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Acordo para deficit dos EUA deve fracassar

A 2 dias do prazo final, comissão do Congresso não consegue consenso para cortar US$ 1,2 trilhão do Orçamento

Com impasse, corte será automático em Defesa e programas domésticos, o que pode agravar crise e ainda imagem do país

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Sem nada além de discórdia para apresentar a dois dias de seu prazo final, a supercomissão do Congresso dos Estados Unidos encarregada de desenhar o pacote fiscal para tirar o país do vermelho e salvar a credibilidade de Washington pode anunciar ainda hoje o fracasso de sua missão.

Caso se confirme, serão detonados cortes automáticos na Defesa e no caixa de programas domésticos que, especialistas alertam, podem agravar a crise econômica no país e comprometer seu status no exterior.

Além disso, deve cair de vez a confiança no sistema político dos EUA, abalada na negociação para subir o teto da dívida federal ao ponto de um inédito rebaixamento do país por uma agência que classifica risco, em agosto.

O governo americano deve US$ 15 trilhões. É mais que o PIB do país, e o valor sobe.

"Um acordo, a esta altura, é altamente improvável", diz Isabel Sawhill, especialista em Orçamento.

"Se fizerem algo, será algo pequeno", afirmou à Folha.

Segundo ela, é preciso prorrogar os cortes de impostos na folha de pagamento e os benefícios aos desempregados, que expiram neste ano e dependem do pacote fiscal para continuar. "Sem isso, o PIB cresceria um ponto percentual a menos, segundo estimativas independentes."

O grupo bipartidário de deputados e senadores foi incumbido de cortar US$ 1,2 trilhão (R$ 2,1 trilhões) no Orçamento em dez anos.

A missão selou o acordo do Congresso em agosto para subir o teto da dívida federal e evitar um calote histórico.

EXPECTATIVA EM BAIXA

Mas as expectativas, antes altas, só murcharam. Ontem, uma enxurrada de relatos de políticos à imprensa local e trocas de acusações em programas de TV expuseram o iminente fracasso do grupo.

Segundo esses relatos, a supercomissão não se reúne há mais de duas semanas, não tem proposta e estuda soltar hoje um comunicado enterrando sua tarefa.

A semana curta aumenta a pressão. O prazo final para a proposta é véspera do feriado de Ação de Graças.

O anúncio na última hora deixaria o país, em pleno feriado, sem responder à reação de mercados e políticos mundo afora (e ao fantasma de um novo rebaixamento pelas agências de risco).

No centro da discórdia, continua o impasse que retardou a negociação sobre a dívida, na qual já haviam sido cortados US$ 917 bilhões: a insistência dos republicanos em não encerrar a isenção fiscal para quem ganha mais de US$ 250 mil ao ano.

Pesa ainda, embora menos, a resistência dos democratas em cortar mais a fundo os benefícios sociais.

Sem o pacote, serão cortados automaticamente US$ 1,2 trilhão a partir de janeiro de 2013. Metade desse valor recai na Defesa; o resto, em programas domésticos.

Sawhill espera propostas consensuais para pequenos cortes nos subsídios agrícolas e mudanças no índice inflacionário que ajusta o Orçamento e os impostos, e só.

Para a especialista, haverá grande impacto sobre a competitividade, com reduções em treinamento, pesquisa, educação e infraestrutura.

"Muita gente espera que o presidente rescinda os cortes automáticos, mas ele já disse ser contra. O que não está claro ainda é se ele vetaria uma ação [do Congresso] para anular tal determinação."

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