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Julia Sweig

A política externa de Marco Rubio

Com a ascensão de Rubio, é possível que latino-americanos em breve se queixem de atenção demais

Poderá o senador Marco Rubio entregar a Casa Branca ao Partido Republicano em novembro próximo? Mitt Romney não vai conquistá-la sem o Estado de Rubio, a Flórida.

A biografia de Rubio (cubano-americano), sua religiosidade flexível (antes mórmon, hoje católico), sua juventude (40 anos) e orientação política (Tea Party) podem ajudar a explicar sua potencial viabilidade como candidato a vice.

Embora tenha pouco apoio entre o eleitorado não hispânico cubano da Flórida, suas visões até certo ponto construtivas, embora ainda tímidas, sobre a imigração podem proporcionar a hispânicos fora da Flórida, que hoje favorecem Obama com vantagem de 40 pontos, algo a apoiar entre os republicanos.

Em política externa, Rubio é mais híbrido. A partir do cargo que ocupa no Comitê de Relações Exteriores do Senado, ele está reforçando sua posição de queridinho da ala neoconservadora do seu partido.

Rubio projeta um misto de unilateralismo do tipo Cheney-Rumsfeld com uma dose saudável de consciência humanitária ao estilo Clinton-Obama. Com relação ao Irã, ele pede o uso de força militar, mas apenas a partir do momento em que sanções e negociações fracassarem.

No caso da Síria, defende armar a oposição para derrubar Assad, principalmente para enfraquecer o Irã. Sobre a segurança de Israel, parece não haver divergências com as posições de Netanyahu ou Obama.

Rubio acha também que os EUA deveriam ter liderado a intervenção na Líbia mais cedo.

Ele diverge de Obama em tom, é claro. Mas no conteúdo, pelo menos por enquanto, sua diferença principal tem relação com o valor da legitimidade internacional e a necessidade ou falta de necessidade dela para que os EUA conduzam sua política externa dentro das limitações das instituições internacionais. ONU ou OMC, por exemplo, podem ser necessárias, mas não bastam para promover os interesses americanos.

Como a maioria dos gurus da política externa nos dois partidos, Rubio crê que os EUA continuam a ser o país indispensável. A emergência de novas potências regionais requer que os EUA as "contrabalancem".

Nas Américas, seu discurso ecoa tendência pré-Obama de derramar amor e atenção sobre os melhores amigos e demonizar os outros. Você se lembra de quando o presidente Clinton outorgou à Argentina o título de aliado "não da Otan"?

Rubio outorga a estrela de ouro a México, Colômbia e Peru. A Venezuela e outros países da Alba são antidemocráticos, antiamericanos e condescendentes com o Irã.

Num discurso recente, a potência emergente não identificada nas Américas que precisaria ser contrabalançada não era o Canadá -ficou claro que era o Brasil.

O discurso de "aliados e inimigos" condiz estreitamente com o pendor de sua base pela polarização na frente doméstica. Ainda ouço latino-americanos se queixarem de receber pouca atenção de Washington. Com a ascensão de Rubio, é possível que em breve eles se queixem de atenção demais.

Romney se posicionará como representante da afirmação forte, unilateral da hegemonia dos EUA nas Américas e globalmente. Rubio reforça a mensagem. Mas os dois erram na interpretação do desejo do povo americano e do resto do mundo de revisitar uma era passada.

AMANHÃ EM MUNDO
Clóvis Rossi

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