vez foi traduzido "Os Sertões", 36 anos depois da primeira edição brasileira, quatro delas reproduzem a versão de Benjamin de Garay. A edição de 1942 da editorial
Claridad coloca como subtítulo ao livro "la tragedia del
hombre derrotado por el medio". O sertanejo é representado por um mestiço, com feições indígenas, de lenço no pescoço e chapéu, mais parecendo um peão dos
pampas argentinos.
A última edição argentina, de 1982, da editorial Plus
Ultra, publicada graças ao apoio da embaixada brasileira, modernizou a capa com uma xilogravura de Walderedo Gonçalves representando Antonio Conselheiro
como uma espécie de emissário do apocalipse, cercado
por sete candelabros, com uma longa língua, provavelmente relacionada com a ação missionária do líder de
Canudos. No ano anterior saiu a edição venezuelana
que fez parte da Biblioteca Ayacucho com prólogo, notas e cronologia de Walnice Nogueira Galvão e tradução
de Estela dos Santos. Na capa, um cangaceiro estilizado,
desenhado por Juan Fresán.
A edição norte-americana é de 1944, no auge da política de boa vizinhança do presidente Franklin Roosevelt
sob os auspícios da Universidade de Chicago, com tradução de Samuel Putnam e uma introdução de Afrânio
Peixoto intitulada "O Maior Livro do Brasil". O livro
saiu com o título de "Rebellion in the Backlands", acrescido de uma chamada: "Brazil's greatest classic".
Na ilustração temos três combatentes a cavalo, armados; um deles com um sombrero. Cactos, montanhas e
um grosso rolo de fumaça ao fundo dão uma imagem
típica da Revolução Mexicana, associando o imaginário
do cinema americano com o muralismo de Diego Rivera. A edição americana teve várias impressões, mas
também saiu três anos depois uma edição inglesa com a
mesma tradução e com o título ligeiramente modificado: "Revolt in the Backlands".
Na Suécia a tradução é de 1945 e de autoria de Thomas
Henry Warburton, que usou provavelmente a edição
norte-americana. Na capa, três camponeses bem vestidos e com longas botas. Três anos depois foi publicada a
edição dinamarquesa traduzida por Richard Wagner
Hansen: é a mais bela, com excelentes ilustrações coloridas de Ib Andersen, que acabou também sendo reproduzida em preto-e-branco na edição brasileira do cinquentenário, em 1952. Mesmo assim, na capa temos a
reprodução de uma igreja em Salvador, isso quando a
guerra foi travada a centenas de quilômetros da capital
baiana. Em 1954 foi publicada a edição holandesa com
tradução de M. de Jong, diretamente da edição norte-americana.
Em 2001 editou-se nova tradução holandesa, de August Willemsen, utilizando-se desta vez as edições brasileiras de 1968 e 1982. A capa mostra um sertanejo
morto ao lado de cacto com um leve tom de realismo
socialista. A primeira tradução francesa é de 1947, de Sereth Neu, com um prefácio de Afrânio Peixoto e o título
"Les Terres de Canudos"; a segunda edição, com nova
tradução, de Jorge Coli e Antoine Seel, é de 1993: "Hautes Terres (la Guerre de Canudos)".
A versão italiana é de Cornelio Bisello e saiu em 1953
("Brasile Ignoto"), com uma capa sóbria e elegante (assim como a edição alemã com tradução de Berthold
Zilly, considerada pelos especialistas como a melhor
versão de "Os Sertões"). Em 1959, ano do cinquentenário da morte de Euclides da Cunha e comemorativo dos
dez anos da Revolução Chinesa, foi publicada a versão
chinesa com o título "Terra do Interior", traduzida por
Pei Chin em 597 páginas. Na capa temos um sertanejo a
cavalo observando o semi-árido.
Mas, sem falso ufanismo, nenhuma delas foi tão bem
ilustrada quanto a 27ª edição, com os desenhos de Aldemir Martins.
(MARCO ANTONIO VILLA)
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